Politica

Novo ministro defendeu educação "com dor"

Correio Braziliense
postado em 12/07/2020 04:10
Ribeiro: existencialismo ensinou sexo livre nas universidades

O novo ministro da Educação, Milton Ribeiro, está às voltas em explicar à opinião pública declarações anteriores à nomeação para a Esplanada. Vídeos com declarações antigas provocaram reação nas redes sociais. Em publicações diferentes, o evangélico defende o uso de castigos físicos para educar crianças, diz que “sexo sem limites” é ensinado em universidades brasileiras e justifica um feminicídio de uma adolescente a “trejeitos” da vítima e a “paixão louca” do assassino. Algumas gravações de Ribeiro foram apagadas ontem, mas cópias dos vídeos originais circulam nas redes sociais. Há vários discursos controversos.

Em um vídeo de novembro de 2018, gravado em um culto da Igreja Presbiteriana, o pastor diz que o existencialismo — filosofia que coloca o indivíduo como centro do pensamento — contribui para “uma prática totalmente sem limites do sexo” e que isso é o que “estão ensinando na universidade”. Milton Ribeiro afirma que a revolução sexual dos anos 1960, que teve a pílula anticoncepcional como marco, trouxe muitas dificuldades. “Porque agora a gravidez indesejada não é mais um risco e, para contribuir ainda mais em termos negativos para uma prática totalmente sem limites do sexo, veio uma questão filosófica do existencialismo, em que o momento é o que importa”, diz o pastor, em seguida. “Não importa se é A, B, se é homem, se é mulher, se é esse, se é aquele, se é velho, se é novo, não interessa. O que interessa é aquele momento. E tem mais: se for feito com amor, tudo vale”, completa, antes de concluir: “Isso que estão ensinando para os nossos filhos na universidade”. O Correio entrou em contato com o MEC, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.

Ao tecer generalizações desabonadoras sobre universidades, Milton Ribeiro repete os ataques do antecessor no MEC, Abraham Weintraub. O ex-ministro referiu-se às universidades federais como um “antro de balbúrdia” e de “maconheiros”. Ele também ameaçou retirar recursos de faculdades públicas de filosofia e sociologia e lançou medida provisória para que nomeasse reitores de universidades federais durante a pandemia de covid-19. O texto foi devolvido pelo Senado, por considerá-lo inconstitucional.

Em outro vídeo, intitulado “A vara da disciplina”, publicado há quatro anos pela Igreja Presbiteriana Jardim de Oração, o ministro defende o uso de castigos físicos para educar crianças: “A correção é necessária pela cura. Não vai ser obtido por meios justos e métodos suaves. Talvez uma porcentagem muito pequena de criança precoce, superdotada, é que vai entender o seu argumento. Deve haver rigor, severidade. E vou dar um passo a mais, talvez algumas mães até fiquem com raiva de mim: deve sentir dor”, disse Ribeiro.

Na mesma fala, Ribeiro completa: “Pastor, o senhor está sendo muito antipedagógico. Eu amo as crianças da minha igreja”. A declaração do novo ministro da Educação foi feita dois anos após a sanção da Lei da Palmada, que, desde 2014, estabelece que crianças sejam educadas e cuidadas sem o uso de castigo físico ou de “tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação”.

Em outra publicação, em uma participação no programa Ação e Reação em 2013, Milton Ribeiro justificou como sendo “uma paixão louca” um assassinato de uma adolescente de 17 anos dentro da escola por um homem de 33 anos que desejava namorá-la. “Acho que esse homem foi acometido por uma loucura mesmo e confundiu paixão com amor. São coisas totalmente diferentes. Ele, naturalmente movido por paixão, paixão é louca mesmo, ele então entrou, cometeu esse ato louco, marcando a vida dele e a vida de toda família. Triste”, disse.

Na ocasião, o pastor ainda levantou a hipótese de que a adolescente assassinada “pode ter dado sinais a ele que estava apaixonada ou coisa do tipo”. “E o cara, o pedófilo, está pensando que a criança está querendo alguma coisa com ele, mas o que ela está fazendo é uma replicação daquilo que ela vê de maneira indevida na TV aberta”, completou Ribeiro. Ao criticar cenas de nudez e sexo na televisão aberta, o pastor disse que "trejeitos" supostamente aprendidos por crianças pela televisão são “porta aberta para tendências pedófilas”.

Natural de Santos, Milton Ribeiro, de 62 anos, tem graduação em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Sul e em Direito, pelo Instituto Toledo de Ensino, com mestrado em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo. Também já foi reitor em exercício e vice-reitor da Universidade Mackenzie, em São Paulo.


Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags