Correio Braziliense
postado em 14/07/2020 12:12
Em um momento em que o desmatamento do país atinge níveis elevadíssimos e já supera os dados de 2019, o ex-ministro da Fazenda e de Meio Ambiente Rubens Ricupero demonstra preocupação com a demissão de Lubia Vinhas, coordenadora-geral de Observação da Terra do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Para ele, o país está retrocedendo na área ambiental de uma forma que poderá ser muito difícil reverter os danos que estão sendo causados pelo governo de Jair Bolsonaro e, mesmo se houver desmatamento zero como o prometido pelo vice-presidente, Hamilton Mourão, "o ano já está perdido". “Acho muito difícil depois de tudo o que tem acontecido manter alguma ilusão sobre a posição deste governo. Lembrando que, ainda ontem, foi demitida a coordenadora do Inpe responsável pelo monitoramento do desmatamento e ainda há a demissão de dois fiscalizadores do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) que cumpriam o dever deles contra mineradores ilegais na Amazônia, como a lei prevê”, lamentou Ricupero, nesta terça-feira (14/07), durante lançamento da iniciativa Convergência pelo Brasil. Ele criticou o vídeo da a fatídica reunião de 22 de abril onde o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sugeriu para “passar a boiada” enquanto a imprensa estava preocupada com a covid-19.
“A essa altura dos acontecimentos é preciso ter uma ingenuidade limitada para acreditar (em mudanças neste governo)”, afirmou o ex-ministro que, junto com 16 ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central, assinaram uma carta à sociedade defendendo uma economia mais focada em questões socioambientais e com preocupação de redução das emissões de carbono como estratégia para a retomada do crescimento sustentável do país.
O ex-ministro reforçou a urgência de o país se preocupar com a redução das emissões de carbono. Ele lembrou que os europeus já estão se preparando para criar barreiras tarifárias para precificar de produtos de países de países poluentes e que não protegem o meio ambiente. “Os europeus estão justamente discutindo essa questão da precificação do carbono e preparando uma tarifa de fronteira, que deverá ser adotada dentro de alguns meses, atingindo os países retardatários”, alertou. “Os produtos brasileiros, como soja e celulose, vão certamente ser atingidos com essa taxa”, emendou.
“Para inglês ver”
Na avaliação de Ricupero, as operações das Forças Armadas na Amazônia são “para inglês ver”, apesar das declarações do vice-presidente aos empresários e investidores de que o governo passará a defender desmatamento zero. Ele lembrou que existe uma “aliança com interesses escusos” do governo com grileiros e desmatadores ilegais. “Existe um problema de cumplicidade. São interesses nefastos, criminosos, de pessoas que recebem as equipes com armas. Acho muito difícil imaginar em uma melhora”, criticou. “As Forças Armadas não estão preparadas para essa função e, como uma diretora falou, já gastaram em um mês o que o Ibama gasta em um ano”, pontuou.
O diplomata reforçou que uma promessa de desmatamento zero nesse período em começa o período de secas na Amazônia praticamente uma utopia, porque, até junho, houve mais desmatamento do que em todo o ano de 2019. “Quem por essa área sabe que não há como ter desmatamento zero quando a destruição começa a acelerar nesses meses secos. E, ainda que o país consiga chegar ao desmatamento zero, o ano já está perdido”, lamentou.
Assim como Ricupero, assinaram a carta denominada “Convergência pelo Brasil” os ex-ministros Alexandre Tombini, Armínio Fraga, Eduardo Guardia, Fernando Henrique Cardoso, Gustavo Krause, Gustavo Loyola, Henrique Meirelles, Ilan Goldfajn, Joaquim Levy, Luiz Carlos Bresser-Pereira, Maílson da Nóbrega, Marcílio Marques Moreira, Nelson Barbosa, Pedro Malan, Persio Arida e Zélia Cardoso de Mello. A iniciativa tem o apoio do Instituto Clima e Sociedade (ICS) e do Instituto O Mundo Que Queremos. Na carta, os ex-ministros sugerem investimentos estratégicos para uma retomada da economia focada na sustentabilidade, com destaque na produção sustentável e com baixas emissões de carbono.
A diretora executiva do ICS, Ana Toni, destacou que a ideia não é ficar apenas nesse documento, mas promover debates em torno da importância das questões ambientais e seus impactos na economia. “Esse é o começo e haverá diversos desdobramentos com seminários com figuras internacionais e também pesquisas. Estamos lançando bolsas para economistas olharem especificamente em programas específicos”, afirmou.
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