O presidente Jair Bolsonaro defendeu, nesta segunda-feira (20/7), o uso de medicamentos sem a necessidade de seguir a bula (off label) — ou seja, usar um remédio para uma finalidade diferente daquela autorizada e prevista na bula do medicamento.
"É importante lembrar que o uso off label (fora da bula) de medicamentos é consagrado na medicina, desde que haja clara concordância do paciente. E que, sem a prática do off label, diversas doenças ainda estariam sem tratamento", escreveu o presidente ao compartilhar, nesta segunda, um texto da Associação Médica Brasileira publicado no domingo (19/).
- É importante lembrar que o uso off label (fora da bula) de medicamentos é consagrado na medicina, desde que haja clara concordância do paciente.
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- E que, sem a prática do off label, diversas doenças ainda estariam sem tratamento.
Nele, a associação fala sobre o uso da hidroxicloroquina em pacientes com covid-19, dizendo que a discussão foi politizada e que não existem estudos conclusivos sobre o remédio. A entidade afirma que é provável que o mundo chegue ao final da pandemia "sem evidências consistentes sobre tratamentos" e sobre "diversos outros aspectos próprios de uma nova enfermidade".
"Pois estudos adequados e robustos são caros e demorados. E estamos falando de uma medicação barata, que, portanto, não tem, nem terá financiamento da indústria que suporte os investimentos necessários para minimizar as incertezas", escreveu.
A associação pontuou: "Médicos, entidades, políticos, influenciadores e palpiteiros seguem monitorando estudos sobre o uso de hidroxicloroquina em pacientes acometidos pela Covid-19. Uns procurando provas de que se trata da salvação. Outros, de que é puro placebo. Ou pior: veneno (mesmo diante do fato de que os efeitos adversos são limitados e conhecidos há mais de cinco décadas). Muitos sairão da pandemia apequenados, principalmente médicos e entidades médicas que escolherem manipular a ciência para usá-la como arma no campo político-partidário", escreveu.
A entidade defendeu a autonomia do médico na prescrição de medicamentos e afirmou que "o derby [confronto, rivalidade] político em torno da hidroxicloroquina deixará um legado sombrio para a medicina brasileira, caso a autonomia do médico seja restringida, como querem os que pregam a proibição da prescrição da hidroxicloroquina".
Ao final do texto, a AMB falou sobre o uso "off label" de medicamento, trecho que foi citado pelo presidente. "Não se trata de apologia a este ou àquele fármaco. Trata-se de respeito aos padrões éticos e científicos construídos ao longo dos séculos. Não podemos permitir que ideologias e vaidades, de forma intempestiva, alimentadas pelos holofotes, nos façam regredir em práticas já tão respeitadas", escreveu.
A associação ainda completou: "Não se pode clamar por ciência e adotar posicionamentos embasados em ideologia ou partidarismo, ignorando práticas consolidadas na medicina. Isso é um crime contra a medicina, contra os pacientes e, sobretudo, contra a própria ciência."
Bolsonaro defensor da cloroquina
Há meses, o presidente prega o uso da hidroxicloroquina para pacientes com covid-19 - tanto casos leve quanto os graves, ainda que não haja comprovação científica sobre efeitos benéficos do medicamento para estes pacientes. O ex-ministro Nelson Teich, inclusive, saiu da pasta depois de menos de um mês por discordâncias com o presidente em relação ao protocolo de uso do medicamento.
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O ex-ministro Nelson Teich, inclusive, saiu da pasta depois de menos de um mês por discordâncias com o presidente em relação ao protocolo de uso do medicamento.
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