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Mandato do presidente nem chegou à metade e a corrida ao Palácio do Planalto está aberta. Além das legendas de esquerda, Bolsonaro deve enfrentar desafetos, como Doria e os ex-ministros Mandetta e Moro, e figuras de fora da política, como Huck

Correio Braziliense
postado em 26/07/2020 04:07
Mandato do presidente nem chegou à metade e a corrida ao Palácio do Planalto está aberta. Além das legendas de esquerda, Bolsonaro deve enfrentar desafetos, como Doria e os ex-ministros Mandetta e Moro, e figuras de fora da política, como Huck











A pouco mais de dois anos para a eleição presidencial de 2022, o cenário da campanha começa a se desenhar, com o surgimento de novos postulantes e a sinalização dos temas que devem dominar os debates. O presidente Jair Bolsonaro, para conseguir um novo mandato, deverá enfrentar candidaturas de ex-aliados —além dos nomes da oposição –– e cobranças sobre as principais mazelas de seu governo, como os números trágicos da pandemia do novo coronavírus.

Aos poucos, alguns atores com pretensões ao Palácio soltam balões de ensaio para avaliar a viabilidade de suas candidaturas. Como o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM), que anunciou, na última quinta-feira, a disponibilidade de se engajar na corrida presidencial –– na cabeça da chapa ou a vice numa coligação. O médico deixou o governo após divergências com Bolsonaro, que insiste na eficácia da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19 e é crítico ferrenho do isolamento social. Ao falar sobre suas pretensões eleitorais, Mandetta anunciou que deve lançar, em agosto, um livro contando seu trabalho no Ministério da Saúde durante a pandemia.

Nos últimos dias houve também rumores sobre uma possível chapa formada por Mandetta e o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, que deixou o governo acusando Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal para proteger filhos e amigos. Os dois ex-ministros eram os que desfrutavam da maior popularidade no governo e, ao saírem, lutam para manter vivo o apoio que setores da sociedade lhes deram.

No caso de Moro, se eventualmente for confirmado candidato ao Planalto, tem tudo para levar para os debates eleitorais o combate à corrupção e ao crime organizado, uma bandeira ainda dos tempos em que era juiz da Operação Lava-Jato, em Curitiba. Mesmo porque, em várias oportunidades, Moro lamentou que o assunto não tenha recebido a devida prioridade de Bolsonaro.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), também não esconde o desejo de trocar o Palácio dos Bandeirantes pelo do Planalto. Ao discurso da modernização da gestão e da eficiência, com inspiração na iniciativa privada, somará a gestão da pandemia para o debate eleitoral, com críticas à atuação do governo federal. Nesta seara, o tucano reforçou o time trazendo o ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde na gestão de Mandetta, João Gabbardo, para o posto de secretário-executivo do Centro de Contingência do combate ao coronavírus em São Paulo.

Divergência
Na oposição, a tendência é a continuação da divergência e da desunião que se tornou a marca dos partidos de esquerda desde a eleição de Dilma Rousseff. Uma frente com características de centro-esquerda já encontra problemas para se consolidar diante de pré-candidaturas declaradas, como as de Ciro Gomes (PDT) e de Flávio Dino (PCdoB), atual governador do Maranhão. Defensor da formação de uma ampla concertação de oposição, ele admitiu, em entrevista recente ao Correio, que não acredita que isso seja possível “em razão de mágoas e outros resquícios da eleição de 2018”. Dino, avaliado como um bom gestor e à frente do estado que paga o maior piso salarial de professor no país, pretende empunhar bandeiras como a educação e a importância do fortalecimento do Estado para o desenvolvimento.

O PT, nesse tabuleiro, continua uma incógnita, mergulhado em indefinições sobre o nome do candidato e possíveis alianças com outras siglas de oposição. A situação jurídica do ex-presidente Lula, por exemplo, é um dos fatores que prejudicam a definição, pois o petista foi condenado por um colegiado, em segunda instância, e, dessa forma, caiu nas malhas da Lei da Ficha Limpa.

Mas há ainda dois nomes de fora do cenário político formal que podem se somar ao cenário. Além do apresentador e empresário Luciano Huck, que ensaiou uma candidatura presidencial em 2018, mas refugou, o engenheiro e investidor Eduardo Moreira é mais um que desponta com um discurso que propõe que inclusão social, economia de mercado e estado eficiente não são excludentes –– ao contrário, fazem parte do mesmo eixo.

E Jair Bolsonaro, onde entra nesse jogo? Entra, a princípio, como favorito à reeleição, apesar das polêmicas e das críticas, dentro e fora do Brasil. Com um patrimônio eleitoral orçado em torno dos 30%, os desacertos no tratamento da pandemia da covid-19 nem assim parecem abalá-lo: na última sexta-feira, uma pesquisa de intenção de votos realizada pelo instituto Paraná Pesquisas, feita por encomenda para a revista Veja, mostrou que se as eleições presidenciais fossem disputadas agora, ele seria reeleito qualquer que fosse seu adversário direto –– foram realizadas simulações com Lula, Fernando Haddad, Ciro, Moro, Doria e Huck e, em todas, se saiu bem. O levantamento foi realizado entre os dias 18 e 21 de julho.

Pandemia
Cientista política e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fernanda Barros ressalta que ainda é cedo para dizer o que pautará as eleições de 2022, mas que, sem dúvida, Bolsonaro será lembrado pela forma como lidou com a pandemia. Mas ela lembra que só a pandemia não será suficiente para fazer com que seja derrotado –– o desmembramento da esquerda favorece a reeleição de Bolsonaro. “Não há oposição forte, consolidada”, observou.

Cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo, Marco Antônio Carvalho Teixeira também pontua que a divisão dos opositores favorece o presidente. “Se continuar assim, eles vão ficar brigando entre si para ver quem passa para o segundo turno e, depois, vão ter que juntar os cacos para ver se conseguem a eleição”, lamentou. Para ele, outro fator ajuda Bolsonaro: está conseguindo capitalizar o auxílio emergencial como se fosse uma medida do governo. “Quem está recebendo deve estar avaliando como uma medida governamental, e o governo tem se beneficiado disso”.

Cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Ricardo Ismael também afirma que Bolsonaro será cobrado pelos seus opositores sobre as ações desenvolvidas nesta crise do coronavírus. O professor garante que o presidente se desgastou, mas, ao reduzir embates e polêmicas, “na cabeça do eleitor essa questão se diluiu um pouco”.

Para o cientista político André Pereira César, da Hold Assessoria Legislativa, o tema “saúde” será um dos eixos do debate eleitoral em 2022. “Esse vai ser um tema que não importa se o candidato será o Mandetta, que tem o rosto do combate à covid no Brasil. Todos os candidatos terão que abordar a pandemia, porque vão ser cobrados pela sociedade, pelo eleitorado, por seus aliados”, salientou, acrescentando que a recuperação econômica se insere nesta discussão. “Segundo os piores cenários, durante a campanha eleitoral a economia começará a se recuperar. Então, os eleitores vão querer saber o que vai ser feito de efetivo, em termos de investimentos, de atração de capital estrangeiro, combate à desigualdade, infraestrutura”, acrescentou.



"Quem está recebendo (o auxílio emergencial de R$ 600) deve estar avaliando como uma medida governamental, e o governo tem se beneficiado disso”

Marco Antônio Carvalho Teixeira, cientista político e professor da FGV-SP, mostrando uma das razões pelas quais Jair Bolsonaro continua com bom capital eleitoral



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