Correio Braziliense
postado em 27/07/2020 15:44
O governo Bolsonaro não tem a educação como prioridade, então não adianta trocar o ministro. É o que afirma o ex-senador Cristovam Buarque, que já foi governador do Distrito Federal e titular da pasta, no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista ao CB.Poder — parceria do Correio Braziliense e da TV Brasília —, nesta segunda-feira (27/7), Buarque afirmou que, em comparação com as "caricaturas" que estiveram à frente do MEC durante a gestão atual, o novo ministro, pastor Milton Ribeiro, parece ser melhor."Quem faz a educação não é o ministro, é o presidente da República. Eu creio que o atual presidente não tem a menor sensibilidade para a educação, então não adianta mudar o ministro. Mas creio que esse será melhorzinho que os anteriores, que pareciam caricaturas. Esse não parece ser uma caricatura — é cedo para dizer —, mas ele vai ter muitas dificuldades porque o governo não tem prioridade na educação", avaliou o ex-senador.
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O ex-ministro também comentou sobre a aprovação do Fundeb e disse que, caso não fosse aprovado, seria uma tragédia para a educação brasileira. Mas ele ressaltou que, mesmo com a manutenção do Fundeb, a área passa por sérios problemas. "Eu tenho uma posição que não é muito popular: sem o Fundeb seria uma devastação, mas com ele ainda não é uma construção da educação que precisamos. Transformamos o Fundef em Fundeb no governo Lula, há mais de 10 anos, e isso não fez com que o Brasil fosse para os melhores do mundo, continua entre os piores", defendeu.
Em 2019, Cristovam Buarque lançou o livro Por que falhamos — O Brasil de 1992 a 2018, em que lista os erros dos partidos progressistas que chegaram à presidência da República após a redemocratização. Para ele, é óbvio que a causa da eleição de Jair Bolsonaro foi a série de erros cometidos pela esquerda. "Muita gente não gosta que eu fale isso, mas é tão óbvio. Bolsonaro foi eleito como uma resistência ao que estava lá. Eu inclusive perdi uma eleição porque o eleitor achou que tinha que me substituir, então quem errou fui eu. Nós somos os democratas e progressistas. O primeiro erro foi quando Fernando Henrique e Lula, que estavam unidos durante a ditadura, passaram a brigar depois da redemocratização para ver quem elegia o prefeito de São Paulo", comentou.
As utopias dos partidos progressistas, segundo Buarque, se perderam. A única utopia defendida por ele, afirmou, seria uma em que o Brasil é referência em educação e as escolas dos ricos e pobres são do mesmo nível. Outro erro, para ele, foram as narrativas falsas e populistas. "Criamos narrativas falsas e acreditamos nelas. Por exemplo, a história de que tiramos 30 milhões da pobreza e colocamos na classe média com o Bolsa Família — que veio da Bolsa Escola, que eu criei no DF. Mas eu não vou inventar essa narrativa falsa. A Bolsa Escola ia sim erradicar a pobreza mas pela escola, não pela bolsa", opinou.
Cristovam completou dizendo que outro grande erro cometido foi a tolerância à corrupção. "Nossos governos fecharam os olhos para a corrupção. Neste momento, eu vejo muita gente se preocupar porque o Bolsonaro pode estar na frente para as eleições de 2022. Não basta se preocupar, temos que procurar onde erramos e formular propostas. Também precisamos saber quais os grupos que estão juntos e, finalmente, quem vai encarnar isso. Se não conseguirmos, o povo vai dar o troco não votando em nós."
Assista à íntegra da entrevista:
Ouça a entrevista em formato podcast:
*Estagiário sob a supervisão de Fernando Jordão
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