Alexandre Garcia
postado em 05/08/2020 06:00

César Maia, pai do presidente da Câmara, denunciou algo mais pérfido que uma notícia falsa: o factóide. Parece fato, tem aparência de fato, é embrulhado como fato, mas serve para ;embrulhar; o leitor, o ouvinte, o telespectador. O Wall Street Journal acaba de ter uma espécie de rebelião na redação, exigindo que notícia e opinião venham separados, não misturados. Fofocas e mexericos costumam vir disfarçados de notícia. A preocupação do Congresso e do Supremo, no entanto, só visa as redes sociais, exatamente o instrumento pelo qual todos ganharam voz, para reivindicar, desabafar, sugerir, opinar, criticar. Como se trata de gente, não de anjos, também há ódios, mentiras, maus conselhos, ofensas. Para esses, a própria comunidade digital tem os anticorpos: a capacidade de pesquisar e derrubar a mentira, de responder, de boicotar, de expor o ofensor.
E as leis também têm os remédios, o Código Penal e até a Lei de Segurança Nacional. O que querem inventar então? A quem interessa calar opinião, restringir a liberdade de expressão, a censura prévia, o direito de defesa, acusar de crime não previsto na legislação? Fica no ar o mau cheiro da fumaça de totalitarismo. Uma caça às bruxas, mais parecendo um macartismo de sinal invertido.
Que personagens da ficção esses agentes da censura estariam personificando? O perigoso Big Brother, o Irmão mais Velho, de George Orwell, que policiava até pensamento? Melhor que seja um risível Mago de Oz, que, atrás do biombo que o protegia, ameaçava com fogo e trovões, mas acabou desmascarado como charlatão pela menina Dorothy.