Profissoes em pauta

Como pensam os profissionais da geração Z

Criativos, insubordinados, independentes e sem vontade de ficar muito tempo no mesmo lugar, os jovens Z têm fome de crescer

Especial para o Correio, Patrick Selvatti
postado em 16/08/2014 06:00

Milena Rolim, 18:

Aos 18 anos, Milena Barros Rolim já ouviu falar da existência de uma máquina de escrever, na qual as letras eram marcadas direto no papel. E como não havia a tecla "delete", bastava errar uma palavra para ser obrigado a refazer todo o texto de novo. E do começo... Ela também já ouviu falar de uma câmera fotográfica com filme de revelação, mas desde os sete anos tira fotos e escreve mensagens direto no celular. O material é compartilhado com os amigos em tempo real, via wi-fi ou 4G. E é com a mesma rapidez com a qual se conectam à internet que Milena e outros jovens dessa faixa etária estão entrando no mercado de trabalho. O grupo pertence à chamada geração "Z" ou Millenium ; gente nascida depois de 1990, em um mundo pós guerra fria, no qual os computadores e a internet estão longe de ser um bicho-de-sete-cabeças.

Os jovens "Z" se diferenciam dos profissionais das outras gerações por saberem trabalhar em rede de maneira quase intuitiva. Afinal, informação é algo que lhes foi dado juntamente com o leitinho com bolacha. E quando o assunto é autoridade, eles não se intimidam. Lidam com os mais velhos e com os chefes como se conversassem com um colega de turma. ;Tenho consciência de que faço parte de um público mais exigente, usado como referência em pesquisas de mercado. Isso faz com que eu me sinta em um patamar muito superior ao dos meus pais na mesma idade. Enquanto eles eram influenciados pelos pais e professores, sou eu quem os influencia;, avalia Milena, estudante do segundo semestre de jornalismo.

Apesar da pouca idade, a esperta garota já atua na empresa júnior da universidade onde estuda. ;Trabalho como Social Media (profissional que atua nas redes sociais, como Facebook e Twitter) e possuo total domínio sobre a técnica necessária para executar este trabalho. Coisa que alguém mais velho dificilmente domina;, garante.

Afoitos ou criativos?

Milena não está mentindo quando diz dominar as ferramentas necessárias para interagir na internet. A turma da geração Millenium navega na web desde sempre e sabe transformar letras em corações e sinais de pontuação em sorrisos :). Empoderados pelo domínio das novas tecnologias e pouco dispostos a aceitarem ordens sem questionamentos, esses jovens têm dado o que falar no mercado de trabalho. Os mais experientes sentem dificuldade em lidar com tamanha autossuficiência e ; por não compreenderem a mente dos "milleniums" ; tendem a enquadrá-los em uma série de estereótipos: ;folgados; (por quererem trabalhar em horários flexíveis), ;distraídos; (por conciliar o trabalho com o relacionamento pessoal online), ;afoitos; (pela pressa em colher frutos) e ;insubordinados; (pelo hábito de questionar os superiores, sem o menor filtro).

Já quem vê além das aparências, enxerga nos "Z" um imenso potencial de inovação. Por não acreditarem em fórmulas preestabelecidas, eles não têm medo de ousar e encontram soluções criativas para diversos problemas. Acostumados a pesquisarem no Google, sabem garimpar informação em vários idiomas e estão sempre atentos às últimas tendências do mercado onde atuam. Além disso, têm enorme disposição para empreender e arriscar. O oposto da geração dos seus pais, que sonhava com um emprego estável (de preferência público), com carteira assinada, no qual pudessem passar a vida inteira, até se aposentar.

"Esse choque de gerações deveria ser encarado como algo saudável pelo mercado de trabalho", explica Tatiane Pires de Araújo, mestre em psicologia e professora de Gestão de Pessoas da Faculdade de Administração do UniCeub. "As pessoas precisam se adaptar ao novo. O mercado está mudando e essa turma mais jovem está assumindo postos cada vez mais altos. Os mais velhos precisam entender que não se fica mais dez, quinze anos em uma mesma corporação, sob o risco de ser visto como um profissional acomodado".

Segundo a especialista, nos dias de hoje o melhor é buscar vínculos empregatícios mais leves, com responsabilidades, mas sem tanto envolvimento. "Isso é bom tanto para o profissional quanto para as empresas, já que as mudanças e troca de empregos trazem renovação para ambas as partes", garante Tatiane.

Leia a íntegra da reportagem na edição de hoje do Correio Braziliense

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