Os profissionais da geração "Z" ou Millenium estão chegando a um mercado de trabalho cada vez mais saturado e competitivo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui cerca de 7 milhões de desempregados. A taxa de desemprego no primeiro trimestre de 2014 ficou na casa dos 7,1% e quase 40% das pessoas com idade para trabalhar está fora do mercado ; seja porque desistiram de procurar emprego, seja por estarem estudando ou exercendo outros tipos de atividades.
Apesar do cenário pouco favorável, os jovens nascidos após 1990 chegam ao mercado querendo crescer muito, e em pouco tempo. Segundo a consultoria americana Rainmaker Thinking, 56% dos profissionais dessa faixa etária querem ser promovidos em até um ano de trabalho. E por não terem apego aos empregos, os que não o são, logo buscam novas oportunidades em outras empresas. ;É por isso que o índice de rotatividade nas empresas triplicou", explica Tatiane, que por dez anos trabalhou com recrutamento de pessoal. "O maior desafio das equipes de Recursos Humanos, hoje, é a retenção dos talentos da geração Z. Eles trocam de emprego com uma velocidade surpreendente. Para segurá-los, é preciso oferecer trabalhos desafiadores, com oferta de recompensa pelas realizações e reconhecimento das liderança;.
Ainda segundo Tatiane, outro desafio enfrentado por esses jovens é a "preguiça" das empresas para treinarem talentos. Cada vez mais, os empregadores buscam profissionais 100% prontos para assumirem um bom cargo. E aos vinte-e-poucos-anos, dificilmente se tem bagagem suficiente para lidar com certos tipos de pressão. Já aos mais velhos, falta a compreensão do funcionamento das novas tecnologias da informação e dos novos modelos de negócios digitais. Com isso, as melhores vagas ; aquelas com as quais todo profissional sonha ; ficam em aberto por muito tempo. Com um agravante: elas não estão disponíveis nos anúncios de jornais. "As melhores oportunidades profissionais estão nas mãos de head hunters que, por sua vez, nunca encontram a soma perfeita de características desejadas;, relata Tatiane.
Os insaciáveis
Uma das características mais marcantes dos profissionais da geração Z é a forte tendência à insatisfação crônica, claramente demonstrada pela aversão que eles sentem à rotina. ;Não me vejo fazendo a mesma coisa por muito tempo", admite Milena. "Quero, acima de tudo, estar satisfeita comigo mesma. Meu sonho é ser feliz, fazendo o que gosto. Não vejo motivo para esse desejo ser encarado como egoísmo;.
Planos para o futuro? Milena tem de sobra. Ela espera chegar aos 30, levando uma vida confortável. "Não preciso ser rica, mas quero ter grana no bolso para viajar. Me assusta muito a estabilidade de um serviço público, com um alto salário, mas a certeza de passar o resto da vida carimbando papel;
Por sempre ouvir depoimentos como esse, a professora Tatiane de Araújo defende que o perfil dessa geração pode ser definido em uma única palavra: insaciável. "Em uma era onde a informação é imediata, os jovens são muito inteligentes, safos e com muito talento, mas lhes falta parâmetro", desabafa a especialista. "É um momento complexo, porque nós ; professores, pais e chefes ; não sabemos exatamente como lidar com tanta dificuldade em se saber exatamente o que se quer, aonde se quer chegar;.
Segundo Tatiane, ter uma meta clara ; como se tinha na geração anterior ; é o que cria um referencial seguro, que justifica o ônus do trabalho para o bônus da conquista. ;Ninguém mais sabe responder àquela pergunta básica de ;o que você vai crescer quando crescer?;. Hoje o que se vê é uma necessidade de experimentar. Se deu certo, beleza; se não, vamos pro outro caminho;, ilustra.
Multitarefas
O receio de envelhecer sem ter aproveitado a vida é outro ponto comum aos jovens da nova geração Z. Por isso, a maioria deles sonha em trabalhar com o que gosta, sem deixar o lazer de lado. O analista de marketing digital Diego Costa, de 26 anos, tem uma meta muito bem estabelecida: se aposentar até os 40 anos de idade. Por isso, ele guarda boa parte do salário que recebe no emprego fixo e também nos trabalhos de freelancer. ;Isso não significa que eu vá parar de trabalhar. Eu apenas vou deixar de servir aos outros e me dedicar ao meu próprio negócio, mas não em período integral;, explica o publicitário, que já tem casa própria, um bom carro e está fechando o aluguel de um segundo imóvel.
Assim com tantos jovens da sua idade, Diego se divide entre empregos. Ele tem um trabalho fixo, de carteira assinada, mas também montou a própria empresa ; especializada na produção de sites e páginas nas redes sociais. O empreendimento conta, atualmente, com mais de 500 clientes ativos, em rede. E nas horas vagas, o rapaz de riso fácil ainda encontra tempo para atuar com DJ em festas da cidade, praticar paintball, além de namorar. Como ele consegue fazer tudo isso? "Eu faço o que gosto. O segredo é esse", diz, alegre. ;Busco mostrar ao pessoal mais velho das empresas e dos meus clientes a necessidade de ousar e de ir além. E comprovo, por meio do meu trabalho, que implantar coisas novas na web é o que dá resultados;.