Por quinze anos e seis meses, Maria do Perpétuo Socorro trabalhou como cobradora de ônibus em uma empresa no Entorno de Brasília. Com os pais idosos e irmãos em melhores condições salariais, ficou para ela o dever de largar o emprego e cuidar dos familiares. Após a morte do pai, vítima de um derrame, Maria do Perpétuo e a mãe entraram em depressão, enquanto tentavam superar o luto. "Meus planos foram todos por água abaixo", recorda Maria, na época com 45 anos. "Mas mesmo no fundo do poço, eu só conseguia pensar que teria de voltar a estudar se quisesse dar uma vida melhor para minha mãe na velhice".
A única alegria da ex-cobradora, na época, foi o curso técnico de química. Longe dos bancos escolares há 30 anos e sem profissão definida, ela pesquisou os cursos técnicos e se interessou pelas disciplinas vinculadas ao ensino da química, após uma palestra do Instituto Federal de Brasília (IFB), em 2012. No entanto, ainda no segundo semestre, ela perdeu a mãe, voltou a ter depressão e quase cancelou a matrícula.
"Só continuei por causa dos incentivos dos colegas e professores, e da vontade de ter uma vida mais digna. Com 20 dias do falecimento da minha mãe, fui chamada para o meu primeiro estágio. Quando comecei a colocar as teoria do curso em prática, tive certeza que havia feito a escolha certa. Se não fosse o curso técnico, possivelmente estaria em qualquer outro subemprego ou fazendo serviços gerais", avalia a hoje profissional de 47 anos, que tem planos de cursar uma faculdade de engenharia química ou industrial no futuro.
Assim como Maria Aparecida, milhões de brasileiros conseguiram concluir o ensino técnico por meio do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e ingressar rapidamente no mercado de trabalho. Criado pelo governo federal em 2011, este é o maior programa de formação profissional já realizado no Brasil. São 864 tipos de cursos - 220 técnicos e 644 de formação inicial e continuada - realizados em escolas técnicas federais e nas unidades do Sistema S (Senai, Senac, Senar e Senat). A formação é gratuita e traz evidente aumento da empregabilidade - capacidade que as pessoas possuem de adaptação e adequação às demandas dinâmicas do mercado. Somente este ano, 5,8 milhões de brasileiros se matricularam em algum curso no Pronatec. A meta é terminar 2014 com 8 milhões de matrículas ativas.
Prática aliada ao ensino
O doutor em Educação e chefe do Departamento de Pesquisa de Administração da Universidade de Brasília (UnB), professor Remi Castioni, só enxerga vantagens em iniciativas como o Pronatec, que incentivam a qualificação técnica. "Para os jovens é uma forma de educação mais contextualizada com o mundo real, pois aproxima a lógica do estudo com a prática do mercado", analisa o educador.
Na opinião de Castioni, a formação técnica supre uma lacuna deixada pelo ensino médio regular: ensinar aos alunos a aplicação prática de disciplinas como física, química e matemática. "A grande vantagem de uma formação técnica é reunir disciplinas dentro de uma prática tecnológica e de um contexto cultural. É poder pensar em determinado problema e buscar soluções práticas, aplicações concretas de conteúdos e, com isso, unir a formação educacional com a realidade do mercado de trabalho", explica.
O reitor do Instituto Federal de Brasília Wilson Conciani concorda e acrescenta: quem opta pela carreira de técnico de nível médio tem uma formação científica que permite a ele assumir posições de liderança em um processo produtivo. "Para além disso, os cursos técnicos propiciam uma formação prática que capacita o aluno a fazer suas atividades com a qualidade necessária", garante.
Para o reitor, o maior diferencial da formação de nível técnico está na capacidade que os profissionais adquirem de dar respostas bem fundamentadas do ponto de vista técnico-científico, o que eleva os patamares de qualidade e a quantidade da produção. "Esses resultados trazem um maior ganho para as empresas e, consequentemente, maiores salários para os profissionais", explica Conciani.
TIRA-DÚVIDA/PRONATEC
Os cursos do Pronatec são gratuitos?
Sim. Os cursos são gratuitos e estão disponíveis nas escolas públicas federais, estaduais e municipais, nas unidades de ensino do Senai, do Senac, do Senar e do Senat, em instituições privadas de ensino superior e de educação profissional técnica de nível médio.
Quais são as modalidades de cursos oferecidos pelo Pronatec?
São três tipos de curso:
1) Técnico para quem concluiu o ensino médio, com duração mínima de um ano;
2) Técnico para quem está matriculado no ensino médio, com duração mínima de um ano;
3) Formação inicial e continuada ou qualificação profissional, para trabalhadores, estudantes de ensino médio e beneficiários de programas federais de transferência de renda, com duração mínima de dois meses.
Quais cursos estão sendo oferecidos pelo Pronatec no DF?
São muitos cursos, disponíveis para diferentes graus de escolaridade. Para ver a lista completa, basta acessar o endereço: http://pronatec.mec.gov.br/inscricao/
Como posso me inscrever no Pronatec?
Como existem várias iniciativas, não existe um sistema unificado de inscrições. As novas vagas serão abertas em escolas públicas estaduais, nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e nos Serviços Nacionais de Aprendizagem - como o Senai e o Senac. Cada uma dessas instâncias terá inscrições e critérios próprios para seleção de participantes no Pronatec.
Fonte: www.pronatec.mec.gov.br