Marcos Eliade Alves Gomes, de 20 anos, é um dos milhares de brasileiros que enxergou no ensino técnico uma alternativa de inserção no mercado de trabalho. O rapaz chegou a abandonar os estudos por não se enxergar em uma universidade e voltou às salas de aula para fazer cursos profissionalizantes no Senai-DF. De uma tacada só, o garoto fez uma maratona de cursos rápidos: instalador e reparador de linhas aéreas, informática, elétrica, desenho técnico, web designer e infraestrutura de redes, até chegar no curso técnico em edificações.
Este último, aliás, teve uma motivação maior para Marcos: o pai é pedreiro e, desde pequeno, o jovem convive com a profissão. "Eu queria trabalhar com meu pai, mas ele dizia sempre pra eu estudar mais, porque não queria que eu também fosse pedreiro", revela o rapaz, que se deparou com o preconceito dentro da própria família. Hoje, Marcos é motivo de orgulho para os pais. "A gente se mudou de Águas Lindas, em Goiás, para Taguatinga só para ele ficar próximo da escola. Meu marido aprendeu técnicas modernas de trabalho, comprou ferramenta nova e tudo por causa do exemplo dele. E eu até voltei a estudar", conta a mãe, a empregada doméstica Antônia Maria Alves Gomes.
Além de receber três ótimas propostas de trabalho para atuar como projetista em empresas do ramo da construção, Marcos tem grandes chances de representar o País no WorldSkills, a maior competição internacional entre alunos de educação profissionalizante. "Abri mão das vagas para me dedicar ao treinamento para o torneio e sei que terei muitas ofertas quando voltar, principalmente se trouxer uma medalha. De qualquer forma, hoje me sinto apto a voltar aos planos de fazer um curso universitário. Quero cursar engenharia civil e continuar sempre estudando", avisa.
As palavras de Marcos mostram que o estudante está antenado com a necessidade do mercado. De acordo com os dados do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged), o Brasil teve um saldo de 73,3 mil novas contratações na construção civil de janeiro a junho deste ano. Só no Distrito Federal, foram quase mil novos postos de trabalho, um número que, apesar de considerado baixo, fecha um ciclo de muitas contratações por conta da Copa do Mundo. "A dinâmica do mercado de trabalho mudou. Passamos, atualmente, por profundas mutações tecnológicas e organizacionais, e, portanto, os trabalhadores deverão estar muito melhor preparados para lidar com as novas tecnologias de produção e com os novos métodos de organização que determinam a competitividade das empresas", endossa o presidente da Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra), Antônio Rocha.
Para o empresário, o caminho mais curto para o tão acirrado mercado de trabalho é a qualificação técnica. Pesquisa recente realizada pela entidade de classe mostra que cerca de 30% dos empresários da indústria assinalaram a falta de mão de obra qualificada como um dos três principais problemas enfrentados pelo setor no DF. "Sobram profissionais de nível superior. Faltam profissionais de nível técnico. Uma não exclui a outra, mas ter um diploma técnico no currículo é, sim, um forte diferencial para o trabalhador, já que ele terá, além da teoria, a prática das atividades realizadas no dia a dia de uma empresa", pondera Rocha.
Mais vagas
Em 2013, aproximadamente 220 mil técnicos de diversos setores ingressaram no mercado de trabalho no Brasil, conforme a última Relação Anual de Informações Sociais (Rais), divulgada pelo Ministério do Trabalho e Emprego em agosto deste ano. Os números revelam que as profissões de nível técnico cresceram 3,35%, acima da média de crescimento no mercado de trabalho como um todo (3,14%). E as notícias boas não param por aí: um diagnóstico feito pelo Senai, no início do ano, revela que serão abertas cerca de 7,2 milhões de vagas para cargos técnicos no país. Isto porque, atualmente, 65% de quase duas mil empresas brasileiras se ressentem da falta dessa mão de obra. Por isso, 80% delas montaram cursos próprios para contornar a escassez.
De acordo com o gerente de Estudos e Prospectiva do Senai, Márcio Guerra, esses números revelam uma mudança gradual de comportamento da sociedade brasileira. "Existem cursos de graduação mais baratos, que tornam o acesso da população à universidade mais fácil. Mas a empregabilidade não apresenta este retorno e a contabilidade não fecha. Já as vagas de formação técnica têm oferecido melhores salários e muitas vagas", explica.
Cientes dessa realidade, as direções de muitas instituições de ensino superior - em parceria com o Governo Federal - começaram a oferecem vagas em ensino profissionalizante, por meio do Pronatec. "Trata-se de uma ideia excelente. O governo possibilita às universidades privadas fazer este trabalho, que permite ao aluno entrar em laboratórios universitários de alto nível que não então disponíveis em uma escola pública", observa Eda Machado, reitora do Instituto de Ensino Superior de Brasília (Iesb).
Desde a década de 70 envolvida em estudos e pesquisas acadêmicas relacionadas à inovação do ensino, Eda visitou países como o Japão, Estados Unidos e Alemanha e pôde vivenciar as experiências das grandes escolas técnicas daqueles lugares. "No Japão, por exemplo, vi de perto como as indústrias absorveram estes profissionais em um momento pós-guerra em que o país precisava ser reconstruído. Fiquei impressionada com a capacidade de superação dos japoneses. Na Alemanha, me surpreendeu mais ainda o equilíbrio salarial entre doutores e técnicos bem preparados".
Antes de se tornar proprietária de um centro universitário, Eda trabalhou nos ministérios da Educação e Ciência e Tecnologia em uma época em que o Brasil tinha uma carência notória de profissionais pós-graduados e investiu fortemente no ensino acadêmico. "O governo não errou em investir em pós-graduação naquela época, pois o país necessitava de cabeças pensantes. Lamento não termos tido a ideia de investir em educação profissionalizante como política pública. Quem sabe aonde o Brasil teria chegado? Mas vejo que, hoje, o país está no caminho certo para avançar junto com os países desenvolvidos", finaliza.