Jornal Correio Braziliense

Revista

Brancas Nuvens

Brasília, 13 de maio de 2010

Ainda é noite lá fora. Acordo às quatro da madrugada para ir ao jornal. Pouco antes de pegar estrada com o fotógrafo Gustavo Moreno e o jornalista e cinegrafista André Luiz Corrêa, pula uma esperança verdinha, verdinha em mim. ;Tomara que seja um bom sinal;, penso. Minha preocupação maior era não conseguir entrevistar o famoso médium João de Deus. Já ouvi muito sobre ele, sobre os tratamentos, curas, gente dos quatro cantos do mundo que o procura por um fio de esperança.


Saímos às cinco da manhã. O caminho é tranquilo. Acompanhamos o amanhecer ao chegar em Abadiânia, município goiano distante 115 km de Brasília. O espaço sagrado de João Teixeira de Faria, conhecido pela alcunha João de Deus, impressiona pela simplicidade. A vista do mirante da meditação, na área externa das salas de atendimento, é uma atração a parte. É fácil sentir-se bem, leve;


Depois de um breve reconhecimento da área, entramos na sala de espera e de lá para a sala das consultas espirituais. Todos os voluntários foram avisados da interferência jornalística. Alguns frequentadores e voluntários me puxavam para contar a cura de um câncer, o marido que voltou a andar, o olho que se recuperou após a cirurgia espiritual. Tudo muito espontâneo.


Sentei numa cadeira ao lado da grande poltrona ; ou trono ; do médium. Com uma certa distância, claro, para não atrapalhar o trabalho da entidade, eu observava e anotava. Incorporado por José Valdivino, depois por Oswaldo Cruz, o médium também observava minhas anotações e falava: ;fala com essa mulher;, ;pergunta para esse senhor o que aconteceu com ele;.


Ainda desconfiada de tudo aquilo, relaxei um pouco para tentar ver e ouvir todos aqueles pedidos e agradecimentos. Muita emoção;principalmente quando vi o mesmo grilo verdinho, verdinho em cima da cabeça da Nossa Senhora que estava ao lado de João de Deus. ;Vai dar tudo certo;, pensava, mais confiante.


Devia ser meio-dia quando fomos avisados de que o médium nos receberia com gravador, câmera fotográfica e filmadora. Deu um frio na barriga nessa hora. Não queria perguntar nenhuma besteira e sabia que ele me daria respostas curtas e evasivas pelo que falaram. ;Não liguem se ele for um pouco grosso. É o jeito do João mesmo. Ele foi criado na pobreza e não pôde ir à escola;, nos avisou Hamilton Pereira, braço direito do médium na Casa. Mas João de Deus não foi grosso. Pelo contrário. Muito educado, respondeu a todas as perguntas. Olho no olho.


De fato, um homem muito simples, mas um tanto quanto vaidoso. Saí de lá sem saber ao certo quem era João de Deus. Sei que conheci uma faceta e não posso falar do fazendeiro ou pai de família João Teixeira de Faria. O homem que trabalha fora da Casa de Dom Inácio ainda é um mistério. O fato é que por três dias a cidade cobre-se de uma áurea diferente. ;Aqui a intensidade de dor e amor é muito grande;, disse a enfermeira Denise Cooper. Eu me senti mais leve; menos ansiosa e preocupada. A Casa Dom Inácio, como um santuário para todas as crenças, tinha algo de acolhedor. Algo que sorriu para mim no fim da tarde daquela quinta-feira de maio.

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