Por Rayanne Portugal, especial para o Correio
É possível cuidar da beleza e da saúde sendo ecologicamente responsável. Esse é o principal chamariz dos cosméticos orgânicos. Feitos à base de compostos 100% naturais, eles são produzidos de forma totalmente sustentável, desde o cultivo da matéria-prima usada para sua fabricação até a comercialização. Esse processo garante ao consumidor um produto de qualidade certificada, que não agride pele, mucosas e cabelos.
Os cosméticos orgânicos geralmente são ricos em óleos vegetais, óleos essenciais, manteigas e extratos diversos que promovem resultados menos agressivos ao corpo. Segundo Geysa Belém, farmacêutica especialista em cosmetologia orgânica, o uso de cosméticos certificados traz mais saúde e segurança para a pele. ;Um hidratante facial orgânico, por exemplo, tende a ter qualidade superior à de um tradicional. Em vez de conter óleo mineral, que não penetra na pele, leva óleos naturais, muito mais eficientes. Eles estimulam a cicatrização e a produção de colágeno e elastina, além de hidratar profundamente. A mesma coisa ocorre com os xampus;, explica.
Para que um cosmético seja considerado orgânico, é necessário que 95% de sua matéria-prima sejam orgânicos certificados, livres de substancias químicas, sintéticas ou animais ; elementos que poderão ser usados se comprovada sua necessidade e a impossibilidade de substituição por componentes vegetais. As dosagens, tanto das substâncias permitidas quanto daquelas restritas, devem seguir normas previstas pelas certificadoras.
No Brasil, a certificação de cosméticos orgânicos é realizada pelo Instituto Biodinâmico (www.ibd.com.br) e pela Ecocert Brasil (www.ecocert.com.br). Essas instituições garantem não só o resultado final, mas todo o processo que levou à fabricação de determinado produto. A preocupação com a exploração de recursos naturais é o princípio de todas essas ações. É necessário assegurar o manejo sustentável em todas as etapas: do solo à água utilizada, passando pelas plantas e flores envolvidos na produção. Os rigorosos parâmetros levam em conta até o controle de pragas, que não deve agredir o ambiente com pesticidas químicos.
Por enquanto, cinco empresas nacionais já receberam certificação para produção de cosméticos orgânicos e exportação de matéria-prima natural: Florestas, Surya, Reserva Folio, Arte dos Aromas e Beraca. A última é a principal fornecedora de compostos naturais para os cosméticos de O Boticário, da Natura e da Jequiti.
Saiba mais
O Projeto Organics Brasil foi criado para fortalecer o setor brasileiro de orgânicos e viabilizar sua expansão no mercado internacional, resultado de uma ação conjunta da iniciativa privada com o Instituto de Promoção do Desenvolvimento (IPD) e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil).
Um selo de qualidade
Diferentemente dos cosméticos naturais, que são produzidos a partir de matéria-prima vegetal, os componentes de um cosmético orgânico passam por maior controle da produção agrícola. São cultivados em solo não contaminado e sem agrotóxicos. No Brasil, para que um cosmético seja considerado natural ou natural e orgânico, deve atender os seguintes critérios:
- Mínimo de 95% de ingredientes naturais ou de origem vegetal sobre o total de ingredientes
- Mínimo de 95% de ingredientes vegetais certificados orgânicos sobre o total dos ingredientes vegetais
- Para garantir que todos os produtos contenham ingredientes orgânicos, as formulações devem conter o mínimo de 10 % de ingredientes certificados orgânicos sobre o total dos ingredientes (incluindo a água adicionada por ocasião da fabricação do produto final)
- Máximo de 5% de ingredientes de síntese pura sobre o total de ingredientes. Trata-se das moléculas oriundas de síntese química, consideradas indispensáveis para a produção do cosmético
- Matérias-primas animais extraídas de animais vivos ou mortos são proibidas
- Algumas matérias-primas animais produzidas naturalmente, desde que não façam parte de seu organismo, são autorizadas e submetidas a restrições. Não podem agredir espécies em risco e sua obtenção não pode causar nenhum efeito negativo sobre o equilíbrio ecológico
- Matérias-primas minerais: são autorizadas desde que usadas por suas propriedades intrínsecas e que sua extração não provoque poluição ou degradação da paisagem, atendendo critérios de pureza exigidos
(Fonte: www.ecocert.com.br)
A natureza a favor da pele
Conheça alguns dos principais compostos naturais usados em cosméticos orgânicos:
- Manteiga de cupuaçu: altamente hidratante, contém fitoesterois que auxiliam no tratamento de dermatites por estimular a cicatrização. Promove hidratação prolongada e recupera a umidade e elasticidade natural da pele.
- Extrato de açaí: alto poder antioxidante. Rico em Ômega 3 e 6, o extrato natural ajuda no combate aos radicais livres.
- Extrato de aloe vera: hidrata profundamente pele e cabelos e auxilia nos processos de cicatrização.
- Óleo de castanha do Brasil: rico em vitaminas e muito nutriente, forma um filme de proteção que impede a evaporação da água da cútis. Também é bom para a elasticidade da pele.
- Óleo de buriti:rico em vitamina A e fonte de carotenoides, pigmentos naturais que são responsáveis pelo transporte de oxigênio e absorção de energia. Promove a elasticidade da pele, prevenindo o ressecamento.
- Óleo de andiroba: muito utilizado pelos índios por ter alto poder cicatrizante. Possui ação anti-inflamatória, é antirreumático e também funciona como repelente de insetos.
- Vitamina E: tem poder antioxidante e ajuda a combater os radicais livres.
- Sementes de damasco: contêm características esfoliantes. Substituem os ingredientes sintéticos, como o polietilenoglicol.
- Glyceryl stearete:óleo natural usado como emulsificante para formulação de cremes e loções.
- Decyl polyglucose:ingrediente derivado do milho, é usado para limpeza da pele e do cabelo. É alternativa para as substâncias sintéticas LSS e LESS (Lauril éter sulfato de sódio).
- Olivamidopropyl betaine: agente espumante derivado da oliva.
- Agentes de consistência: sintéticos usados como base em cremes, loções e condicionadores podem ser substituídos por substâncias como o cetearyl alcohol, um álcool natural, e a goma xantana, derivado microfermentação de carboidratos.
Conheça melhor seu creme
Sejam tradicionais ou orgânicos, os cosméticos para nossa pele devem ser escolhidos com atenção. ;É importante lembrar da extensão que é coberta em nosso corpo por pele. Qualquer dano de maior gravidade causado a esse órgão pode afetar nosso organismo como um todo. A escolha de um cosmético deve levar isso em conta;, ensina Consuelo Fernandez Pereira, representante no Brasil da certificadora francesa Ecocert.
Compreender melhor a formulação dos produtos é uma garantia contra efeitos indesejáveis. Segundo o farmacêutico e pesquisador em cosmetologia Maurício Pupo, alguns componentes, quando em contato com a pele, podem causar irritações e alergias cutâneas, ou mesmo doenças graves. ;Infelizmente, muitos desses componentes estão disfarçados nos produtos que usamos por aromas e corantes que os tornam mais agradáveis;, explica. Cosméticos com ureia, parabenos e formol e aqueles à base de derivados de petróleo são os mais perigosos.
Componentes que exigem cuidado especial ao usar
- Ureia:é um dos hidratantes mais usados em cosméticos tanto pela eficácia quando pelo baixo custo. O que muitos desconhecem é o fato dela ser proibida para gestantes. O principal motivo dessa restrição é que a ureia penetra profundamente na pele, podendo inclusive atravessar a placenta e entrar em contato com o feto em formação, trazendo ao bebê consequências ainda desconhecidas. Com o objetivo de controlar o uso do componente em cosméticos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou, em parecer técnico de 2005, que produtos com dosagens de ureia superiores a 3% da composição total devem ter no rótulo a observação: ;Não utilizar durante a gravidez;. A Anvisa ainda proíbe a fabricação de cosméticos que contenham em sua composição mais de 10% de ureia.
- Parabenos: de acordo com estudo da Universidade de Reading, Reino Unido, publicado em 2004 no Journal of Applied Toxicology, os conservantes parabenos se comportam como se fossem o estrogênio, hormônio produzido naturalmente pelo organismo feminino. O mesmo jornal publicou que o uso de parabenos em produtos cosméticos destinados à área das axilas, como desodorantes, deve ser reavaliado. Estudos recentes levantaram a hipótese de que o uso do conservante nessa região pode estar associado ao aumento da incidência de câncer de mama, o que foi confirmado em teste realizado recentemente. Os parabenos podem ser identificados nas formulações dos cosméticos e desodorantes com diversas nomenclaturas: parabens, Methylparaben, ethylparaben, propylparaben e butylparaben.
- Conservantes que liberam formol: diversos cosméticos utilizam em sua formulação conservantes que produzem e liberam formol na pele. Além da conhecida toxicidade do formol, estudo realizado no Departamento de Dermatologia da Universidade de Debrecen (Hungria), em maio de 2004, revelou que o formol pode contribuir para o aparecimento de câncer induzido pela radiação ultravioleta do sol.O consumidor pode se proteger destas substâncias observando cuidadosamente os rótulos traseiros das embalagens, procurando pelas seguintes substâncias: quatérnium-15, diazolidinil hora, imidazolidinil ureia e DMDM hidantoína.
- Propilenoglicol: é um componente usado em ampla variedade de cosméticos como diluente de outras substâncias. Seu uso prolongado pode causar alergias e irritações. Em 2005, estudo realizado com mais de 45 mil pacientes na Universidade de G;ttingen, Alemanha, confirmou o potencial sensibilizante do propilenoglicol. A mesma experiência foi feita por profissionais do Departamento de Dermatologia do Hospital Osaka Red Cross, Japão, no mesmo ano, confirmando o resultado.Para saber se o seu produto cosmético contém propilenoglicol na composição, verifique a palavra propylene glycol no rótulo traseiro da embalagem.
- Óleo mineral e os derivados do petróleo: os derivados do petróleo, como os óleos minerais, estão presentes na maioria dos produtos cosméticos devido a suas propriedades emolientes para a pele. Entretanto, estudos recentes realizados nos EUA e no Japão associam o uso desses componentes ao aumento da mortalidade por diversos tipos de câncer, como o de pulmão, esôfago e estômago, além de leucemia. Isso se deve à presença de um composto chamado 1,4-dioxano, uma substância cancerígena. Para identificar a presença desses componentes em seu produto cosmético, basta procurar no rótulo traseiro as palavras paraffin oil e mineral oil.
- Benzofenonas e derivados da cânfora: o filtro solar é artifício indispensável para quem quer proteger a pele. No entanto, poucas pessoas conhecem a consequência do uso prolongado de alguns componentes sobre a pele. Pesquisa realizada na Dinamarca, em 2004, apontou a presença de fotoprotetores no sangue e na urina, indicando que esses foram absorvidos pelo organismo. Além disso, assim como os parabenos, esses compostos imitam o hormônio feminino estrogênio. Para maior segurança, no momento da compra de um fotoprotetor, procure nos rótulos as palavras benzophenone ou 3-(4-methyl-benzylidene).
- Corantes e essências artificiais: A Comissão Europeia de Empresas e Indústrias Farmacêuticas afirma que os corantes e as essências podem causar irritações cutâneas. Pessoas com pré-disposição a alergias devem dar preferência a produtos formulados sem corantes e com baixo teor de essências, ou com componentes naturais e orgânicos.
- Lanolina, ácido sórbico e bronopol:o lanolin, substância obtida da lã do carneiro e comumente usada em produtos de beleza como substância emoliente hidratante, o ácido sórbico (Sorbic acid) e o bronopol também devem ser evitados por alérgicos.
Fonte: Maurício Gaspari Pupo, pesquisador, coordenador de pós-graduação em Cosmetologia das Faculdades Unicastelo de São Paulo, Unigranrio do Rio de Janeiro e Metrocamp de Campinas e diretor técnico da Consulfarma Assessoria Farmacêutica