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Ter um amigo imaginário é comum em crianças entre 2 e 6 anos. A fantasia, na maioria dos casos, é benéfica e não deve ser motivo de preocupação

Você já se deparou com uma criança brincando com alguém que não existe? Já ouviu seu filho, sobrinho ou vizinho contando histórias mirabolantes de um amigo íntimo que só eles enxergam? Muitos pais passam por experiências semelhantes, mas não há motivo para se preocupar: os amigos invisíveis ou imaginários geralmente são parte da fantasia de crianças de 2 a 6 anos, e, segundo especialistas, até ajudam no desenvolvimento social e emocional dos pequenos.
Quando tinha 2 anos, Giovana Galvão, hoje com 4, conheceu Elvis, um amiguinho do qual não se desgrudou durante pelo menos um ano e meio. Compartilhava cada momento da rotina com o companheiro. Ele visitava a casa dos avós, fazia as refeições, dormia e até viajava para o litoral com ela. A diferença entre Elvis e os demais coleguinhas de Giovana é que o amigo é fruto da imaginação da garotinha, ainda que projetado no boneco Elmo, da série de televisão Vila Sésamo. Ela mesma batizou o amiguinho com o nome de Elvis. Segundo a mãe da pequena, Fernanda Galvão, a intensidade da fantasia diminuiu após o nascimento do irmãozinho. ;Ela se empenha em ajudar com o irmão, por isso o Elvis tem ficado de lado. Mas vira e mexe ela volta a brincar com ele;, conta.

De acordo com a psicóloga Janaína Couvaneiro, os amigos imaginários podem surgir de duas formas: como companheiros invisíveis, que apenas as crianças observam, ou projetados em objetos, como Elvis, o amigo-boneco de Giovana. Embora ajam como se o amigo imaginário ou invisível realmente exista, os pequenos, no fundo, entendem que se trata de uma fantasia.

Janaína afirma que a relação, quando surge de forma natural, é saudável e permite que as crianças demonstrem o que estão sentindo em relação à vida real. ;Pode ser um modo positivo e criativo que a criança encontrou para lidar com o seu mundo de sonho e fantasia;, explica. De acordo com a psicóloga, os amigos frutos da imaginação são usados pelos pequenos para administrar sentimentos como a raiva, a inveja e a frustração. Além disso, ter um companheiro inventado é vantajoso para a autonomia da criança. ;Ele está sempre disposto a fazer o que a ela quer;, acrescenta Janaína.
Dos 2 aos 4 anos, segundo a especialista, a criança passa por uma fase de encantamento, propícia a criar novas e surpreendentes situações. É comum que os amigos de mentirinha durem até os 6 anos, mas algumas crianças prolongam a fantasia. A psicóloga garante que, a princípio, os pais não devem se preocupar com a duração dessa fase. ;Mas se continuar na chamada segunda infância, após os 6 anos, é interessante procurar um especialista;, recomenda.
A compreensão dos pais é um fator essencial para que a fantasia das crianças seja benéfica. De acordo com a especialista, lutar contra a amizade imaginária e contrariar a brincadeira dos filhos só vai frustrá-los e fazer com que se sintam diferentes e isolados. Os pais podem tornar a situação mais divertida e descobrir, por meio das conversas dos pequenos, alguns dos medos e opiniões que eles não comentam.

Extrapolando limites

Apesar de benéfica, a amizade imaginária não deve ultrapassar certos limites. Os pais devem observar o grau de interferência que a fantasia tem na vida dos filhos. É preciso tomar cuidado, por exemplo, quando a criança começa a colocar a culpa de atitudes erradas no amiguinho. Além disso, segundo Janaína Couvaneiro, os pequenos não podem priorizar a fantasia e deixar de viver o mundo real. A partir do momento em que há dificuldade na convivência da criança com outras da mesma idade e até com os adultos, os responsáveis devem procurar orientação sobre como agir.

Como os pais devem agir

  • Trate a situação com naturalidade.
  • Inclua o amiguinho na rotina familiar, como numa brincadeira. Se a criança insistir, não custa nada colocar um copo de suco a mais na mesa.
  • Preste atenção, de maneira sutil, nas conversas e brincadeiras da criança com o amigo. Será mais fácil entender o que se passa na cabeça do pequeno.
  • Aproveite a situação para estreitar laços familiares. Pergunte e incentive a criança.
  • Compre massinhas atóxicas para a criança. Elas têm efeito tranquilizante, levam ao relaxamento e à realização das fantasias com o brinquedo.

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