Bermuda de pet reciclado, vestido de noiva feito com papel de jornal, bolsa geradora de energia limpa;e a lista não para por aí. A cada dia, desenvolvem-se soluções criativas para a equacionar o desequilíbrio ambiental. São invenções dignas do professor Pardal, capazes de usar recursos naturais e sustentáveis para evitar o esgotamento da natureza. Atenta às novidades eco-friendly, a editora do blog Eco Trends & Tips (), Fernanda Vasconcelos, 26 anos, veste a camisa da moda sem desperdícios.
Jornalista e especialista em marketing de moda, ela garimpa dicas, sites, produtos e notícias de moda, design e arquitetura para postagens no blog, que recebe mais de 10 mil visitas por mês. A proposta é apresentar alternativas ecológicas e sustentáveis. "A reflexão acontece pela inserção de uma cultura de consumo consciente. Falar sobre isso não precisa ser algo tão distante do universo de quem está acostumado a ler sobre o que as celebridades estão vestindo ou como deixar a casa mais confortável e bonita."
Para Fernanda, você pode ter tudo isso cuidando do meio ambiente. "E tornar essa ideia clara - sem ser radical - talvez seja a principal colaboração do blog. Ser eco-friendly também é fashion", explica. Em entrevista à Revista, a blogueira nos conta como a moda pode ser sustentável e ainda dá dicas preciosas para montar um guarda-roupa "verde".
Dá para estar na moda e evitar desperdícios?
É possível, a partir da conscientização do consumidor. Quando falamos de moda, geralmente, associamos a roupas, acessórios e artigos de beleza. Mas ela vai além disso. Atualmente, consumimos moda em quase tudo que esteja ligado ao comportamento - de gastronomia a gadgets. Para estarmos na moda sem desperdiçar, precisamos ter em mente a necessidade de cuidarmos desde a origem da matéria-prima, passando pelo processo de produção, venda, durabilidade e descarte do produto. Tudo deve ser pensado para otimizar o uso dos recursos (priorizando fontes renováveis e limpas, ou seja, não-poluentes), manutenção econômica e para durar bastante tempo. Prestar a atenção nas etiquetas, em vez de somente nas marcas. A ideia do consumo consciente não considera a quantidade, mas a qualidade. Artigos que seguem os cuidados com ecologia, sustentabilidade e responsabilidade social tendem a ter um preço maior do que os descartáveis. A curto prazo, parece impraticável em um mercado acostumado ao fast fashion. Porém, se observarmos a longo prazo, o investimento vale a pena.
Pode nos dar alguns exemplos?
O mercado de luxo está apostando nisso. Os exemplos só crescem: desde a reciclagem de tecidos vintage de acervo na Print Collection da Prada, o uso de embalagens de papel 100% reciclado pela Gucci, até coleções integralmente ecológicas, como as de Stella McCartney. O ciclo da moda está se ajustando, aos poucos, ao ciclo da natureza. No dia a dia, práticas, como o uso de ecobags para compras, a separação do lixo para reciclagem, o controle do consumo de água (ao tomar banho e escovar os dentes) e energia elétrica em casa (retirando os aparelhos da tomada) e a priorização de produtos ecológicos e sustentáveis, podem contribuir. Como cidadã, faço a minha parte e compartilho minhas descobertas no blog.
Isso quer dizer que moda e ecologia não estão em caminhos diferentes?
Acredito que isso seja um indicativo que elas estão iniciando um diálogo colaborativo. Algo bastante contemporâneo. Nas passarelas, a desaceleração das tendências é um indicador importante. Podemos conferir cores e modelagens que permanecem "na moda" por mais de duas temporadas. As releituras de décadas (ou séculos) passados é mesclada a projeções do futuro. Na última SPFW, por exemplo, entre tecidos tecnológicos e vinil, a Osklen apresentou uma proposta orgânica com tingimento natural - postando no Twitter os bastidores do processo manual de pintura, ganhando destaque por isso. Além do apelo ecológico, a ideia de resgatar a produção quase artesanal acresce valor e identidade à marca.