Flávia Duarte
postado em 28/07/2010 20:14
Veja a íntegra da entrevista com a médica hematologista Fabiana de Carvalho Serra, diretora Médica da Cryopraxis, sobre os Bancos de Sangue do Cordão UmbilicalHá quanto tempo descobriu-se que as células-tronco do sangue do cordão umbilical podem ser usadas em tratamentos de doenças como leucemia?
Há 21 anos. Desde então, um grande número de transplantes com células-tronco de sangue de cordão umbilical (SCU) são realizados anualmente em todo o mundo. Relatos desses transplantes demonstram que o SCU é um substituto eficaz da medula óssea na reconstituição do sistema hematopoético.
Quais as chances de as células-troncos do sangue do cordão de um bebê recém-nascido salvarem um irmão mais velho, por exemplo, que tenha a doença?
A chance de compatibilidade entre irmãos (de mesmo pai e mesma mãe) é de 25%.Uma maior semelhança confere maior segurança no transplante, maior possibilidade de ;pega; e minimiza os riscos da doença fatal que é a do enxerto-contra-hospedeiro.
O que é mais comum, hoje, nos tratamentos para leucemia: o transplante de medula óssea ou de células do cordão umbilical?
Desde que o primeiro transplante de SCU entre doadores não relacionados foi executado no Centro Médico da Universidade de Duke, quase 10.000 transplantes entre doadores não relacionados já foram executados em diferentes partes do mundo. A eficácia desses transplantes foi verificada em adultos e crianças com leucemias, crianças com hemoglobinopatias, síndromes de imunodeficiência, síndromes de falência da medula óssea e erros inatos de metabolismo.Por suas características, o sangue de cordão umbilical pode ser amplamente utilizado como substituto da medula óssea em casos de transplante, apresentando, ainda, as vantagens de possuir células mais jovens, com maior taxa proliferativa.Outra vantagem é estar pronto para o uso no momento da necessidade e não requerer um procedimento adicional invasivo (caso da medula óssea) para sua obtenção.
Como funciona o transplante da célula-tronco do cordão? Elas podem ser usadas futuramente no próprio "dono" das células?
O transplante do sangue de cordão umbilical funciona da mesma forma que um transplante de medula óssea. Entretanto, como as células estão congeladas e prontas para o uso, elas são enviadas ; congeladas, para o centro de transplante. Lá, elas são descongeladas, a qualidade e o número de células são verificados e, então, transplantados para o receptor. A viabilidade do uso pode ser comprovada por testes de rotina e chega a ser superior a 96%.Nos bancos públicos, uma vez feita a doação, estas células poderão ser requisitadas e não há garantia de uso pelo doador. Nos bancos privados ; autólogos, se ocorrer uma doença tratável com células-tronco autólogas ou, no caso de terapia celular, elas serão usadas pelo dono da célula.
A maior parte das famílias que optam por armazenar o sangue do cordão faz isso com qual intenção?
O sangue de cordão umbilical autólogo (para uso do próprio indivíduo do qual as células foram coletadas) tem as mesmas indicações de uso da medula óssea autóloga, com a diferença de que o sangue de cordão está congelado e disponível para uso, enquanto que a medula óssea depende de um processo de coleta invasivo. A motivação para o armazenamento depende do grau de informação dos pais. Alguns deles possuem, na família, casos de doenças hematológicas tratáveis com SCU autólogo. Outros têm informações sobre o avanço nas pesquisas pré-clínicas (com animais) e clínicas e apostam na terapia celular como a solução para doenças que hoje, a medicina convencional não possui.
Há pesquisas que mostram que as células-tronco do cordão poderão ser usadas para tratar outras doenças, como paraplegias, por exemplo?
Com os avanços das pesquisas que envolvem células-tronco e pela capacidade de as células oriundas do sangue de cordão umbilical formarem, além das células do sangue, células de outros tecidos, como ossos, cartilagens, neurônios, células cardíacas, entre outras, estas vêm apresentando crescentes aplicações, emergindo como primeira escolha no campo da área de Medicina Regenerativa.