Menstruar ou não? Bom seria se a resposta para esse dilema se resumisse a um simples sim ou não. A princípio, incômodos típicos da menstruação como enxaquecas, sensibilidade nas mamas, cansaço, tristeza e irritabilidade podem ser praticamente eliminados com o fim da menstruação. Mas, como tudo o que concerne ao organismo humano, cada caso é um caso. Se, para algumas, a interrupção da menstruação com hormônios é o mais indicado, para outras, uma simples mudança na alimentação pode ser a solução ideal.
O primeiro a levantar a bandeira da supressão da menstruação, ainda na década de 1990, foi o endocrinologista e ginecologista baiano Elsimar Coutinho. Na ocasião, ele publicou o livro Menstruação, a sangria inútil, no qual defende a interrupção da menstruação para tratamento e prevenção de males como endometriose, mioma uterino, anemia e TPM. Segundo ele, do ponto de vista endócrino, quando a mulher ovula é como se estivesse grávida. A menstruação seria, então, um aborto do óvulo não fecundado. Para Coutinho, esse processo mensal debilita a mulher e contribui para o desenvolvimento de doenças como anemia, miomatose, entupimento de trompa, doença pélvica inflamatória, ovário policístico, infertilidade, câncer entre outros.
Em resposta às críticas contra a interrupção, ele é categórico: "Meus argumentos são fundamentados em anos de pesquisa. Aos que se opõem, acredito que não conheçam o assunto, se conhecessem não poderiam ser contra. Muitos falam que as regras são um processo natural e são, de fato. Mas, seguindo essa lógica, o natural seria engravidar". Ele afirma que, antigamente, as mulheres tinham mais filhos e, portanto, menstruavam menos. "Elas passavam a idade fértil engravidando e amamentando. Hoje, elas têm dois filhos, menstruam cedo e entram na menopausa tarde. Quanto maior o número de menstruações, maior o risco de desenvolver doenças", argumenta.
Para alguns médicos, no entanto, a supressão da menstruação só deve ser receitada quando a mulher sofre a tal ponto com TPM ou cólicas que isso a prejudique. É a opinião do ginecologista e obstetra Roberto Sizenando. Mesmo quando opta por esse tipo de tratamento, ele sugere outros caminhos. "É importante fazer uma reflexão sobre a rotina muito intensa de trabalho, alimentação, sedentarismo entre outros aspectos." E alerta: "Não existe pílula anticoncepcional cíclica ou contínua que não tenha efeito colateral. Aumento de peso, retenção de líquido, diminuição da libido, sempre tem consequências, é o preço que elas têm que pagar."
Aém dos mitos
Para a tenente-coronel Soraia Almeida, 45 anos, que há três anos optou por um implante de hormônios para suprimir a menstruação, existe muito mito em torno do assunto. "Essa coisa de que a mulher perde a feminilidade ao interromper a menstruação é uma besteira, o feminino está na nossa cabeça, na nossa maneira de agir, não é um remédio ou o fato de eu não sangrar todo mês que vai me fazer perder a feminilidade", opina.
No caso dela, a medida foi a solução para um dilema que se arrastava desde os 30 anos. "Eu sofri com a endometriose a vida inteira. Tinha muitas dores e cólicas durante o período menstrual. Aos 30 anos, recebi o diagnóstico e passei a me tratar com pílulas, mas nada funcionava, passados seis, sete meses o organismo se adaptava e eu voltava a menstruar," revela.
A doença levou Soraia a realizar uma intervenção cirúrgica, além de outros tratamentos com hormônios, o que lhe causava desconforto devido aos fortes efeitos colaterais. "Na época, a medicina não estava tão avançada e eu tinha sintomas de menopausa. Foi horrível." De acordo com ela, a menstruação alimentava a endometriose e os miomas, por isso resolveu dar um fim ao sofrimento. "Estou sem menstruar há três anos e feliz por ter dado um fim a esse quadro. Seria ótimo que todas as mulheres que sofrem desses males tivessem acesso a tratamentos como esse. Infelizmente, o método é muito caro."
Soraia conta que também aumentou o peso no período de adaptação. "Ganhei uns 4kg, mas acredito que tenha sido de músculo porque o implante contém hormônios que estimulam a formação de massa muscular. Mas não faria esse tratamento apenas com fins estéticos, isso pra mim é secundário", pondera.