postado em 16/09/2010 17:52
Listras horizontais engordam. Estampas aumentam a silhueta. Roupas claras não caem bem. Salto fino fica desproporcional. Roupas curtas nem pensar. Vista preto sempre que possível. E sempre siga essas regras para não cair no ridículo. O mantra da moda para as gordinhas ; tão bem difundido nos guarda-roupas G, GG ou Extra-G ; estão com os dias contados. Ao redor do mundo, mais especificamente na blogosfera, belas moças loucas por moda e com quilos extras na balança decidiram rasgar o script fashion no qual a gordinha deve compor seu visual com modelos cuja única funcionalidade é disfarçar. Elas se vestem inspiradas no que é fashion e trendy, sem se preocupar se o modelo vai evidenciar os quilinhos a mais, ou não. Entre os adeptos desta nova revolução da moda estão nomes como Chanel, Alexander McQueen, Dolce & Gabbana, Fendi, Roberto Cavalli e Yves Saint Laurent ; todos anunciando futuras linhas de roupas plus size no mercado. E as blogueiras se posicionam na linha de frente. Afinal, foram elas que provaram para o mundo, por meio da internet, que dá para ser fashion independentemente do IMC (índice de massa corporal). As mais estilosas, inclusive, tornaram-se consultoras de poderosas revistas de moda como a Vogue italiana, a Glamour e de grandes lojas fast fashion interessadas em expandir a clientela. A Revista as entrevistou e descobriu como essas mulheres extremamente bem vestidas e inteligentes saíram do status de gordinhas inseguras para ícones da moda.
A internet como aliada
O fenômeno começou quando os lookbooks viraram mania, há menos de quatro anos. Eram centenas de blogs alimentados diariamente por fotos de meninas magrinhas e minuciosamente bem vestidas. Até que um dia uma gordinha resolveu que queria mostrar seus looks diariamente em uma página da internet, tal qual as magrelas faziam. E, para isso, sabia que não bastava postar fotos comuns. A essência do lookbook era justamente bancar um estilo ousado, atual e bacana ; um desafio para quem carrega pneuzinhos a tiracolo. Uma começou, outra gostou e fez o seu, e a cadeia foi crescendo exponencialmente. Eram dezenas de gordinhas estilosas que postavam suas fotos na internet e ganhavam cada vez mais leitores e seguidores. Em algum momento, as grande lojas e revistas as encontraram. E aí nasceu um novo filão do mercado: moda atual, das passarelas, para todos os tamanhos.
Uma das primeiras fatshionistas a ser descoberta pelo mercado da moda foi a jovem francesa Sakina, 28 anos, do www.saksinthecity.blogspot.com . Seu blog começou em maio de 2009. No fim do mesmo ano, Sakina recebeu um e-mail da superpoderosa revista Vogue italiana a convidando para ser colaboradora da seção ;curvas;, destinada a mulheres plus size. ;Eu tive que ler e reler o e-mail várias vezes para acreditar que era verdade;, conta. Daí em diante se tornou uma mulher famosa no mainstream da moda. Deu entrevistas para diversos sites, revistas e participou de uma conferência de blogueiras fatshionistas em Nova York, na qual a francesa Stephanie Zwicky, 34, outra blogueira estilosa entrevistada pela Revista, também participou. ;Para uma gordinha, se vestir bem é um grande jogo. Mas que vale a pena. Me faz muito bem me sentir uma mulher segura nesses belos modelos;, resume Stephanie, do www.leblogthebigbeauty.com.
Mas tanto sucesso, roupas fabulosas e autoestima em alta são uma fenômeno recente na vida dessas moças. Sakina, por exemplo, quando nova, era a típica menina fora do peso e frustrada. Odiava o corpo, se escondia sob roupas escuras e sem cortes, e fazia todo tipo de dieta para tentar eliminar as gordurinhas. Ela conta que as amigas sempre a convidavam para ir ao shopping, ajudá-las a escolher roupas estilosas. ;Eu escolhia as melhores peças e montava visuais super bacanas. Usava o corpo supostamente perfeito delas para desanuviar meus desejos fashions. Já que aquilo não era para mim, como eu pensava, me divertia às custas delas;, relata. A frustração de amar moda e não poder usá-la durou pouco. Um dia, resolveu ousar. ;Coloquei uns elementos mais descolados no meu look e lembro que nesse dia recebi vários elogios de amigos. Isso me incentivou a ousar progressivamente.; Daí surgiu seu estilo e, posteriormente, o blog.
Elas podem (quase) tudo
As francesa Sakina e Stephanie têm a vantagem de contar com um mercado muito mais preparado para as fatshionistas que o do Brasil. Não que por aqui não existam roupas adequadas para as cheinhas, mas, de fato, roupas realmente trendies, acima do GG, não são fáceis de encontrar. ;Não é assim tão tranquilo comprar em qualquer loja. Na internet, tem muita coisa para as plus sizes. Mas compro em lojas comuns também. Um vestido soltinho, feito para uma mulher magrinha, pode virar uma linda blusinha em mim;, ensina Sakina.
No entanto, mais do que aprender a usar a moda, ficar linda e conhecida pelo mundo, o que elas tiraram de melhor dessa experiência foi o aumento da autoestima. ;Saia lápis? Calça saruel? Há alguns anos eu jamais acharia que poderia vestir uma roupa que evidenciasse minhas curvas. Mudei minha visão do corpo perfeito e, desde então, ser magra não é mais um ideal para mim. Não vou mentir que eu não gostaria de emagrecer um pouquinho, porque sempre existe alguma expectativa lá no fundo;, afirma Sakina. Para ela, curvas são sexy e femininas, e aceitá-las tornam a pessoa ainda mais bonitas. ;Acho que temos uma longa estrada até o dia em que mulheres gordas não serão mais criticadas. Não existe apenas um tipo de beleza. Existem muitos tipos de belezas diferentes;, pontua.
Stephanie dá o caminho das pedras para as gordinhas que querem se assumir e bancar um estilo bacana. ;À medida que as roupas estilosas são feitas para um corpo maior, mas de forma ajustada, sem marcar muito, com boa largura e bom comprimento, a gente pode tudo!” Para a francesa, a única regra é evitar o exagero: ;Não usar um decote junto a uma minissaia. No mais, todas as loucuras são permitidas, contanto que nos sintamos à vontade nessas roupas. Isso é o mais importante;, completa. No Brasil, lookbooks de gordinhas realmente antenadas com as passarelas não são tão comuns, mas já começam a pipocar na rede. A blogueira gaúcha Keo Becker, do biggestilokeobecker.blogspot.com, é uma militante da autoestima das gordinhas. ;A beleza é truque, e privilégio de quem tem força de vontade suficiente para se fazer merecedor de ostentá-la. E isso não tem nada a ver com o fato de vestir 36 ou 48. A beleza é democrática e se faz direito de todas as mulheres;, diz em seu blog. E quem duvida?