postado em 17/09/2010 21:10
Reis, rainhas, vampiros, lobisomens e outros personagens encantam espectadores graças ao trabalho de diretores, elenco e produtores. Por trás do resultado final, outro grupo de profissionais trabalha para que a caracterização dos personagens seja impecável. São eles os designers de maquiagem, que entram em cena com uma paleta de cores, pincéis, esponjas e outros artifícios para criar figuras fantásticas e históricas no cinema, no teatro e na televisão.Formada em artes e efeitos especiais pela University of the Arts em Londres, Lisa Sassi, 37 anos, é uma dessas ilusionistas do make-up. No case da especialista, não podem faltar: colírio para deixar os vilões com olhos bem vermelhos, tinturas que simulam sangue, além de outros pigmentos opacos e oleosos para ampliar opções de efeitos. De volta a Brasília, cidade onde nasceu, Lisa ministrou uma oficina pelo Festival Mulher em Cena, no Teatro Nacional, no início do mês.
Durante três dias de aula, ela falou sobre os primeiros mil anos de maquiagem e ainda propôs aos alunos que colocassem a mão na massa. Atenta aos movimentos dos participantes, Lisa checou acertos e erros. ;Temos apenas uma hora para caracterizar o ator ou a atriz. Trabalhamos sob pressão.; Por isso mesmo, no segundo dia de oficina, ela exigiu dos alunos a desenvoltura necessária para retroceder no tempo e transformar rostos comuns em nobres da corte de Elizabeth I.
Curiosa, Érica Rodrigues, 19 anos, estudante de artes cênicas da Universidade de Brasília (UnB) e sua amiga Nayra Mesquita, 19, atriz, aplicaram, uma na outra, os ensinamentos sobre a maquiagem elizabetana: rosto muito branco, sobrancelha fina e arqueada, lábios pequenos da cor de carmim. ;Estou adorando a oportunidade de aprender algo novo. São técnicas que não aprendemos em outros cursos na cidade;, ponderou Érica.
Lisa também sentiu que a capital não atendia essa demanda e, por isso, investiu num curso técnico, numa especialização e bacharelado em maquiagem artística fora do país. O desejo de apostar na profissão surgiu de forma natural, enquanto cursava artes cênicas na UnB. ;Como tinha certa dificuldade em atuar, era muito tímida, enveredei pelo backstage dos espetáculos. A maquiagem foi algo inconsciente, até mesmo porque, quando criança, sempre observei minha mãe se maquiando;, recorda.
De 2000 a 2009, Lisa aprendeu todos os recursos para criar a fantasia que nos surpreende nas telonas e nos palcos. Chegou a estagiar no musical O Rei Leão, em Londres, onde fez a manutenção e os retoques das perucas, outra especialidade da designer. Sem disfarçar, Lisa afirma que a profissão não é nada fácil. ;Além de investir num bom curso superior e em especializações, é preciso frequentar bibliotecas, museus e outros espaços culturais para pesquisar referências históricas;, aconselha.
Compreender, por exemplo, por que no século 16 a camada popular da Inglaterra misturava claras de ovos, talco e outros materiais para deixar o rosto branco e ;envernizado; é apenas o primeiro passo para entender a relação entre cultura e maquiagem. ;No final, adaptamos este e outros referenciais ao trabalho de criação de personagens que seguirão surpreendendo e encantando o público;, arremata.
Dicas para apostar nessa profissão
>> Fazer um curso superior e especializações na área
>> Pesquisar referências históricas em bibliotecas, museus e outros espaços culturais
>> Comprar produtos de maquiagem apropriados
>> Investir num case de maquiagem completo: vale incluir desde esparadrapo a máquina de barbear
>> Priorizar higiene e limpeza de pincéis e esponjas a fim de evitar qualquer contaminação
>> Ter muita paciência e humildade para lidar com o público
Um pouco de história;
As primeiras referências visuais de maquiagem foram encontradas em 5.000 a.C., em estátuas e pinturas. Jarras e potes com vestígios de óleo vegetal e gordura animal misturados a pigmentos são alguns dos vestígios que identificaram no Egito o interesse pela maquiagem. Os egípcios gostavam muito de cuidar da pele e transformavam esta rotina em rituais. Misturas aromáticas de ervas, óleos para massagem e banhos eram usados antes da aplicação da maquiagem. Para os tratamentos, este povo utilizava lama, leite, ovos de avestruz e farinha sobre o rosto e corpo. É importante dizer que estes hábitos eram inicialmente monopolizados pelos sacerdotes durante os ritos religiosos. O resultado final da maquiagem era bastante andrógeno e unissex. Sabe-se que o delineador preto em volta dos olhos agia como um protetor, como se fossem óculos de sol, já que o pigmento escuro absorve a luz. As formas de aplicá-lo mudavam de acordo com o período no Egito Antigo. Dizem que Cleópatra usava azul-escuro na pálpebra superior e verde sob os olhos.
(Fonte: Oficina de maquiagem: Os primeiros 1000 anos, ministrada por Lisa Sassi)