postado em 01/10/2010 14:29
Libriana, a atriz Maíra Oliveira, 33 anos, vê beleza no improvável. Sentada no sofá da casa da avó, passa os olhos por uma revista de fofocas e agarra a chance de transformar um flagra na praia ou uma lua de mel nos Alpes em mais uma paleta de cores para guardar em caixas. Revistas de celebridades e de notícias são as mais cobiçadas. Isso porque a espessura da folha cai como uma luva, ou melhor, como uma garoa de letras, tons e semitons sobre a cartolina onde ela vai se debruçar para criar o próximo mosaico de papel.A arte começou como uma brincadeira em forma de projeto de uma disciplina do curso de artes cênicas da Universidade de Brasília (UnB). Em 1997, o projeto final tinha tema e suporte livres. ;Pensei logo no que parecia mais fácil e embarquei no mosaico.; Como Maíra não sabia desenhar, mas sabia imitar o desenho dos outros, subiu em A arca de Noé, LP de Vinicius de Moraes, e foi atrás da coruja. De uma pequenina, fez outra grande para abrir as asas na superfície branca de mais de um metro e meio de largura e de altura.
Em casa, a família ficou boquiaberta. Na universidade, a reação não foi diferente. ;A turma gostou, tirei SS (nota máxima). Como assim gente? Não entendi;, surpreende-se 13 anos depois. Também pudera; Desde menina, Maíra sabia como ser atriz, não artista plástica. Com o pai, Ary Para-Raios, criador do Esquadrão da Vida, ela aprendeu o teatro de rua e do tablado. Talvez por isso, encabule-se com outra verve artística. Por isso, a atriz, diretora e acrobata do grupo balzaquiano acredita que qualquer hobby deve seguir a risca um destino despretensioso.
Agenda lotada, ocupada por espetáculos, temporadas e ensaios, Maíra arranja tempo, vez ou outra, para tirar as caixas do armário e reinventar a disposição de recortes de notícias. Na última semana, por coincidência, começou a criar um mosaico para uma amiga. Para a atriz, só tem graça fazer quando é presente para os outros. A prima que se casou, por exemplo, ganhou uma macieira no outono. Agora, é a vez de um girassol, prometido para a atriz Nara Faria, iluminar a sala de Maíra.
Ela cola pedaço por pedaço das pétalas amarelas enquanto um CD da cantora inglesa Nellie McKay, num tributo à Doris Day, roda no aparelho de som; ;Televisão atrapalha, mas música só ajuda. Mesmo quando para de tocar, continuo ali, concentrada, em estado meditativo.; O trabalho manual acalma a atriz. ;Esvazia a mente;, diz Maíra, que dispensa qualquer ajuda para manusear uma furadeira ou consertar qualquer coisa em casa. Fazer mosaicos, pregar quadros, armar estantes; botar a mão na massa lhe faz bem.
Agora, quando o assunto é ;desbagunçar; ; como ela mesma diz ; folhas e mais folhas, revistas, cola e pincel, Maíra adoraria ter uma ajudinha. Ainda assim, diverte-se com uma arte que não precisa levar a sério, mas que deve concluir em, no máximo, três semanas, ;se não perde a graça;. Até porque, para essa inquieta atriz, mais vale um girassol na mão do que meia dúzia de revistas numa gaveta.