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Entrevista com Ronaldo Fraga

postado em 08/10/2010 14:31

Por Carolina Samorano//Especial para o Correio

O estilista Ronaldo Fraga é um dos que desfila sua linha infantil, Ronaldo Para Filhotes, na Fashion Week Kids, que já está na sua décima segunda edição. Ele se recusa a vestir as meninas de miniadultos. ;Jamais faço réplicas. Tento ao máximo me desviar dessa armadilha;, afirma. Confira a seguir a entrevista com o estilista.

Qual a diferença entre fazer roupa para criança e para adulto?
Por mais liberdade que eu tenha para fazer roupa para adulto, eu tenho muito mais para fazer para criança. Na linha infantil, tento sempre trazer os tecidos naturais, como algodão e linho, que são superconfortáveis, valorizar bem as estampas e a coleção tem sempre uma história de afeto, algo que valorize a cultura brasileira, seja nas estampas, seja na hora de conceber a coleção. E, se no adulto rola uma preocupação de traduzir tendências e fazer algumas peças que despertem desejos de consumo, um pouco mais curtas, por exmeplo, no infantil não tem. Eu acho uma brincadeira muito divertida.

As crianças estão mais ligadas à moda?
Elas estão mais ligadas a tudo. A criança hoje não é a mesma de 10, 15 anos atrás. Isso é fato. São bombardeadas com informação o tempo todo. Mas criança será sempre criança. Os olhos vão sempre brilhar por coisas que trazem afeto.

Qual o grande problema dessa vaidade?
Existe hoje um processo de erotização do universo infantil. Na prática, isso significa crianças de salto alto, de calça colada dourada e muita maquiagem. Muito disso é culpa dos pais. Alguns deveriam ser interditados (risos). Eu tenho muito cuidado com isso, não faço réplicas. Sei que é um desejo natural das crianças de se espelharem nos pais e quererem sair por aí como eles, mas eu tento me desviar dessa armadilha. Criança pode escolher o que quer até certo ponto, mas depois esse papel é dos pais e ponto. É só sair na rua para ver crianças de saia e salto por aí. É um escândalo. Quando eu comecei a fazer roupa para crianças, as pessoas me diziam que isso era o que vendia e que eu não teria como escapar dessa coisa comercial. Falei ;não, não vou por aí;. E eu estava certo. Minha marca não faz isso, mas tem muita criança de 5 anos hoje que quer ser a Cláudia Leitte.

Você tem dois filhos. Quem escolhe a roupa deles?
Meus filhos vestem até roupa com defeito da confecção (risos). Levo tudo lá para casa! Por eles serem meninos até que não tem tanto essa coisa da roupa. Mas eu tomo muito cuidado. Por exemplo, eles não assistem televisão. A coitada da babá até sofre porque ela fica sem ter o que fazer.

Você uma vez disse que tem horror a criança assediada por milhões de grifes. Como elas são assediadas?
Quando eu digo grife, eu quero dizer mais do que marca de roupa. É iPod, iPad, roupa de marca e mais não sei o quê... Elas ganham isso antes até de completar 5 anos. Para você ter uma ideia, nos Estados Unidos as prateleiras mais caras do supermercado ficam na altura dos olhos das crianças. Tenho horror disso.

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