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Uma mãozinha para o acaso

Depois de anos investindo na carreira, você percebe que o tempo passou e a vida amorosa ficou em segundo plano. Cada vez mais, pessoas com essas características recorrem a agências e sites de namoro em busca de um amor

postado em 15/10/2010 20:32

Eduardo e Mariana se conheceram em um grupo de relacionamento virtual: pouco tempo depois, estavam casados e com uma filhinha, Larissa

Há quem celebre o amor surgido de encontros ao acaso, e o cinema reforça essa ideia a cada nova comédia romântica. O que os roteiristas hollywoodianos não contam é que, na vida real, esses acasos, muitas vezes, esbarram na crescente necessidade das pessoas de focar em suas carreiras. Como consequência, milhares de homens e mulheres bem sucedidos na profissão ficam sem tempo para relacionamentos. Muitos findam tendo sucesso no trabalho, mas sem ninguém para, no mínimo, fazer um cafuné ao fim do dia.

O que essas pessoas querem, além de um amor para chamar de seu? Praticidade. O jogo da paquera demanda esforço, tempo e uma disposição que muitos não têm. E, se antes, as agências e os sites de relacionamento conseguiam interessados apenas entre os muito tímidos, hoje, é com os que trabalham demais que elas fazem sucesso. ;Nós temos 30 milhões de perfis registrados e recebemos 400 mil novas adesões todos os meses. O que existe é uma mudança de atitude: com mais trabalho e menos tempo, as pessoas veem seus círculos diminuírem e nos procuram;, afirma Claudio Gandelman, presidente do Par Perfeito, maior site de relacionamentos do país.

De acordo com Gandelman, 41% dos cadastrados têm entre 25 e 35 anos, justamente a fase da vida em que a carreira é colocada em primeiro lugar. ;No restante, 37% estão acima dos 35 e 22%, entre 18 e 24 anos;, completa. Cobrar ou não taxas para inscrição e manutenção do perfil é indiferente para os que se aventuram em amores que forçam o acaso. Como na história do analista de crédito Eduardo Soares, 37 anos, e da securitária Mariana Heri Inoue, 38. O casal se encontrou por meio de um grupo virtual gratuito para balzaquianos solteiros. Apesar de a primeira intenção ter sido apenas conhecer pessoas, eles viram seus estados civis mudarem depois disso. Casados há três anos e meio, os dois já têm até uma filha, Larissa, de dois anos. ;Nunca imaginei que pudesse conhecer meu marido na comunidade. Quando entrei, havia saído de um relacionamento longo e não queria namorar de novo. Mas aconteceu;, resume Mariana. Eduardo também não esperava encontrar o amor: seu pensamento ia na direção contrária. ;Normalmente, os homens entram nessas porque querem pegar geral. Só que acabei me apaixonando.;

Sem conhecer quase ninguém em Brasília, o gaúcho Jorge Sarkis recorreu a uma agência para fazer amizades

Sejam balzaquianos ou recém-saídos da adolescência, não há idade para o romantismo, nem formas de se conhecer a pessoa amada. Mas, com a experiência, fica visível que a máxima de que os opostos se atraem parece só dá certo mesmo na física. Que o diga Ricardo Amaral. O advogado de 46 anos, que já foi casado, decidiu que agora só se relaciona com mulheres que compartilhem dos mesmos gostos que ele. E, para ajudá-lo, inscreveu-se em uma agência, na qual estipula em seu perfil o que busca. ;Claro que não há fórmulas mágicas para que um amor dê certo. Mas a agência viabiliza o encontro com mulheres que tenham os mesmos objetivos que os meus. Pode sim dar errado, mas ajuda muito;, garante. Ricardo também afirma que o trabalho reduz drasticamente seu tempo, e o barzinho à noite, muitas vezes, é trocado por processos.

;Isso nos torna mais exigentes, porque já passamos por muito na vida. Minhas filhas estão criadas, eu sou feliz na minha profissão. Agora, quero encontrar alguém que deseje o mesmo que eu, e acredito que a agência pode me ajudar.; O advogado conta que, no início, tinha preconceito: achava que agências de relacionamento eram para os antisociais. ;Depois de sair com algumas mulheres que conheci por meio dela, percebi que minha visão estava errada. Pode parecer engraçado quando falamos para as pessoas. Contudo, é mais uma forma de encontrar alguém e ser feliz.;

Mesmo assim, muita gente prefere não assumir que participa desse jogo de amor. É o caso da bancária Ana, 40 anos, que não quis dar o sobrenome. Para ela, esse modo diferente de procurar um namorado ainda pode assustar os mais próximos. ;Acho a ideia legal, mas também absurda. Porém, saí com quatro pessoas e foi uma experiência muita interessante.; A bancária acha que a proposta de unir apenas quem tem interesses comuns dá uma força a mais para que a relação engrene. ;Imagine se você detesta cachorros e tem que se relacionar com um veterinário? Não dará certo. A agência evita que isso ocorra. Mas os esforços para que o amor se mantenha são iguais a qualquer relacionamento.;

Sinceridade é bom e eles gostam!
As agências, sejam elas virtuais ou reais, funcionam em um processo semelhante: ao se cadastrar, o usuário preenche um ficha na qual coloca todos os seus gostos. E todos aqui não é força de expressão. Cor do cabelo, dos olhos, altura, grau de instrução, nível salarial, hobbies. Essas informações são necessárias para que, ao se cruzar os dados, os que têm gostos parecidos tenham mais chances de se encontrar. Só que mentir é fácil, mesmo que isso seja uma atitude quase oposta ao desejo de manter um caso sério. ;Aqui, se a pessoa mente, marca encontro e não vai, combina de ligar e não liga ou é grosseira, o cadastro é retirado. É a forma que temos de controlar;, afirma Edson de Souza, proprietário da agência matrimonial Anjo Meu, que tem 12 mil cadastrados em todo o Distrito Federal e funciona por meio do telefone: todos os dias, o usuário pode ligar para saber se alguém mais foi adicionado ao seu perfil.

Para dar mais segurança aos usuários desse tipo de serviço, o governo do estado de Nova York, nos Estados Unidos, por exemplo, aprovou uma lei na qual os sites de encontros devem alertar, em suas páginas, sobre os riscos que os usuários correm ao sair com alguém que conheceu na rede. As dicas envolvem não dar o endereço ou mesmo o número do celular, além de não fornecer dados, no primeiro encontro, como onde trabalha. A medida soa exagerada, já que um pretendente mais entendido pode conseguir essas informações em buscas rápidas na internet, mas não deixam de ser necessárias.

A possibilidade de construir uma imagem traz riscos também para os que criam personagens na esperança de parecerem mais atraentes. De acordo com a terapeuta de casais Marília Lohmann Couri, é preciso que os usuários façam uma autoanálise, mais ainda os que usam a internet. ;Eles têm que se perguntar: ;Será que me escondo atrás da tela?;. A grande questão é definir o que se busca, já que, de modo geral, as agências e sites de relacionamento são formas positivas de encontrar alguém. Mas seu uso depende da maturidade de cada um.; Ela explica que muitas pessoas têm fragilidade emocional acentuada e podem acabar se relacionando com pessoas que não são totalmente sinceras.
Contudo, Marília pende mais para o lado das vantagens trazidas pela experiência de se cadastrar em um site ou agência de namoro. A psicóloga atesta que o isolamento provocado pelo trabalho é maior atualmente. Ao se limitar o círculo de relações aos colegas de profissão, muita gente perde oportunidades de conseguir um caso amoroso. ;Por meio dos sites e agências, pode-se conhecer outras pessoas que tenham os mesmos interesses, além de ajudar quem não tem tempo. Eles fazem com que todos se abram mais.; A terapeuta faz questão de lembrar que fugir dos acasos do amor não é uma novidade. ;Meu pai era psiquiatra e há 50 anos fazia parte de uma agência de namoro, analisando a personalidade das pessoas e ajudando-as a se encontrar.; E, se depender dos dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), divulgada pelo IBGE, as agências de namoro serão famosas por muito tempo. Atualmente, mais de 62 milhões de brasileiros são solteiros.

Érika Queiroz, que se autointitula coach em relacionamentos e mantém um blog dedicado a contar histórias de amor que começam pela rede, diz que é preciso muita pesquisa antes de dar início à caça. ;Se você é evangélico, talvez seja mais interessante buscar um site apenas para pessoas evangélicas. Pois, se a religião do parceiro tiver que ser a mesma que a sua, num site genérico você vai receber mensagens de pessoas de qualquer religião ou mesmo sem;, exemplifica. Outra dica é não ter medo de gastar. Érika garante que os sites pagos são mais confiáveis, pois tendem a impedir a entrada de pessoas sem interesse em relacionamentos. ;No caso das agências, seria bom fazer uma visita sem compromisso e tentar descobrir histórias que deram certo, até mesmo conseguir contatos de pessoas que já usaram o serviço;, completa.

Namoro ou amizade?
Sem tempo para cair na balada, o advogado se inscreveu em uma agência: encontro com mulheres que tenham gostos parecidos com os seus

Os sites e as agências de relacionamento não funcionam apenas como um canal para o início de um romance. As relações fraternais também podem surgir com uma mãozinha deles. Foi assim que o engenheiro Jorge Sarkis, 38 anos, conseguiu um maior grupo de amizades em Brasília. Nascido no Rio Grande do Sul, ele diz que conhecia gaúchos quando chegou aqui, mas eram poucos. ;Chegavam os fins de semana e, muitas vezes, estava sozinho. Como você não sabe o que as pessoas querem em festas, procurei a agência. Lá, todos já sabem o que buscam.; No caso dele, mais amigos. O engenheiro conta que falou com diversas pessoas interessantes, o que o ajudou ; e muito ; a se adaptar na cidade. ;Não acho que Brasília seja um local de gente fria. Mas você tem que procurar. Hoje, abri muito o meu leque de relações e não perco nenhum momento de lazer.;

Esses momentos podem até ser patrocinados pelas agências. Há cada 15 dias, Edson Souza, da Anjo Meu, promove bailes que garantem a interações entre os clientes. Ele conta que as festas são idênticas a quaisquer outras, com uma diferença primordial: quase todos os participantes estão procurando um relacionamento sério. ;Há os bailes que são direcionados para quem tem entre 18 e 40 anos e para os que têm de 40 até 85 anos. Fazemos também o baile dedicado aos evangélicos, sem bebidas alcoólicas e com música gospel;, enumera.

Ele lembra que não há tempo certo para a pessoa certa, e que as agências existem para garantir um contato mais rápido e que traga, pelo menos inicialmente, a certeza de que o amor pode ser eterno. Ele mesmo é prova da eficácia do serviço: casou-se com uma das cadastradas em sua empresa. ;Foi algo que não seguiu a minha prática, mas não deu para resistir.;

As mentiras que todos contam
O site americando Gizmodo fez uma pesquisa que analisou quais são as maiores mentiras contadas por aqueles que estão nos sites de relacionamento. Como a fiscalização de todos os usuários é impossível, cabe a você tentar não cair em uma roubada.

- Todos são, normalmente, cinco centímetros mais baixos do que informa o perfil.
- As fotos mais belas, quase sempre, representam a pessoa dois anos antes da criação do perfil.
- Os salários são 20% menores do que os declarados.
- 80% dos que se declaram bissexuais querem somente parecer mais descolados em relação ao sexo ; e consegui-lo mais facilmente ;, já que mandam mensagens apenas para um gênero.
Fonte: http://gizmodo.com/5586987/the-big-lies-people-tell-in-online-dating

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