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Nem tão distantes assim

Você adora bichinhos de estimação e descarta a hipótese de criá-los porque é alérgico? Especialista no assunto garante: essa convivência é possível, desde que algumas regras sejam respeitadas

postado em 11/11/2010 16:17

Neila mantém as alergias sobre controle, mesmo convivendo com os animaisEsqueça o pensamento radical, segundo o qual alérgicos e animais jamais poderão formar uma dupla amistosa. Cães e gatos podem conviver com pessoas que sofrem desse mal, desde que sigam algumas orientações. Manter a casa e o animal limpos, sobretudo se o bichinho for criado em apartamento ou dentro de casa, é a principal recomendação da presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (Asbai) no DF, Marly da Rocha Otero.

;O animal costuma lamber o corpo, o que libera a proteína (na saliva) que causa as crises alérgicas. Por isso, é importante que ele tome banho pelo menos uma vez por mês;, explica, descartando a ideia de que apenas os pelos são desencadeadores de reações alérgicas. Para descobrir exatamente quais são as causas do problema, existem testes específicos, que identificam se a pessoa é de fato alérgica a alguma substância liberada pelo animal ou a outros fatores, como o ácaro.
Independentemente da substância que causa reação alérgica e do tipo de crise, as alergias são sempre genéticas. Por isso é importante que, se os pais têm histórico, mantenham rigidez na prevenção das crises nos filhos, como evitar a entrada do animal no quarto das crianças. Entre os diversos sintomas, o espirro, o chiado no peito, a dermatite na pele e a coceira estão ligados a processos alérgicos, como a rinite.

Quando a alergia aos animais é diagnosticada, é possível que nem mesmo a higiene dos ambientes seja suficiente para inibir as crises. Neste caso, recomenda-se um tratamento específico, normalmente a chamada imunoterapia. Trata-se de aplicações contínuas de vacinas feitas a partir da substância a qual o paciente é alérgico, até que o organismo se torne imune. Somente os médicos especialistas em alergia são autorizados a manipular ou prescrever as vacinas.

Para evitar a separação

Segundo o médico alergista Roberto Ronald, uma forma muito simples de minimizar o risco de reações alérgicas é passar óleo mineral ; facilmente encontrado em farmácias ; no pelo dos pets após o banho semanal. ;Isso muda a consistência da caspa do cão e impede que ela esfarele e fique no ar;, explica. O hábito, porém, pode não ser suficiente para proteger crianças muito alérgicas. ;Em casos mais sérios, não aconselho que haja um animais domésticos em casa. Eles soltam no ambiente substâncias que atraem uma série de microinsetos, como o ácaro, que também causam alergia;.

Segundo Ronald, o ideal é que um especialista seja consultado para que o melhor seja feito, considerando que cada caso é um caso. ;Tive um paciente que era asmático e tinha um cachorro como único companheiro. Não pude orientá-lo a se desfazer do animal, mas recomendei que seguisse algumas medidas para preservar a saúde;, lembra. De acordo com o alergista, novos estudos indicam a importância de um bichinho na vida das crianças, inclusive na prevenção de problemas de saúde.

A psicóloga Giovanna Guiotti confirma os benefícios desse convívio. ;Para crianças pequenas que têm dificuldades de interação social e que são mais tímidas, os cães podem ajudar a reduzir o sentimento de solidão, assim como encorajar a empatia.; Se o quadro alérgico for incontornável, Guiotti sugere que o animal seja transferido para um lar conhecido. ;De preferência onde o dono possa visitá-lo às vezes, ou, pelo menos, de onde obtenha notícias.; Além disso, a especialista recomenda a aquisição de outro bicho de estimação, não alérgico.

Insistência recompensada
Criada com animais de estimação desde a infância, a professora de dança Neila Baldi, de 35 anos, não tinha histórico de alergia até cinco anos atrás. Antes de se mudar para Brasília, em março, ela morou em São Paulo ; onde criou dois cachorros ; e teve forte crise alérgica. No exame feito para diagnosticar a causa da urticária intensa, foi detectada reação à poeira, à poluição, a acaro, a pêlo de animal e a material de construção. ;O especialista disse que era uma alergia leve, mesmo assim tive de tomar antialérgico por um ano. Depois disso, o tratamento foi à base de acupuntura e homeopatia;, conta.

Hoje, Neila cria os cães sem raça definida Guri, de pouco mais de 1 ano, e Rabicó, de 4 meses, e um gato que ganhou de uma amiga quando chegou a Brasília. Em junho, no entanto, a proprietária dos bichinhos teve nova crise alérgica. ;Fui ao especialista e ele pediu que eu os mantivesse longe da cama e do sofá, principalmente;, lembra. O trânsito dos animais pela casa era livre, mas agora a professora faz o que pode para evitar os pelos. ;Eles já entenderam, mas, às vezes, ainda insistem, principalmente o Rabicó, que é filhote. Tenho reações tão intensas que preciso varrer a casa o tempo todo.; No entanto, a dona descarta a possibilidade de se desfazer dos bichinhos. ;Pelo menos, por enquanto. Adoro animais, sempre tive em casa e tenho boas recordações com eles;, afirma.

Previna-se

Limpar a casa e mantê-los no quintal não tem resolvido o problema? A imunoterapia específica é uma solução para continuar com os companheiros em casa. Saiba como usá-la de maneira proveitosa:
- Somente especialistas em alergia com autorização podem fazer o tratamento.
- As vacinas só devem ser aplicadas quando houver indicação precisa.
- O profissional deve identificar os causadores de sensibilização antes do tratamento, para que essas substâncias sejam aplicadas no tratamento.
- A imunoterapia é indicada nos casos mais graves, quando não há alternativas práticas.
- Como se trata de um tratamento, os medicamentos controlados devem ser mantidos até que haja eficácia da imunoterapia.
- Mesmo com o tratamento, é necessário manter a higiene dos animais e da casa, assim como as demais orientações do especialista.

Agradecimentos: Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (Asbai)

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