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Ela cresceu e apareceu

A designer Camila Klein começou a fazer bijuteria para as amigas de escola. Hoje, vende para cinco países, além do Brasil

postado em 22/11/2010 13:05

Belo Horizonte ; Pode ser que você não conheça a Camila Klein. Mas já deve ter visto alguém usando alguma bijuteria feita por ela. Seu design é muito peculiar. Anéis enormes, colares cheios de personalidade e pedraria colorida. Após 10 anos de carreira, Camila está firmando o seu nome na moda nacional. No Minas Trend Preview, no início de novembro, desfilou uma coleção pela primeira vez. Tem cinco lojas no Brasil ; Rio de Janeiro e São Paulo ; e ano que vem vai abrir mais duas em São Paulo. Além dos endereços próprios, ela vende em outros 250 pontos no Brasil. ;Brasília e Florianópolis são mercados bem expressivos;, disse, em entrevista exclusiva à Revista.
Aos poucos, Camila Klein está sendo descoberta pelo mercado internacional. Suas peças já apareceram na Elle americana. Ela vende para Dubai, Japão, Itália, França e Áustria. E foi convidada pela Swarovski Elements para fazer uma coleção exclusiva. Receberam o mesmo convite nomes como os estilistas Jonathan Saunders, Jean Paul Gaultier e a modelo Daisy Lowe. Essas peças estão sendo vendidas em cinco lojas-conceito da Swarovski no mundo.
Apesar do sucesso grande, Camila começou fazendo bijuteria em casa para as amigas de colégio. Após se profissionalizar vendia suas peças para multimarcas como Le Lis Blanc, Bob Store e Spezzato. Até que criou a marca própria. Atualmente, ela tem uma fábrica em São Paulo com mais de 100 funcionários.

A designer Camila Klein começou a fazer bijuteria para as amigas de escola. Hoje, vende para cinco países, além do Brasil
A sua bijuteria é muito refinada. Ela consegue substituir uma joia?
A maioria dos meus clientes é de compradores de joalheria. O mercado de joias é muito exclusivo e pequeno. Se você quiser comprar um anel de ouro, tem que desembolsar muito dinheiro. Quem já usufruiu de uma época em que era viável comprar e usar joia no dia-a-dia, ficou sem espaço atualmente. O ouro está muito caro. Quando essa mulher olha na vitrine um anel como o meu e vê que dá para comprar, ela não hesita. Você pode ver que as joias hoje em dia tem um aro de ouro e uma pedra enorme em cima. Por isso está havendo essa mudança.

Mas o preço do seu produto não é de uma bijuteria comum. Por quê?

Quando a gente fala de design, várias coisas são envolvidas. Não é só um anel de metal. Exige pesquisa, estudo de muitos meses e dedicação para descobrir o melhor caminho de montar uma peça. É preciso desenvolver uma técnica de montagem, desenhar a modelagem. Sou eu que crio as ferramentas e as ferragens. Tem peças que demoram dois meses para ficarem prontas. Tenho que mandar lapidar as pedras para caber em um suporte específico, nós desenvolvemos banhos especiais para criar uma coloração única, as pastilhas para ter uma comodidade nos aneis, tenho que pagar a modelista. É uma série de coisas muito detalhadas para resolver. O preço não é só pela marca, é pelo trabalho de desenvolver cada peça. Ainda tem o material, eu só uso cristais Swarovski. São essas coisas que fazem com que o nosso preço seja um pouco mais caro que o de mercado.

Que designers de joia e bijuteria você usa?
Eu só uso Camila Klein. A gente tem que usar o que gosta. É por isso que eu comecei a fazer biju. Porque, na época, não tinha coisa que eu gostava. Comecei a fazer para mim e as minhas amigas começaram a pedir para fazer para elas.

Como você começou a levar isso a sério?
A minha primeira peça foi um cordão de tecido que eu passava uma cera. Todas as meninas do colégio usavam. Comecei assim: fazendo acessório para as amigas da escola. A minha mãe era dona de confecção e fazia vestidos. Sempre tive contato com a indústria da festa. Eu vendia muito na época, fazia e vendia bijus o dia inteiro. Um dia minha mãe me obrigou a parar, pois eu não estava estudando direito.

Quando você resolveu voltar?
Só voltei depois da faculdade. Fiz três anos de arquitetura, mas me formei em artes plásticas na escola de Belas Artes de São Paulo. Resolvi me profissionalizar. Fiz curso de joalheria e para poder desenhar joias. Mas eu gostava mesmo de fazer bijuterias. Sempre achei que tinha muita coisa para ser feita nessa área no Brasil. Eu sou autodidata no mundo do acessório. Na minha época, não tinha cursos, fornecedores e ferramentas como tem hoje. Estudei muito, procurei muito. Trilhei o meu caminho sozinha, pedra por pedra.


Por que bijuteria e não joia?

Eu saí da joalheria porque me prendia muito. Eu ficava dois, três dias fazendo um anel e se não gostava do resultado final, tinha que começar tudo de novo. Na bijuteria, se tem mais liberdade e mobilidade de criação, você pode não gostar da peça e mexer. Pode-se trabalhar com a mistura de materiais. Na última coleção, brinquei com camurça, pedra natural, cristais Swarovski. Além disso, quando comecei era uma menina. Não tinha acesso livre a matéria-prima como o ouro e as pedras preciosas e, por isso, não conseguia criar o efeito que crio hoje com a minha bijuteria. A minha mãe não me deixava brincar com o ouro e investir em pedrarias. Isso é muito caro. Não descarto um dia trabalhar com joia, mas agora não é o momento.

O mercado internacional é tão aberto ao seu trabalho como o nacional?
Como todo lugar, existe um começo. Estou há 10 anos no mercado aqui. Frequento feiras, apresento produtos. Lá fora é o mesmo trabalho de formiga. Esse ano estou colhendo bons frutos. Consequência dos quatro anos que estou fazendo feira internacionais. A Swarovski contribuiu muito para isso. Ela realmente abraçou a gente.

As feiras de compradores são a melhor forma de expor o seu trabalho ou você diria que são os desfiles?
O contato com os clientes nessas feiras é muito importante. Para você conhecê-lo, como ele se comporta, o que ele compra. Isso é insubstituível. O desfile é bom para você ousar um pouco mais na coleção: mostrar as tendências, as inspirações e os pontos fortes. O ideal é fazer as duas coisas juntas. O Minas Trend Preview é bom por causa disso. Você trabalha o lado comercial e pode fazer o desfile. Eu recebi o convite para fazer o desfile, não estava esperando por isso. Foi uma loucura, pois estou fazendo muita coisa ao mesmo tempo. Acho que a bijuteria está conquistando o seu espaço. Espero que isso cresça mais.

Nós já temos uma identidade na linha de acessórios no mercado exterior?
O Brasil está se superando muito nessa parte de joalheria. Estamos criando uma identidade e um estilo. Mas isso é muito difícil. A maioria das joalherias acaba copiando muita coisa de fora. Os que se destacam, como Jack Vartanian e Carla Amorim, tem uma identidade própria. São pessoas bem sensíveis no que fazem.

De onde vem sua inspiração?
Sou uma pessoa observadora em relação as mulheres. Sinto que elas estão com um desejo de transformação grande. De se comunicar, ter uma identidade e um estilo. Na minha época, era diferente, as meninas queriam ser todas iguais. Essa geração de meninas de 20 e poucos anos é mais segura. São mulheres que querem ter mais personalidade, acreditam mais no seu gosto pessoal e têm mais informação de moda. A gente está buscando essa mulher que já tem o básico e agora quer ousar.

Como você definiria o seu design?
Sou muito detalhista. Chego ao extremo. As meninas que trabalham comigo colocam data para eu entregar o meu trabalho, se não eu nunca acabo. Eu vou até o limite de onde eu consigo para melhorar o produto. Um acabamento, um volume, uma proporção, a mistura de cor. Adoro trabalhar com a cartela de cores, inventar tonalidades novas, sempre aposto em cores diferenciadas. Gosto do elementos imprevisíveis para fazer a mulher aparecer. Para alguém chegar nela e perguntar onde ela comprou aquele anel, colar ou pulseira.

* A repórter viajou a convite do evento

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