A luta pelo direito à vida move entidades protetoras de animais, que reúnem esforços para resgatar das ruas e oferecer um lar aos bichos abandonados, doentes ou vítimas de maus-tratos. A inquietação de imaginar o quanto esses animais sofrem é sentimento comum entre os voluntários, que fazem o possível para conscientizar a população e os governantes sobre a importância da castração, da guarda responsável e do respeito aos animais ; que, assim como qualquer espécie viva, sentem dor, fome, tristeza, mas também prazer, afeto e alegria. A Revista conta a história de Maria Hedwiges da Silva, que cuida de 80 cães apenas com a ajuda de três empregados, e traz um guia com o trabalho de algumas dessas entidades que fazem a diferença em Brasília.
Maria Hedwiges, 60 anos, sempre foi apaixonada por animais. Quando criança, cortava-lhe o coração todas as vezes que o pai orientava os caseiros do sítio onde morava a exterminarem os ratos que viviam clandestinamente por lá. Chegada à maturidade, ela resolveu trabalhar como voluntária na Sociedade Humanitária Brasileira, entidade não governamental de defesa e proteção dos animais. ;Na época, vi um anúncio dizendo que eles precisavam de voluntários. Sempre amei os bichos e queria ajudar, mas não sabia como. Trabalhei lá durante dois anos e a experiência foi ótima para eu aprender sobre como proceder quando encontrar algum animal abandonado ou maltratado.;
Com a bagagem adquirida, Maria Hedwiges decidiu abrir o próprio abrigo. Há sete anos ela fundou a Chácara da Gi, onde atualmente cuida de 80 cachorros da região de Planaltina. ;Assim que mudei para Planaltina percebi o quanto essa área era carente de iniciativas que protegessem os animais, então resolvi abrir o abrigo. Estava me aposentando e teria tempo para me dedicar a uma atividade que me dá muito prazer.; Hoje, ela conta com a ajuda dos funcionários que trabalham na chácara. Veterinários parceiros também fazem visitas regulares aos cães doentes.
Para Maria Hedwiges, as instituições que lutam pelos direitos dos animais e dão abrigo aos que estão doentes ou se encontram em situação de vulnerabilidade fazem um serviço importantíssimo à sociedade. ;À medida que a gente tira os bichos da rua, nós livramos as pessoas de doenças que eles poderiam acabar transmitindo. Além disso, ao fazer a castração, prestamos um serviço importantíssimo para o controle populacional de animais.;
A aposentada faz campanhas de adoção sempre que pode, mas, segundo ela, os resultados dessas ações não são tão positivos porque a maioria das famílias querem filhotes e não se dispõem a adotar um cão mais velho ou com deficiência. ;É difícil conseguir um lar para aqueles que não alcançam as expectativas das famílias. As pessoas preferem um filhotinho recém-nascido, saudável e que não traga problemas ou despesas;, pontua. Ela conta que não tem condições de pegar todos os cães que encontra perdidos na rua, mas, quando pode, opta pelos mais doentes e velhos. Hoje, a Chácara da Gi sobrevive com a aposentadoria de Maria Hedwiges. Lá, os cães vivem soltos e, segundo a proprietária, felizes. ;Apesar do trabalho e do custo que representa fornecer abrigo, ração e tratamentos veterinários a esses animais, não reclamo. Optei por uma vida mais simples por amor a eles.;
Quem são eles
Augusto Abrigo
O Augusto Abrigo tem um espaço onde 324 cachorros e 198 gatos vivem soltos e à espera de famílias que os adotem. Eles contam com os serviços de 10 voluntários e aceitam doações em espécie, além de remédios e ração. Os voluntários fazem feiras de adoção de cães e gatos todo sábado, das 14h às 17h. O candidato a dono do animal precisa comprovar que pode cuidar do bichinho e se responsabilizar em não abandoná-lo.
Sociedade Humanitária Brasileira
É uma organização não governamental que dá abrigo a animais em situação de vulnerabilidade, até que eles sejam adotados. Além disso, realiza campanhas de conscientização sobre a importância da castração, posse responsável e adoção de animais abandonados. Eles são responsáveis por 60 cachorros e 50 gatos. Para isso, contam com o apoio de 10 voluntários. Para arrecadar fundos, fazem rifas, bazares e recebem doações.
Bsb Animal
A iniciativa existe há quatro anos e há pouco mais de três meses foi regularizada como organização não governamental. Não tem abrigo, mas mantém parcerias com veterinários e pet shops, que oferecem preços abaixo do mercado nos casos em que o animal foi abandonado ou sofreu maus-tratos. Oito voluntários se encarregam de encaminhar os animais para os veterinários parceiros e casas especializadas. A cada três meses eles fazem bazares e rifas para arrecadar fundos e também recebem doações em dinheiro e de medicamentos e ração.
Salvando Vidas DF
É um grupo pequeno, que tem preferência por animais que sofreram maus-tratos. Após passarem pelos cuidados de veterinários, os gatos vão para lares temporários e os cães , para hotéis. Aos sábados, eles fazem feirinhas de adoção em pet shops solidários.
Proanima
É uma organização não governamental que foca sua atuação na educação e conscientização das pessoas sobre o controle populacional dos bichos, combate aos maus-tratos de animais domésticos e de tração, controle ético de zoonoses e combate ao comércio de animais silvestres. A ONG existe há seis anos e não tem abrigos. O Proanima busca prestar esclarecimentos à sociedade sobre as questões que envolvem os direitos dos animais por meio do site e de cartilhas educativas. Além disso, exerce pressão junto aos governos federal e distrital para que seja feita uma revisão da legislação e das políticas públicas que tratam do tema.