Revista

Esculpindo joias

Nascida em Brasília e cidadã do mundo, designer une arquitetura, escultura e moda para criar as peças que conquistaram turistas em Trancoso

Flávia Duarte
postado em 22/12/2010 21:12

As criações de Cristina Pessoa são a essência de sua personalidade. A designer é curiosa, criativa, criadora, multifacetada. Cada peça carrega um pouco de cada uma de suas formações. Ela é design de interiores, estudou estilo de moda, artes e escultura. São peças modernas, que, aos poucos, conquistam mulheres sofisticadas e de bom gosto do mundo todo.

Nascida em Brasília e cidadã do mundo, designer une arquitetura, escultura e moda para criar as peças que conquistaram turistas em TrancosoCada joia assinada por ela ainda leva um pouco daquilo que Cristina conheceu e vivenciou nos lugares do mundo em que morou: Brasil, Estados Unidos, Havaí, Europa e Índia. Essa brasiliense de 33 anos foi embora conhecer e desbravar outras culturas aos 19 anos. Ano passado, voltou para o país de origem e levou uma pop up store (loja de funcionamento temporário) para Trancoso (BA). Inclusive está de malas pronta para esse destino paradisíaco. Fica lá até fevereiro. É o período para aproveitar os turistas e vender sua nova coleção.

O interesse da artista pelas joias foi descoberto em uma viagem à Índia. Trouxe um monte de peças feitas lá para vender para as amigas e pagar a viagem. Descobriu a atração que as joias exerciam. Decidiu criá-las. Um resgate de um dom de família. Ela conta que o bisavô vendia diamantes.

As formas das peças que assina precisam ter um conceito, não apenas beleza. Nascida nas mãos de quem estudou artes e esculturas, as joias de Cristina ganham formas cheias de significado. Aliás, é assim que a designer deseja que elas sejam vistas: mais que um acessório para adornar o corpo, e sim como resultado das ideias. ;Não faço joias, elaboro conceitos;, garante a moça.

E assim surgem anéis, brincos, pulseiras com as linhas retas de Brasília (cidade inspiração), com os contornos da igrejinha mais famosa de Trancoso ; que ficou mais famosa ainda depois que a cantora Bebel Gilberto distribuiu o exemplar em prata, desenhado pela designer, como lembrança aos convidados em seu casamento ; ou com os retorcidos das esculturas, como os anéis feitos em fios de ouro. As cores das pedras brasileiras também marcam seu trabalho. Além da beleza, Cristina explora a energia da natureza, o cromatismo da paleta natural e escolhe cuidadosamente cada pedra que enfeitará suas peças. Uma união de riquezas daqui que a artista sonha em apresentar ao mundo.

Relação com Brasília
Morei em Brasília até os 19 anos. Queria conhecer outros lugares do mundo, outras formas de viver. Acho que aqui é uma cidade pouco humana. Você não caminha nas ruas como na Europa e vê todas as classes, todas as raças. Aqui é tudo segmentado. Acho que buscava contato com o mundo, com outras culturas. Fui visitar museus, teatros, festivais de música e danças.

A volta
Estou de volta à cidade desde setembro do ano passado. Quando saí daqui, o apoio à cultura (artes plásticas, teatro, cinema, música) ainda engatinhava. Aqui tem uma mistura de várias pessoas, de todos os lugares do mundo. Hoje percebo que a cidade está crescendo muito e, por isso, precisa aquecer ainda mais a demanda de projetos culturais.

O amor à arte
A cultura é o alimento da criação. Ela cria uma outra consciência da realidade. Brasília me inspira na hora de criar. Acho que não estaria na área das artes se não tivesse nascido aqui. Essa cidade é uma escultura a céu aberto, um verdadeiro campo para a criação. A arquitetura me inspira. Minhas joias têm uma relação com essa arquitetura da cidade, em suas linhas retas e na sua simplicidade.

O lugar favorito na capital
A Esplanada dos Ministérios. É uma enorme área construída, onde me encontro entre todos os edifícios. Além do mais, mesmo sendo uma obra de grande proporção, vejo leveza. Tudo isso em plena comunhão com um céu que abraça toda a obra. É magnífico.

Criar joias
Para mim, a joia é uma escultura que veste o corpo. Fiz curso conceitual de esculturas, em uma escola dos anos 1970, que seguia uma corrente artística em que a criação de ideias era o que tinha valor. Tento levar isso para as minhas joias. O valor da ideia. Me considero uma artista, e no meu trabalho está agregado um valor intelectual e não só estético.

Significado das peças
A joia sempre tem um valor emocional agregado. Ela, em geral, marca um momento especial. Ainda tem a relação das pedras com o equilíbrio do corpo. Acredito muito nessa coisa da energia que vem da natureza, e cada pedra tem uma força. Sou autodidata nesses assuntos místicos, esotéricos e, por isso, quando escolho uma pedra para as joias, penso na relação do corpo com o universo.

Quem usa
As pessoas que chegam à minha loja sempre dizem que se supreendem com delicadeza das peças. Tento chegar ao desenho de uma joia atemporal, para todas as idades. Mas, em geral, minhas clientes são pessoas que têm interesse pelo mundo do desenho e da arte. Minha joalheria não é apenas estética. Meu sonho era ver pessoas de várias culturas usando minhas peças e entendendo meus desenhos.

Rotina
Trabalho muito. Acordo, tomo meu suco natural, malho e às 10h estou trabalhando. Acompanho todo o processo de criação da coleção. Para fazer o desenho de um brinco, criar efeito de luz e sombra, proporções, posso levar até oito horas.

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