Jornal Correio Braziliense

Revista

Viagem gastronômica

Escolher o destino turístico em função da culinária local é prática comum na Europa e, aos poucos, começa a cair nas graças dos brasileiros. Em alguns lugares, os deliciosos pratos já fazem parte da paisagem

Você chega ao seu destino turístico e se depara com uma paisagem de tirar o fôlego: cores, texturas e formas que podem ser qualificadas como o ponto alto da viagem. A aventura começa com a primeira garfada e termina na sobremesa. Tudo estava planejado no pacote turístico, no qual a preocupação com o menu era certamente maior do que a preocupação com o local onde ele será servido: praia, montanha, sob a neve, debaixo do sol, nos Alpes ou nos Andes. Se a comida for realmente boa, a viagem valerá a pena. A premissa, que pertence à vertente conhecida como turismo gastronômico, ganha mais e mais adeptos. Basta ser bom de garfo, abrir o bolso e agendar as férias pensando em degustar o melhor da alta gastronomia.

A moda começou no continente europeu. O apelo gastronômico de países como Itália, França e Espanha era tão forte que as agências de turismo, as vinícolas, os hotéis e os restaurantes perceberam que explorar o tema poderia ser um investimento para lá de lucrativo. Estavam certos. Pacotes turísticos nos quais apetitosos e sofisticados menus eram intercalados com alguns passeios: conhecer a Torre Eiffel ou passear pelo Coliseu eram as atrações culturais presentes no itinerário ; sim, gastronomia, indiscutivelmente, também é cultura. Tudo, do prato principal ao cafezinho, incluso no pacote. No Brasil e América Latina, a prática ainda surge com certa timidez. A gastronomia pode até ser um ponto forte de alguma região, mas são as atrações naturais ou históricas que norteiam a escolha. A carne argentina, o cordeiro chileno, o ceviche peruano. No Brasil, temos cidades que são grandes polos gastronômicos: a feijoada carioca, a comida mineira, o tempero baiano, a pizza paulistana. Mas, particularmente, nunca ouvi ninguém dizer que viajaria para Goiânia só para comer um arroz com pequi ou para o Sul comer um bom churrasco.

A ironia é que em locais com tradições culinárias bem menos prestigiadas, a alta gastronomia caiu de paraquedas, mas serviu como uma luva. A coluna esteve em um delicioso vilarejo alagoano chamado São Miguel dos Milagres e descobriu como um pequeno e rústico pedaço de paraíso se tornou um dos roteiros de turismo gastronômico que mais crescem no país.
Segundo Marcos Suzuki, proprietário e ;head chef; da Pousada Origami, tudo aconteceu meio que por acaso.

;Quando as poucas pousadas daqui dessa região da praia do Toque chegaram, foram obrigadas a trabalhar no esquema de meia pensão (café da manhã %2b jantar), porque aqui na cidade, que é muito simples, não tinha opções de restaurantes que atendessem ao público. Aí a coisa foi ficando séria. Cada dono de pousada tinha uma ascendência distinta, então a gastronomia oferecida acabou sendo um pouco pautada por essa influência. Esse apelo gastronômico foi muito natural;, conta, entre cheirosos pratos que trazem a fusão da comida brasileira com o tempero oriental.

Marcos explica que, uma vez inseridos nesse roteiro do turismo gastronômico, a pressão se torna ainda maior, mas o esforço é o mesmo. ;Estamos sempre buscando os melhores ingredientes, pescados extremamente frescos, e temos uma horta grande aqui. São detalhes que fazem toda a diferença no resultado final, e são esses detalhes que o turista busca como diferencial;, explica. E não basta ser tudo fresco. As receitas são inspiradas nos desejos de cada hóspede. Segundo Marcos, o atendimento personalizado ainda é novo dentro da proposta desse novo nicho turístico. Em vez de um menu fixo, o que é servido ; e elaborado ; varia conforme o gosto de cada freguês. ;Quando eles chegam na pousada, já pergunto quais são as preferências. Alguns são alérgicos, outros vegetarianos, uns não gostam de polvo, outros querem lagosta. Então me baseio no que eles gostam e crio os pratos inspirado nisso.

"Sempre dá certo;, afirma. Não bastasse a água morna da praia de cor esmeralda, a gastronomia é personalizada. Para a coluna, ele preparou um badejo de virar os olhos, e um camarão para baiano nenhum botar defeito. Exemplos de pratos que dividem o turista entre o mar e a mesa do restaurante.

Camarão ao curry flambado na cachaça


Ingredientes
350g de camarão branco (garrote, vila franca)
Curry
Sal
Meio limão
Pimenta-do-reino
Uma dose de cachaça

Como fazer
Limpe os camarões.
Tempere-os, ainda crus, com sal, limão, curry e pimenta-do-reino.
Deixe marinar por 15 minutos.
Esquente um filete de azeite na frigideira, em fogo alto.
Quando estiver quente, jogue os camarões na frigideira até que fiquem com uma cor amarela.
Antes de desligar o fogo, jogue um punhado de manjericão e flambe tudo com uma dose de cachaça.
Tempo de preparo: 30 minutos
Rendimento: 1 pessoa


Badejo com vinho do porto e geleia de pimenta e damascos


Ingredientes
400g de filé de badejo
Meia dose (das de uísque) de vinho do porto
Mel
5 damascos
uma colher (sobremesa) de manteiga
Azeite
Sal
Limão
Geleia de pimenta pronta
Cebolinha

Com fazer
Tempera o filé de badejo com sal e limão.
Deixe descansando por 15 minutos.
Cubra o fundo da frigideira com uma camada fina de azeite e deixe no fogo alto.
Quando estiver quente, coloque o filé e deixe o dourar rapidamente em ambos os lados.
Jogue meia dose de vinho do porto na frigideira (não diretamente no filé).
Quando o vinho começar a ficar grudento, jogue um filete de mel na frigideira.
O molho ficará mais grosso. Quando começar a formar bolhas, desligue o fogo.
Sobre o filé espalhe uma fina camada de geleia de pimenta.
Esquente a manteiga em outra frigideira e jogue os damascos por 30 segundos.
Enfeite o prato com cebolinha.
Tempo de preparo: 30 minutos
Rendimento: 1 pessoa

Pousada Origami
Praia do Toque, São Miguel dos Milagres, Alagoas
(82) 9963-2223