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Entrevista com a poeta Elisa Lucinda

postado em 07/01/2011 19:56
Um verdadeiro fenômeno: na lista de best-sellers das livrarias cariocas desponta um livro singelo, que só não tem mais saída que Elite da Tropa 2. Trata-se de Parem de falar mal da rotina (Ed. Lua de Papel), em que Elisa Lucinda presenteia os admiradores do espetáculo teatral homônimo, em cartaz há oito anos, com o que ela chama de poesia de varejo. Sem rodeios, como um bate-papo na mesa de um bar, a autora dispara observações sobre trabalho, relacionamentos, vaidade e outros penduricalhos do dia a dia. Enquanto Brasília aguarda a próxima temporada da peça, prevista para março deste ano, a atriz e poeta dá seu recado aos leitores da Revista: ;A poesia precisa alcançar o sotaque da coloquialidade;.

A poesia está morrendo entre os jovens?
A declamação antiquada preza a forma e não o conteúdo. Ou seja, acabou o verso e a pessoa dá o ponto. Fica sem continuidade. Acontece isso, tanto que o aluno acha poesia chata até ter contato com a poesia de outra forma. Não dá para ser professor de literatura com cara de que já morreu. Cara de quem o sol não bate no rosto há anos. Dá medo, afasta; Acho que o jeito de falar a poesia precisa alcançar o sotaque da coloquialidade, da conversa. Se a poesia é compreendida, ela leva ao encantamento do outro. Por isso a poesia nunca sai de cardápio. Ela está no coração do apaixonado, está presente em todas as artes. Não acho que seja para poucos. Ela é para muitos: é pura filosofia de varejo!

Você costuma prescrever poemas para seus amigos. Como funciona esse pronto-socorro poético?
Como sei poemas de muitos outros autores, às vezes a pessoa me conta a história da vida dela e eu conto um poema. Logo a pessoa fica curada (risos). Ontem um amigo meu falou que estava com um problema de relacionamento. Ele não estava conseguindo se envolver com outra pessoa. Olha o que eu escrevi: ;Você sabe como é: vão-se as alianças e os anéis, e ficam os medos;. Ele falou: ;é isso mesmo que estou sentindo;. A poesia ajuda você a compreender o negócio, entende? De maneira informal.

E como é seu processo criativo?
Tenho um bloquinho ao meu lado e tudo pode acontecer a qualquer momento. Uma coisa simples pode me dar um estalo para escrever. Pode ser uma cena do cotidiano, a mais despretensiosa pode me inspirar para um grande poema, mas eu não penso se vai ser um grande poema. Faço poesia para explicar para mim o que está acontecendo comigo naquele momento.

Para a previsão do tempo, um verso
(Elisa Lucinda)

Sábado ensolarado
Nos lembra que a vida está constantemente amanhecendo
Domingo chuvoso
Dia próprio para renascimento
Segunda-feira cinzenta
É preciso que saibamos reconhecer a canção do dia nublado
Quarta-feira de sol entre nuvens
Respeito à brincadeira do vento, que mesmo soprando tudo, não nos tira a unidade nem a constância


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