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Uma ferramenta poderosa

Ayrton Péres, cardiologista e especialista em arritmia cardíaca do Instituto do Coração (Incor) de Taguatinga, detalha como a ressonância magnética ajudará no tratamento da doença de Chagas

postado em 14/01/2011 18:21

Como se deu essa parceria com uma universidade espanhola?
Passei sete meses no departamento de arritmia cardíaca da Universidade de Barcelona, como pesquisador convidado, e lá eles estão fazendo um trabalho sobre taquicardia ventricular com ressonância magnética, mas não em chagásicos. Com a metodologia que foi desenvolvida lá, eles identificam com precisão a cicatriz no coração e os circuitos elétricos resultantes, provocados por uma enfermidade, como o infarto e a doença de Chagas, entre outros. Nossa perspectiva é a de que possamos usar essa tecnologia para conhecer melhor as características dos circuitos provocadores de taquicardia, para melhor conduzir o tratamento dos pacientes com o Mal de Chagas, que sofrem riscos reais de morrerem precocemente.

Qual o papel da ressonância magnética?
Esse trabalho que vamos fazer em conjunto consiste em procurar mais critérios de detecção dos pacientes com alto risco de morte elétrica. Caso a ressonância se mostre de grande utilidade como ferramenta de estratificação desse risco, poderíamos diminuir a necessidade de implante de desfibrilador para aqueles que não têm real risco de morte. Sabemos que indivíduos que têm Mal de Chagas podem desenvolver taquicardia ventricular e que algumas podem levar à morte. A prevenção pode ser feita primária ou secundariamente. Considera-se prevenção primária quando o indivíduo tem a doença cardíaca do Chagas, mas não teve nenhum evento arrítmico sério, como a taquicardia ventricular. Já a prevenção secundária trata de pessoas que têm a doença e já tiveram uma arritmia importante, que pode levar ao desmaio ou a uma parada cardíaca recuperada. A prevenção secundária é mais fácil de ser feita, enquanto a primária necessita de critérios sensíveis e precisos, pois não há, ainda, evidências fortes de que o paciente está em risco. Por isso, pesquisas na direção de aumentar os critérios de detecção do risco de morte são muito importantes.

Qual a importância do desfibrilador?
Quando os critérios de estratificação de risco apontam na direção da necessidade de proteger o paciente, o desfibrilador é implantado. O desfibrilador é um aparelho parecido com um marca-passo, mas com outras funções adicionais. A principal é sua capacidade de detectar o momento em que o paciente desenvolve uma arritmia fatal e de dar um choque no coração do paciente para reorganizar a corrente elétrica normal. O implante do aparelho é feito colocando-se o gerador artificial embaixo da pele do tórax, e os cabos elétricos conectados a ele vão ao coração por meio de uma veia. O desfibrilador custa por volta de R$ 60 mil. Do ponto de vista econômico, quanto mais precisos forem os critérios de estratificação de risco, menos se investe em dispositivos como esse, pois quanto mais falham os critérios, mais chance existe de, também, se implantar o desfibrilador em pessoas que não precisam dele.

Quando esse diagnóstico vai chegar a Brasília?
Toda fase metodológica já foi desenvolvida pelas duas equipes e, dentro em breve, grupos de pacientes serão analisados. Se esse novo método não-invasivo mostrar avanço na estratificação de risco, o sistema público de saúde também poderá se beneficiar de seu uso, com economia para os recursos públicos. Inicialmente, os exames serão feitos aqui e as imagens, enviadas para Barcelona, porque lá eles têm o software e a capacitação para fazer a leitura do diagnóstico e a discussão via web com os pesquisadores locais. Essa ponte entre Brasil e Espanha ocorrerá via internet: mandamos os exames, eles leem e comentam o resultado. Mas, aos poucos, tudo será feito aqui.

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