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Saindo da mesmice

Não é só porque você tem que usar uniforme escolar todos os dias que o seu estilo precisa ficar na gaveta do criado-mudo. Três meninas superestilosas ensinam como driblar a monotonia da roupa obrigatória

postado em 20/01/2011 17:24

Carolina Samorano / Especial para o Correio

É só chegar a época de comprar o uniforme que o chororô começa. A calça é larga demais, a camiseta não veste bem, a cor não combina com nenhuma outra. Com tanta birra da roupa exigida pela escola, os minutos diante do espelho viram quase um pesadelo e encarar as longas horas de estudos sem se sentir bem com o visual pode deixar tudo um pouco mais complicado. Moda e uniforme escolar nunca foram mesmo muito próximos. Principalmente porque enquanto uma se contorce em dar opções para que cada um encontre seu estilo e se diferencie da multidão, o outro faz justamente o contrário: igual é melhor e pronto. Nessa peleja, diretores, alunos e confecções travam quase uma batalha para tentar encontrar o meio-termo entre o que é bom para a rotina escolar, ao mesmo tempo que agrade o gosto mesmo dos alunos mais moderninhos e exigentes.
Só que a verdade é que não tem muito para onde fugir.

Gabriela separa o uniforme e os acessórios de véspera: sobreposições e incrementadas com lenços, mochilas e maquiagem

Embora as escolas encontrem algumas boas soluções ; como oferecer mais opções de uniformes e, em alguns casos, liberar a calça jeans ;, um dos argumentos é de que o fardamento é uma segurança para o aluno dentro e fora da escola. Tanto para ser reconhecido como estudante do colégio na rua como para protegê-lo caso algum estranho invada as dependências da escola, como explica Rosemary Castro, coordenadora pedagógica do ensino fundamental de um colégio em Brasília.

Entre as preocupações dos educadores, está aquela com a qual a maioria dos alunos implica: igualar todo mundo, sem deixar transparecer, por exemplo, classe social. ;Nessa idade, a partir dos 12 anos, os alunos têm necessidade de sentir que pertencem a um grupo. O uniforme não é o principal, mas reforça esse sentimento;, frisa Rosemary. O desafio é fazer essa uniformização o menos monótona possível. ;É claro que o uniforme também precisa ser agradável;, complementa Marli Pinheiro, coordenadora pedagógica do ensino médio de outro colégio. ;Não pode fugir do estilo dos alunos.; Lá, como em boa parte das instituições menos ligadas ao tradicionalismo, a partir do primeiro ano do ensino médio, a calça jeans está liberada, mas a camiseta e o agasalho continuam obrigatórios, o que não deixa de ser um alívio no estilo.

A maioria das escolas terceiriza a confecção e a elaboração dos uniformes, que ficam por conta de malharias. Os desenhos, claro, passam pelo crivo da escola, que pode ou não consultar os alunos sobre a proposta. De qualquer forma, já dá para sentir nas lojas que revendem os odiados e temidos que aquela história de calça e camiseta únicos já há muito ficaram para trás. ;A gente tenta elaborar de acordo com a moda e o estilo, mas sempre pensando que precisa ser confortável, com material resistente e o modelo estar de acordo com o ambiente escolar;, enumera Marli Pinheiro.

Daí que camisetas baby look, calças legging e bermudas de diferentes comprimentos e modelagens começam a aparecer entre as opções disponíveis. E se a moda tem cativado as meninas cada vez mais cedo, natural que ela também influencie o momento de criar os uniformes. "; gente sempre fica de olho nas coleções esportivas. Dali saem boas ideias de uniformes;, conta Carmem Lúcia Cavalcante, responsável por uma malharia em Brasília. Assim, da mesma maneira que as coleções de moda se renovam de tempos em tempos, algumas escolas também mudam parte de seus uniformes todos os anos. ;Os alunos pedem para tirar ou acrescentar coisas novas. Dependendo do que for e se a escola aprovar, a gente coloca;, completa.

Exercício de criatividade
Mas se uns torcem o nariz para os uniformes, há quem encare a obrigação de vestir-se com a mesma roupa todos os dias um exercício de criatividade. O resultado são produções que deixam em segundo plano a monotonia da roupa obrigatória e transparecem o estilo mesmo sob as mais largas calças e as mais esquisitas camisetas. ;As pessoas se acostumaram a pensar que o que define nosso estilo são as peças de roupa que a gente usa. Na verdade a gente pode ter um guarda-roupa só de peças superbásicas e trabalhar nosso estilo nos acessórios. Com os uniformes pode funcionar do mesmo jeito;, ensina a consultora de imagem Luciana Solino.

Mariana usa e abusa dos relógios coloridos, febre nos anos 1980: chapinha e tênis diferentes

O limite de até onde você pode ser criativa com as montações para a escola dependem do que a escola permite. Um cinto por cima de uma camiseta mais larga, por exemplo, combinada a uma calça mais justa pode ser uma boa se o seu colégio não é dos mais conservadores. ;Dá para variar também sobre o que a escola disponibiliza;, incentiva Luciana. ;A menina pode comprar uma calça ou bermuda de menino bem grande, por exemplo, e dobrar a barrinha para fazer um estilo boyfriend, ou enrrugar a manga da camiseta de manga longa para dar um charme. Isso se o colégio permitir, é claro.; No mais, sempre dá para lançar mão de acessórios um pouco mais femininos e coloridos para dar graça à produção. Caprichar no cabelo pode ser uma saída. ;O cabelo conta muito. Dá para fazer um coque alto ou uma trança lateral que está usando bastante. Se a menina quiser fazer um estilo mais hippie, dá para misturar pulseirinhas de tecido e de couro também;, aconselha Luciana.

O estilo vai à escola
A Revista conheceu três meninas que não se intimidam com modelos de uniforme pouco atraentes. A camiseta vira peça de sobreposição, a mochila um motivo a mais para acrescentar estilo ao look, os anéis e tênis, protagonistas de um look promissor, ainda que montado com peças que, a princípio, ninguém gostaria de vestir todos os dias. Até o batom e o rímel, usado em quantidades moderadas, ajudam a deixar a montação mais divertidade e feminina e as longas horas de escola menos dolorosas.

Ana Clara faz o estilo geek fashion: óculos com armações coloridas, mas que não têm lente

Pelo menos é assim para Gabriela Rezende, 14 anos, em breve estudante da nona série do ensino fundamental. São 20 minutos para se arrumar todos os dias antes de ir para o colégio, ela diz. A mãe, Régia, corrige: ;Uma hora, né Gabi?!” A menina não desmente. Estilosa até na ponta dos dedos ; ela tem uma coleção de esmaltes de dar inveja a qualquer manicure ;, coleciona mochilas, bolsas, tênis, relógios e brincos que se revezam na produção todos os dias. Mesmo a mãe já consegue reconhecer o estilo precoce da jovem fashionista. ;Ela adora tudo o que é vintage.; Tanto estilo tem explicação. Moda é uma das carreiras que pipocam na cabeça de Gabi entre tantas outras opções.

Como a partir deste ano a calça jeans está liberada na escola dela, a preocupação maior é na parte de cima. A camiseta baby look com o nome do colégio bordado é sobreposta a regatinhas coloridas para acrescentar uma graça a maior ao look. No frio, lenços estampados e cardigãs nas cores do uniforme fazem as vezes do agasalho. A franja jogada de lado e domada com a ajuda da chapinha é obrigatória. Para não perder a hora do colégio e mesmo assim manter o estilo na produção, Gabi tem uma estratégia válida mesmo para gente grande: deixa tudo separado na noite anterior, dos acessórios ao uniforme. ;Experimento e vejo se fica bom antes de dormir. Assim, é mais rápido de manhã;, ensina.

A estratégia de Gabriela Rezende na hora de se produzir para a escola é a mesma usada por Ana Clara Loiola, 13. No colégio de Ana, as rédias são um pouco mais estreitas. O uniforme é completo da cabeça aos pés e o tênis branco, obrigatório. Assim, a estudante aposta nos detalhes para fazer a diferença. O tênis continua branco, mas com detalhes coloridos, como azul ou verde. Embora os lenços sejam vetados, ela arrisca. ;De vez em quando, eles não ligam. Se pedem para tirar, eu tiro e guardo na bolsa.; Para sorte de Ana, a escola oferece bastante opção de uniforme. Bermudas, leggings, camisetas de todos os tipos. A prova é a gaveta no guarda-roupa dedicada somente a elas. ;Eu gosto do uniforme, acho prático e até bonito.; Para complementar o visual geek fashion, que continua em alta, aposta nas armações de óculos grossas, no estilo weayfarer, nas cores do uniforme. São três que ela varia de acordo com o look do dia. Detalhe: as armações são sem lente, só mesmo para fazer o estilão.

Até as mais desencanada não guardam o estilo na gaveta ao se arrumarem para o batidão da escola. Mariana Halliee, 14 anos, não se considera superligada em moda, mas manda bem na hora de montar os looks. Em vez de tênis comuns, prefere os converses ou estampados, como um quadriculado que está entre os preferidos. Os relógios multicoloridos, os mesmo que eram febre nos anos 1980, completam o visual. No cabelo, chapinha para alisar a franja ou um coque desencanado, mas que é supertendência. E, embora se saia bem na hora de montar o look, confessa que o desafio é grande. ;O uniforme dificulta. Acho que a gente tinha que ir do jeito que a gente gosta e se sente à vontade;, reivindica a menina, que assume o lado fashion sem titubear. ;Gosto de me arrumar. Eu e minhas amigas somos provavelmente o grupo mais arrumado lá!”

E se o colégio está aberto aos estímulos da moda, não há dúvidas de que o ambiente escolar muitas vezes também já serviu de inspiração para ela. A última delas foi a homenagem da Le Lis Blanc às escolas britânicas nas sua coleção de inverno. Para a próxima estação, a marca apostou em saias pregueadas, camisaria elaborada e meias 7/8. O universo lembra também o clima das primeiras temporadas do seriado Gossip Girl, quando Serena, Jenny e Blair faziam suspirar fashionistas estudantes com os looks impecáveis que desfilavam pela tradicionalíssima Constance Billard School. Agora que as meninas estão na faculdade não exibem mais os uniformes, mas continuam a servir de referência e são ótimas fontes de inspiração segundo Gabi, Ana e Mari. No ano passado, a loja de departamentos norte-americana Forever21 também apresentou uma coleção chamada I love nerds, cheia de cardigãs, meias, oxfords e acessórios inspirados na onda escola-fashion que há algum tempo pipoca em blogs e revistas especializadas.

Pequena notável
Não é só porque você tem que usar uniforme escolar todos os dias que o seu estilo precisa ficar na gaveta do criado-mudo. Três meninas superestilosas ensinam como driblar a monotonia da roupa obrigatóriaQuem acompanha a trama Ti-ti-ti, da Globo, deve conhecer a espertinha Mabi, interpretada pela atriz Clara Tiezzi. A personagem de Clara, que na novela é filha do estilista Jacques Leclair (Alexandre Borges), foi inspirada na blogueira norte-americana Tavi Gevinson, que com apenas 13 anos destrincha todo o seu senso de estilo no bem-sucedido Stye Rookie (www.thestylerookie.com). Assim como Tavi, Mabi faz o estilo geek fashion: óculos grandes, camisetas coloridas, muita estampa e saltos mais grossos. Vive desfilando com laços femininos, cardigãs e oxfords, que, justamente por serem estilosos e confortáveis, são boas pedidas para acrescentar personalidade ao look escolar. Para além da ficção, Clara Tiezzi já provou diversas vezes que tem senso de estilo tão bom quanto o da personagem que interpreta. Volta e meia aparece com looks superinspirados.

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