Carolina Samorano / Especial para o Correio
Bastou o príncipe herdeiro da coroa britânica, William Arthur Philip Louis, e a noiva, a estudante universitária Kate Middleton, anunciarem o casamento para mulheres do mundo inteiro tirarem os pés do chão. O rebuliço é de se compreender, afinal, há 30 anos, desde o casamento frustrado de Charles e Diana, o mundo não suspirava com uma história de amor da monarquia mais importante do mundo. Entre as especulações mais constantes, a sobre quem será o felizardo designer eleito para vestir a noiva no dia em que entrar oficialmente para a família real tem mexido inclusive com as casas de apostas, que reviram-se na tarefa de tentar adivinhar a assinatura na etiqueta do vestido.
Uma das primeiras a indicar o seu favorito foi a irlandesa Paddy Power, que horas depois do anúncio do noivado adiantou-se em afirmar que, a despeito das badaladas britânicas Amanda Wakeley e Vivienne Westwood, a brasileira Daniella Halayel, responsável pela marca Issa, é quem estava à frente na preferência da noiva ; talvez pelo fato de ela ter escolhido um vestido assinado por Daniela no dia do anúncio do noivado. O modelo azul com decote discreto e mangas longas, aliás, esgotou em menos de 24 horas nas lojas, mesmo custando o equivalente a R$ 1.100. A quatro meses da cerimônia na Abadia de Westminster, no entanto, as dúvidas são ainda maiores do que as certezas.
Especular, no entanto, é permitido. E os especialistas apostam que, menos importante do que quem vai desenhar o vestido, é o que o tal escolhido desenhará. Afinal, sua criação ficará para sempre registrada num dos momentos históricos para o Reino Unido. Sendo assim, as apostas têm sido mais para um vestido tradicional do que para algo vanguardista ; a despeito do próprio estilo de Kate, que, em poucos dias, foi alçada de anônima a ícone fashion. ;Existe na monarquia britânica e na igreja anglicana uma certa tradição que preza pelo recato;, analisa Marco Antônio Vieira, coordenador do curso de design de moda do Iesb e especialista em cultura britânica. ;Sendo assim, por uma questão até de mídia, o desenho precisa flertar com o contemporâneo, mas nada nele causará um espanto muito grande.;
Andreia Miron, consultora de estilo e professora de moda da Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo, compartilha opinião parecida. Para ela, como a cerimônia deve contar com toda pompa, é importante que o desenho seja mais importante do que o próprio designer. Ou seja, o nome por trás da criação não pode chamar mais a atenção do que o vestido. ;De cara, a gente pode descartar grandes nomes das passarelas.; Se a intuição da especialista estiver correta, estilistas e maisons que soltaram croquis de sugestões para a noiva, como Dior, Valentino, Vera Wang, Christian Lacroix e Karl Lagerfeld estariam definitivamente fora de jogo.
Há algumas semanas a blogueira e editora de moda britânica Sasha Wilkins, que assina o Liberty London Girl, publicou um artigo em que chamou de ;bizarros; os nomes que até então vinham sendo cotados pela imprensa e pelas casa de apostas. ;Parecem ter chegado a esses nomes jogando um dado aleatoriamente sobre uma lista de nomes de designers famosos;, alfinetou, lembrando que, provavelmente, o escolhido será alguém que vem desenhando dentro do Reino Unido. Portanto, segundo suas expectativas, não veremos Kate em um Chanel, Armani e menos ainda em um Vera Wang. Para a brasileira da Issa, a blogueira também vê poucas esperanças. ;Aquela Issa sexy e despojada dificilmente será uma boa escolha para uma cerimônia de casamento tão formal, apesar de suas belíssimas criações;, sugeriu no artigo.
As restrições não param por aí. Sasha riscaria de cara nomes de designers que também podem ser confundidos com celebridades. Ou seja, Vivienne Westwood, Victoria Beckham e Stella McCartney estão longe do topo dos palpites da blogueira. ;Uma casa de noivas experiente saberia exatamente o que uma cerimônia tão formal requer.; E isso, Sasha frisa, inclui pensar até mesmo que ela será fotografada de todos os ângulos imagináveis (inclusive de cima, o que eliminaria decotes um pouco mais atrevidos) e que a Abadia onde Kate dirá o sim em 29 de abril tem linhas bastante suntuosas, o que implica que o vestido deve ser imponente o bastante para não perder o brilho diante da arquitetura do local. ;Entre os nomes prováveis, Jasper Conrad tem vestidos de noiva lindíssimos;, arrisca. ;No mais, eu adoraria ver como ela ficaria num (Alexander) McQueen. Mas desconfio que nossa futura rainha seja um pouco tímida demais em relação à moda para isso;, lamenta.
Detalhes tão pequenos
Planejar um vestido de noiva para uma cerimônia da família real britânica requer muito mais do que talento e imaginação. O designer com a missão de vestir a futura rainha terá uma série de detalhes para dar conta. Como lembra Marco Antônio, como a cerimônia será durante o dia, o ideal seria que o vestido não fosse completamente branco. ;O branco absoluto satura na claridade e não sai bem nas fotos, perde os detalhes. Principalmente porque eles devem escolher um tecido nobre, como um tafetá;, sublinha. ;O mais adequado seria um branco perolado;, palpita. Além da cor do vestido, a cerimônia inclui um passeio de carruagem. O vestido, portanto, deve ser desenhado de maneira que não seja desconfortável ao sentar-se nem tão volumoso que possa parecer desengonçado ou desarrumado.
O designer terá ainda o desafio de unir todos esses pontos num desenho moderno e elegante que, ao mesmo tempo, possa ser considerado atual daqui a alguns bons anos. A observação é da consultora de moda e estilo e membro da Association Image Consultants International Maria Thereza Laudares. Isso porque ainda hoje o vestido de casamento de Diana é lembrado, embora esteja datado. ;O vestido da Diana era bem bolo de noiva, uma coisa mais romântica, mas que já saiu de moda. Eu apostaria numa coisa mais limpa, sem tanta roda nem babados ,já que essa foto entrará para os arquivos;, frisa. ;O requinte que a situação pede não precisa estar na forma do vestido. Muitas vezes, os bordados delicados em pedras, o sapato, o tecido ou uma aplicação dizem muito mais sobre a sofisticação e o papel que a princesa assumirá do dia do casamento em diante do que outra coisa. O importante é que ela saiba o que está vestindo e o que isso significa;, complementa Andreia Miron.
Outro detalhe lembrado por Maria Thereza é o peso do vestido. Como a cerimônia é demorada, é importante que ele seja leve para que Kate não se canse e também para que ele não saia do lugar e pareça desajustado nas fotografias. O sapato também é parte importante. ;Na coroação da rainha Elizabeth II, ela tinha um sapato desenhado para aguentar o peso da coroa. Imagino que essa preocupação vá também existir no casamento de Kate e William;, diz a consultora. ;Ela precisa de um sapato alto, mas que seja confortável o bastante para que não tenha problemas de dor e cansaço.;
Especulações à parte, o vestido de Kate continuará uma incógnita até o dia da cerimônia, quando então todas as mulheres do mundo poderão elogiar, criticar e, principalmente, sonhar. ;Essa expectativa toda só existe porque, no fundo, todos queriam ser Kate. Ela não é uma noiva comum porque as noivas têm no dia do casamento o seu dia de princesa. E o casamento de Kate será apenas o primeiro dia da sua vida inteira como uma princesa;, diz Andreia Miron.
Noivas inesquecíveis
Grace Kelly
Grace Kelly e o príncipe Rainier de Mônaco casaram-se em 1956, apenas um ano após se conhecerem num Festival de Cannes. O vestido usado por Grace ainda hoje é um dos mais lembrados. Foi desenhado por Helen Rose, figurinista que já havia trabalhado com Grace Kelly durante a carreira de atriz. O vestido era feito de tafetá de seda e tule e decorado com rosas de renda Valenciennes. O véu tinha apliques de renda em forma de pombinhos e sementes feitas em pérola. Cerca de 600 pessoas compareceram à cerimônia religiosa na Catedral de St. Nicholas.
Lady Di
Diana e o príncipe Charles casaram-se em 29 de julho de 1981, em Londres. A cerimônia contou com presença de 3,5 mil convidados e cerca de 1 bilhão de espectadores que assistiram ao casamento pela televisão, ao vivo. O vestido, criação da dupla de estilistas britânicos Elizabeth e David Emanuel, era feito em tafetá de seda e bordado à mão com cerca de 10 mil pérolas. Mangas longas e bufantes, símbolo da década em que foi realizada a cerimônia, e decote discreto marcaram o desenho do vestido da princesa de Gales. A cauda tinha 7,5m de comprimento.
Lady Sarah Chatto
A neta caçula da Rainha Elizabeth e única sobrinha da Rainha Elizabeth II é atualmente a 15; na linha de sucessão ao trono britânico. Sarah casou-se com o ator britânico Daniel Chatto em 1994 vestindo numa criação do experiente estilista Jasper Conrad, um dos apontados pela imprensa como favorito para desenhar o vestido de Kate Middleton. O vestido era simples, mas elegante, com mangas longas e decote reto. A tiara usada por Sarah, floral com diamantes, pode ser separada em broches e foi um presente de casamento do pai de Sarah para a mãe, a princesa Margaret.
Letizia de Astúrias
A jornalista Letizia Ortiz casou-se em maio de 2004 com Filipe de Bourbon, príncipe sucessor da coroa espanhola. A cerimônia, na Catedral de Santa María la Real de la Almudena, em Madri, contou com mais de 1,5 mil convidados. O vestido foi desenhado pelo estilista espanhol Manuel Petergaz e tinha bordados em fios de prata e ouro. A tiara usada por Letizia foi a mesma usada pela rainha Sofia no seu casamento.