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O cabelo é meu, mãe!

Até que ponto os pais devem interferir no corte dos filhos? Como os pequenos estão cada vez mais precoces, o importante é não perder o bom-senso de vista

Justin Bieber não é um fenômeno apenas entre as meninas. O ídolo teen está, literalmente, mexendo com a cabeça dos garotos, ansiosos por copiar a famosa franjinha. Mas será que os pais acatam a vontade molecada? Divididos entre manter os filhotes no ;padrão capilar; e dar-lhes liberdade para escolher o corte, muitos passam aperto no salão.

Alguns modelos do passado continuam valendo. Cabelos longos para eles, por exemplo, ainda geram controvérsia. Desde que os Beatles aderiram à moda, pais do mundo inteiro se preocupam com o comprimento dos fios dos varões. Como o poder de escolha da gurizada tem limites, discussões são inevitáveis. ;Algumas mães até que são flexíveis. Mas os pais não querem saber de filho com cabelo grande, acham que não é masculino;, garante a cabeleireira Marciléia Couto Quintão, que há 22 anos trabalha com crianças.

Ela explica que mesmo o estilo Justin Bieber já é considerado grande demais, pelo menos na visão dos adultos. ;Já tive um cliente que pediu um corte igual e o pai proibiu, dizendo que não era de homem. A criança, claro, saiu chorando;, lembra. Não se trata somente de uma questão estética, vale ressaltar. Para grande parte dos pais, a imagem da criança reflete a educação que ela recebe e, por isso, deve seguir o que eles consideram correto.

;Claro que me preocupo com o corte de cabelo, porque quero algo que fique bem nele. Apesar de deixá-lo ter liberdade para escolher, espero mesmo que ele não queria usar cabelo grande ou azul;, garante a empresária Wana Brasil, 35 anos. Mãe de Pedro, dois anos, ela explica que é preciso sim dar opinião sobre o que eles escolhem, mas que os dois lados precisam ceder. ;Tenho outro filho, de 20, e até hoje dou pitaco no cabelo dele. Mas, claro, ele tem gosto próprio;, diz. ;Acho que é um comportamento natural de mãe.;

De acordo com a psicóloga Angela Uchoa Branco, doutora em psicologia do desenvolvimento da Universidade de Brasília (UnB), os pais desejam escolher tudo que se relacione à formação dos filhos. Como o poder de coerção familiar está em baixa, muitos se apegam aos detalhes, como o visual. ;Antes, o filho de um médico era obrigado a seguir a carreira do pai. Hoje, sem esse controle, os pais associam a aparência ao cartão de visita que eles poderão mostrar para a sociedade;, explica.

Os pais querem poupar os filhos de julgamentos sociais desfavoráveis. E também se precaver de críticas. ;Existe uma expectativa social que os pais constroem em relação aos filhos e qualquer mudança nela faz com que eles fiquem assustados. Eles temem ainda que o corte de cabelo possa ser interpretado como um posicionamento ideológico;, afirma. Angela lembra que só o estilo do cabelo não é suficiente para ligar ninguém a uma determinada tribo.

Luana Cardoso, 11, sabe que ainda é criança, mas, como pré-adolescente, já quer um corte que a deixe com aspecto menos infantilizado. Ela sabe que isso é apenas um gosto e sente que, ao ter autonomia para decidir, consegue entender melhor o que a faz bonita. ;Há um pouquinho de influência da minha mãe, mas é melhor quando eu resolvo;, explica.

A comerciante Elaine Medeiros, 47, apoia totalmente as escolhas da filha Amanda, 11, no que diz respeito a cabelos. ;Ela sempre gostou de tê-los longos. Uma vez, eu a convenci de fazer algo curto. Ela topou. Mas, durante o corte, vi suas lágrimas caindo. Nunca mais me meti novamente;, recorda, enfatizando que, na sua época, criança não decidia nada: era o que a mãe dizia e pronto.

;Agora vejo que ela puxou muito a mim, que sempre fui vaidosa e tive o cabelo grande. Deixo-a livre porque ela sabe escolher o que a deixa bem. E isso ajuda na nossa relação;, reconhece Elaine. Amanda concorda e acrescenta: ;Eu me importo muito com o cabelo porque acho que ele diz sobre mim. Por isso, tem que ficar do meu jeito;. O cabeleireiro Bruno Cesar Seara, também especializado em cortes infantis, explica que, até mesmo para o trabalho dele, é saudável que as crianças expressem suas opiniões. ;Antigamente, a criança ficava em um ambiente que não era para ela. Agora, com locais apropriados, elas ficam mais à vontade.;

O profissional diz que até mesmo os menores, com dois, três anos de idade, já entram no salão sabendo bem como querem ficar. ;Atendi muitos que quiseram moicanos, bebês com cabelos espetados, outros que saem daqui com tudo colorido. As mães têm receio nessas horas, mas eles acabam conseguindo.; O pequeno Lucas Monteiro, de sete anos, só precisou do sorrisão para convencer o pai, o vendedor José Maria Monteiro de Souza, 30, a deixar seu visual bem ao estilo Justin Bieber. ;Só não quero que raspe, porque a mãe é apaixonada pelo cabelo dele.;

No caso de Lucas, sem traumas: o corte ficou ideial para o seu rosto. Mas quando seu filhinho insistir em usar um corte de cabelo que, sem meias palavras, parece ridículo? ;Os pais precisam conversar para demovê-lo da ideia. Não é controle, mas um grau de atenção. Se for algo assustador, cabe aos pais convencê-los a ver as consequencias daquele visual;, garante Angela Uchoa Branco. Ela frisa que uma proibição não conversada só vai atiçar mais a curiosidade. ;E o filho pode, muito bem, sair de casa do jeito que os pais querem e mudar tudo ao chegar na escola.;

A psicóloga reforça: dizer que está feio é pouco. É necessária uma justificativa que envolva mostrar à criança que certos visuais podem estimular brincadeiras de mal gosto: o filho precisa de estrutura para suportar suas escolhas. E, seja com cabelo longo ou curto, os pais garanti-la.

Corte de Lucas

1. Primeiro acerta-se o tamanho das pontas;
2. Com o secador, deixam-se os cabelos soltos, para o corte;
3. O corte é feito de forma a deixar o cabelo desfiado;
4. Apesar de ser baseado no Justin Bieber, o tamanho fica ao gosto da criança.

Corte de Amanda

1. O corte quer deixar o cabelo grande, sem perder o ar infantil;
2. A cabeleireira o corta pela metade, deixando-o à altura das costas;
3. Na frente, um leve desfiado, deixando a franja assimétrica;
4. Por fim, desfia-se também as pontas de trás, o que garante o balanço do cabelo.

Agradecimentos:
Salão Cabelo Club
Cabelos Kids Salão Infantil
Agência Mega Model