A interação em redes sociais entre pessoas que se passam por animais não chega a ser um problema para o psicólogo e especialista em comportamento animal César Ades. Transferir características humanas aos animais já vem de longa data e se denomina de antropomorfismo. ;Está presente nos desenhos animados, no Garfield, no Níquel Náusea, nos livros para crianças, não é de estranhar que ela se manifeste também em canais modernos (Facebook etc.);, explica.
O que justifica essa atribuição de características humanas aos animais é a semelhança que existe, de fato, entre o ser humano e certos animais. Segundo o César Ades, os animais de estimação, especialmente o cão, adquiriram, através da domesticação, uma comunicação especial com os humanos. "Obedecem a ordens, nos comunicam suas emoções de diversas maneiras, interpretam nossos comportamentos etc.;, exemplifica.
Criar perfil animal nas redes sociais, além de ser uma forma lúdica de cultivar o carinho pelos bichinhos de estimação, é uma maneira de enriquecer as relações interpessoais, conforme o especialista. ;Esse tipo de comportamento não chega a ser um problema ou transtorno de comportamento, é uma forma de retomar, usando a internet, o modelo dos desenhos animados e das tiras em que animais falam como pessoas;, complementa.
Mas alerta que essa humanização não é a melhor forma de estabelecer relacionamento com o animal. Ele explica que, como em qualquer relacionamento, é preciso levar em conta e respeitar as características próprias um do outro: "É bom o dono do cão conhecer o jeito canino de seu animal e saber gratificá-lo, dentro deste jeito;. O respeito vale para qualquer animal, acrescenta.
Atualmente, o psicólogo é diretor do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) e desenvolve pesquisas que mostram esses canais de comunicação com os cães, como é o caso do estudo realizado com a cadelinha Sofia. ;Ela é capaz de comunicar desejo usando um teclado e entende frases humanas complexas;. Um dos cachorros mais comentados do Facebook é o Boo. Assim como a gatinha Luna, ele também posta mensagens da própria rotina. Para César, na verdade, as mensagem que Boo produz quase nada tem a ver com o comportamento de verdade de um cão; "São mais próximas das ideias que nós fazemos de como cães pensam ou sentem. São trajetos na fantasia;, conclui.