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Faltam investimentos, mas há esperança

Saúde é uma preocupação que atravessa todas as camadas sociais. No Brasil, combate ao câncer se tornou uma prioridade

postado em 01/04/2011 15:40
Saúde é uma preocupação que atravessa todas as camadas sociais. No Brasil, combate ao câncer se tornou uma prioridade
Saúde é uma preocupação que atravessa todas as camadas sociais. No Brasil, combate ao câncer se tornou uma prioridadeA saúde pública, como política de governo, nunca saiu dos primeiros lugares na pauta de discussões. Entretanto, mesmo ante sua necessidade premente, sobram imagens alarmantes da situação dos hospitais e do atendimento público no Brasil. Os falhas vão desde infraestrutura à insuficiência de profissionais. No país, há apenas 1,7 médico para cada grupo de mil habitantes, sendo que a maioria desses está nas regiões metropolitanas.

Um dos maiores pontos de controvérsia é o que trata sobre o volume reduzido de recursos financeiros destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS), o que garantiria aos planos privados uma maior possibilidade de crescimento. De acordo com o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Sérgio Piola, priorizar o acesso oportuno e de qualidade implica em ampliar recursos para atenção primária de saúde e torná-la mais resolutiva. Porém, no Brasil, o gasto público com saúde é inferior a 3,7% do PIB. Em países com sistemas de cobertura universal, semelhantes ao SUS, o gasto público é, em média, de 6,5% do PIB. ;Tornar a atenção básica mais resolutiva requer processos de educação continuada dos profissionais desse nível de atenção e garantir os equipamentos e insumos necessários;, garante Piola.

Em estudo divulgado em 2010, o pesquisador afirmou que ;o baixo nível de financiamento aliado a inegáveis problemas de gestão ainda são os principais fatores que fazem com que o SUS padeça de patentes deficiências operacionais para ofertar atendimento integral e de melhor qualidade à maior parte da população, que tem neste sistema a principal ou quase, exclusiva forma de atenção;. Às deficiências, somam-se problemas que, apesar de não terem relação com a saúde pública, findam por sobrecarregá-la ainda mais. É o caso da violência urbana. Em 2005, estudo do Ipea sobre acidentes do trânsito estimou em R$ 20 bilhões seu custo social.

A pesquisa Mapa da Violência 2011 ; Os Jovens do Brasil, divulgada em fevereiro, pelo Instituto Sangari em parceria com o Ministério da Justiça, mostrou que, entre 1980 e 2008, a taxa de mortes violentas entre os jovens brasileiros subiu 76%. Além da perda da vida, a violência traz consequências para os familiares, que precisam de um tratamento psicológico. Isso sem contar os que não resultam em óbito, mas em traumas físicos que dependem de acompanhamento do sistema de saúde. ;Adicionalmente, a sensação de insegurança amplia o estresse, que é um fator de risco para várias doenças. Todos esses fatores fazem com que a violência tenha importante impacto sobre a saúde física e mental da população;, explica a técnica de planejamento e pesquisa do Ipea, Luciana Servo.

Entretanto, exemplos positivos dentro do próprio sistema público de saúde podem indicar os caminhos a seguir. Os êxitos alcançados no combate à Aids, luta na qual o Brasil é exemplo mundial, mostram que fatores como a forte e clara demanda social, prioridade na destinação de recursos para a área, e gestão adequada são indispensáveis ao sucesso de uma política pública na área da saúde. O caso da Aids no Brasil é curioso. Como hoje a doença é bem tratada em todos os seus estágios, a maior dificuldade é alertar os jovens sobre a sua gravidade. O diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Dirceu Greco, afirma que o tom usado em relação à síndrome hoje beira o jocoso. ;Mas a doença ainda é um problema de saúde pública. É estável no Brasil, mas, só ano passado, foram mais de 3 milhões de casos em todo mundo.;

Uma política pública que tem tudo para seguir esse caminho é a de combate ao câncer. O Governo Federal lançou, mês passado, o Programa de Fortalecimento da Rede de Prevenção, Diagnóstico e Tratamento do Câncer de Colo de Útero e de Mama. ;O foco principal é no câncer de mama e do colo do útero mas, na medida em que se estrutura o sistema, há a viabilização do acesso ao tratamento para outros tipos de câncer;, afirma o diretor-geral do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Luiz Antonio Santini. Para o médico, o momento é ideal, pois o Brasil tem condições de sistemas de informação, de mecanismos de gestão e capacidade tecnológica. ;O mais importante é assumir o combate ao câncer como uma política de Estado. Esse posicionamento é inédito no mundo;, assegura.

Santini compreende que ainda há grandes deficits na infraestrutura para atender a demanda de 500 mil novos casos por ano. É preciso tornar o acesso aos tratamentos universal, principalmente por ser o diagnóstico precoce um dos maiores fatores de cura. ;Isso é um processo: hoje não temos condições de oferecer tudo, mas o trabalho que estamos desenvolvendo é direcionado para que tenhamos.;

O câncer, por não ser considerado uma doença única, caminha em várias direções no que se refere à cura. Santini afirma, apesar de todos terem origem em comum, uma multiplicação desordenada de células, cada um deles precisa de pesquisas diferentes. ;Para potencializarmos nossas capacidades de pesquisa, que são muito caras, estamos coordenando a Rede Nacional de Pesquisa Clínica em Câncer, que coloca em articulação as várias instituições, públicas e privadas, que desenvolvem pesquisas em relação ao câncer;, explica.

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>> Leia a íntegra desta matéria na edição 307 da Revista do Correio.

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