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Assim amaremos

No Dia dos Namorados, estudiosos revelam qual o futuro dos relacionamentos amorosos: para alguns, até robôs poderão fazer as vezes de parceiros

postado em 10/06/2011 13:04

Gláucia Chaves//Especial para o Correio
No Dia dos Namorados, estudiosos revelam qual o futuro dos relacionamentos amorosos: para alguns, até robôs poderão fazer as vezes de parceirosTudo começa com o flerte. Depois, a troca de telefones e, em seguida, a promessa de encontrar novamente aquela pessoa que despertou sua atenção. Vem o primeiro encontro, o segundo, o começo do namoro. Após algum tempo, o noivado, o casamento e os filhos. Se fosse para traçar o roteiro da maioria dos romances, esse seria, talvez, o mais provável. Regina Navarro Lins, psicanalista e autora de 10 livros sobre relacionamento amoroso, explica que o amor é uma construção social que se apresenta de formas diferentes ao longo da história. Desde as primeiras décadas do século 20, ela conta que o amor romântico foi a tônica das relações humanas. ;Esse amor é calcado na idealização do outro e prega a ideia de que duas pessoas vão se transformar numa só, com nada mais lhes faltando;, completa. ;Esse tipo de amor ainda está presente nas novelas, mas na vida real seus dias estão contados.;

Agora, a busca por individualidade e independência parece ter tomado o lugar dos casamentos de contos de fadas, onde o dois permaneciam juntos e felizes para sempre. Aliás, nem mesmo o próprio casamento ainda é visto como obrigatório. ;O grande dilema no amor hoje se situa entre o desejo de simbiose (de se fechar numa relação a dois) e o desejo de liberdade;, analisa Rosângela. Mulheres separadas não precisam mais se preocupar com o estigma de ;desquitadas;, são livres para criar os filhos sozinhas se quiserem e, graças à uma decisão do Superior Tribunal Federal, casais homossexuais já podem oficializar a união. Com tantas mudanças acontecendo ao mesmo tempo, a dúvida chega a ser inevitável: afinal, qual o futuro do amor? A Revista perguntou para alguns especialistas. Veja as respostas e tire suas próprias conclusões.

Amor por contrato

No Dia dos Namorados, estudiosos revelam qual o futuro dos relacionamentos amorosos: para alguns, até robôs poderão fazer as vezes de parceirosPara o comunicólogo e observador de tendências Adjiedj Bakas, autor do livro O futuro do amor (Editora A Girafa, 176 páginas), os casamentos da forma como estamos acostumados mudarão consideravelmente. Se antes as mulheres se uniam principalmente por dependência financeira, agora elas conquistaram a liberdade que precisavam para ir atrás da união por amor. Bakas comenta no livro que outra justificativa para a longa duração dos enlaces no tempo das nossas avós seria a própria expectativa de vida. Segundo o estudioso, passar ;a vida inteira; ao lado da mesma pessoa quando a idade média dos seres humanos era de 40 anos é muito diferente de agora, que chegar aos 80 anos é uma realidade altamente viável. Conforme esse número aumenta, cresce também a probabilidade da separação.

O problema é que essa independência feminina poderá deixar os homens inseguros no futuro. O resultado, segundo o pesquisador, será uma debandada masculina. Esse afastamento dos homens terá como consequência mulheres solteiras, mas livres para escolher parceiros ocasionais à vontade. Em uma de suas muitas opiniões polêmicas, Adjiedj Bakas chega a afirmar essas mulheres terão ;um círculo íntimo de amigas, entre as quais algumas serão homossexuais;. Porém, nem tudo será tão diferente de agora. O ciúme, por exemplo, tende a continuar. A diferença será a tecnologia, cada vez mais avançada, que permitirá que um parceiro ciumento siga todos os passos da amada via GPS, ou sintonize o telefone celular para ter acesso à mensagens de texto, ligações ou recados de voz.

Resumindo: como viveremos mais, a tendência, para Bakas, é experimentarmos mais. E uma má notícia para as futuras gerações: em 10 ou 20 anos, o pesquisador prevê que a duração dos casamentos não passará de 10 anos. Após esse período, o divórcio seria ;automático; ; a não ser que as condições da união fossem renegociadas, incluindo o prazo de duração do novo ;contrato;. Ainda que a ideia soe como um balde de água fria para os mais românticos, Bakas defende que essa nova maneira de pensar irá ;livrar os relacionamentos amorosos da hipocrisia e desigualdade;. Mulheres mais velhas que quiserem namorar com homens mais novos, por exemplo, não serão mais motivo de piadas ou estranhamento, e a poligamia não será mais tabu.

Pode até parecer ficção científica, mas Adjiedj Bakas arrisca: no futuro, vamos nos envolver com robôs. Segundo o pesquisador, os avanços tecnológicos estão tornando os androides cada vez mais humanos. Além da textura que imita a pele humana, as novas máquinas já são ;capazes de falar, ser agradáveis e até mesmo inteligentes;. O próximo passo seria incutir emoções e personalidade a elas. Isso seria suficiente para que nós passássemos a criar laços emotivos e, talvez, até nos apaixonássemos por robôs.

Amor real

No Dia dos Namorados, estudiosos revelam qual o futuro dos relacionamentos amorosos: para alguns, até robôs poderão fazer as vezes de parceirosHá 25 anos, a psicóloga Susana Balán recolhe e classifica dados sobre sentimentos, comportamentos, decisões e buscas de pessoas que dizem ;não se encaixar;. As mais de duas décadas de pesquisas originaram o livro Diferentes formas de amar ; Tudo o que não ensinaram às mulheres sobre relacionamento a dois (BestSeller, 251 páginas). Na obra, Susana mostra que a dinâmica amorosa chegou a um ponto de igualdade que beira o egoísmo. ;As pessoas veem o amor em um sentido utilitário e o outro, como uma posse, e, quando esse recurso não está mais funcionando adequadamente, ele perde sua a razão de ser;, explica.

Com tantas possibilidades a serem exploradas, falta paciência para perseverar e tentar resolver as pendengas diárias. Esse escapismo emocional faz com que as pessoas percam o foco ; e a capacidade de lidar com os altos e baixos de qualquer relacionamento. Mas como essa aparente superficialidade influenciará os amantes do futuro? Susana defende que as relações amorosas tendem a ficar mais fáceis, uma vez que se tornariam mais realistas. ;Temos que esquecer a experiência de Hollywood, na qual tudo é perfeito;, dispara. ;Relacionamentos de qualquer tipo têm seus problemas. Se eles nunca aparecem, então você não está em um relacionamento.;

Susana acredita na força do diálogo para manter um relacionamento saudável. Conversar sobre as aspirações, intenções e objetivos ajuda o casal a estabelecer parâmetros e eliminar dúvidas sobre o ;papel; de cada um na união. Tal atitude se faz necessária nos dias atuais, já que, ao contrário de antigamente, não há mais uma divisão clara sobre como cada um deve agir. ;Atualmente, existe a confusão da mulher entre ser forte como os homens, mas ;agressiva; como eles, ou ser ;delicada; como mulher, mas fraca;, completa. A dinâmica atual permite novas maneiras de ver a vida. Agora, segundo Susana, cada parceiro representa a busca da identidade de nós mesmos, onde as perguntas ;o que quero ser?;, ;quem quero ser?; e ;onde quero estar?; são as provocações que impulsionam os relacionamentos.

Então, qual será, afinal, o futuro dos relacionamentos amorosos? Para Susana, homens e mulheres devem somar à união um ;entrosamento espiritual;, para evitar que ela se torne cada vez mais vulgar, solitária e distante. ;Se a espiritualidade acompanha o relacionamento, então isso poderia ser o ninho perfeito para uma verdadeira jornada de aprendizado em conjunto;, opina.

Amor sob medida
No Dia dos Namorados, estudiosos revelam qual o futuro dos relacionamentos amorosos: para alguns, até robôs poderão fazer as vezes de parceirosO amor está sendo customizado. Pelo menos é o que acredita o psicólogo Aílton Amélio da Silva, especialista em relacionamentos amorosos e professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). ;Antes havia o chamado ;sapato 37;, ou seja, os padrões que eram aceitos para todos mas ficavam grandes para uns e pequenos para outros. Hoje isso caiu em descrédito;, explica. Agora, segundo Aílton, a regra é ;o que faz bem para mim pode não fazer bem para você;. Essa nova postura deu espaço para as pessoas literalmente adaptarem o relacionamento de acordo com as necessidades de cada um ; como optar por não dividir o mesmo teto com o parceiro, manter um casamento aberto ou não ter filhos.

No futuro, o psicólogo defende que a tendência é que os relacionamentos entrem em um movimento pendular até atingir a estabilidade. ;Já houveram várias tentativas de implantar o sexo livre, por exemplo, e logo em seguida as coisas ficaram mais restritas;, exemplifica. ;O equilíbrio é natural, a própria história progride dessa maneira.; A tecnologia também vai influenciar ainda mais o contato humano. Segundo Aílton, ainda que muitos encarem a internet como vilã dos relacionamentos cara a cara, ela também cumpre um papel importante na aproximação das pessoas. ;A tendência é que as pessoas se tornem cada vez mais urbanas, e a cidade dificulta os contatos, já que muitas pessoas moram longe umas das outras;, completa.

Mas será que chegará o dia em que robôs, animais ou bonecos irão substituir o amor humano? Aílton explica que a possibilidade pode não ser assim tão distante. Assim como um viciado em drogas (que troca estímulos naturais por artificiais em busca de uma exarcebação de sentidos), é possível que alguém procure a mesma coisa por meio de relacionamentos não humanos. ;Às vezes, o que é criado é mais interessante que a realidade;, justifica. Como tudo na vida, porém, ele frisa que essa mudança de paradigmas tem seu lado bom e o ruim. Para as pessoas com dificuldades em encontrar parceiros(as), apostar em novidades tecnológicas pode significar o fim do sofrimento e do coração partido. O lado ruim, claro, é a impessoalidade. ;Somos seres humanos, limitados pela genética;, defende o psicólogo. ;A internet e a tecnologia não conseguem transformar necessidades, instintos. O ser humano tem necessidade de imprevistos, não será um futuro com todos tocando harpa e sem conflitos. Isso não é humano.;

Amor pessoal
Nada de robôs, bonecos, internet: o futuro do amor são as pessoas. Para Lourdes Bandeira, antropóloga e professora da Universidade de Brasília (UnB), a realização amorosa só pode se dar por meio da convivência e de tudo o que advém dela, como diálogo, cumplicidade e o encontro entre o casal. ;São essas coisas que fazem as pessoas não deixarem de se relacionar;, defende. Ainda que a internet facilite a socialização, Lourdes acredita que ela por si só não é suficiente para substituir o contato físico.

Lourdes acredita que as mudanças de pensamento em relação ao casamento e à ;obrigação; de constituir família serão mais palpáveis para pessoas com um melhor nível de escolaridade, que teriam mais chances de se emancipar financeiramente e, assim, aumentariam as possibilidades de estabelecer um novo tipo de relacionamento, menos hierárquico e mais democrático. ;Sem a dependência financeira, os dois podem escolher se querem filhos ou se querem estudar, por exemplo;, justifica. ;É preciso ter clareza que o casamento ou o namoro precisa ser compartilhado. A vida reprodutiva não é responsabilidade só de um dos dois;, completa.

Mesmo com toda a ;parafernália; tecnológica, Lourdes é uma defensora do amor presencial: ainda que os arranjos familiares mudem, para ela a natureza das relações sempre continuará a mesma. ;As pessoas sempre vão querer estar umas com as outras, não tem sistema ou tecnologia que mude isso;, reforça. A necessidade de trocar carinho, afeto e a própria dinâmica social de interação com o próximo seriam variáveis determinantes para que as pessoas sempre procurem umas às outras, ainda que indiretamente. ;As tecnologias vão ajudar na procriação, a escolher o padrão de filhos, mas não acredito que robô possa amar, é tudo ficção. Não acredito que as tecnologias substituem a condição humana.;

Tantas formas de amar

Relacionamentos entre humanos, robôs e bonecos fazem parte dos roteiros cinematográficos há tempos. Veja alguns exemplos de amores ;não convencionais; criados pela telona:

A garota ideal (2007, classificação indicativa: 14 anos)
No Dia dos Namorados, estudiosos revelam qual o futuro dos relacionamentos amorosos: para alguns, até robôs poderão fazer as vezes de parceirosAcanhado e introvertido, Lars Lindstrom (Ryan Gosling) tem problemas para lidar com as pessoas. Dia após dia, Lars vive a mesma rotina: vai à igreja, ao escritório e volta para a garagem da casa de seu irmão mais velho, Gus (Paul Schneider) e de sua cunhada Karin (Emily Mortimer), onde mora. Tudo acontece como sempre, até que um colega de trabalho de Lars mostra a ele um site onde seria possível encomendar bonecas de silicone, mais reais que as ultrapassadas bonecas infláveis. Lars encomenda Bianca, cria uma história para ela e os dois passam a viver um ;relacionamento;, em que o tímido protagonista pode, finalmente, dar vazão à todas as suas carências emocionais e afetivas.

A.I. ; Inteligência artificial (2001, classificação indicativa: livre)
No Dia dos Namorados, estudiosos revelam qual o futuro dos relacionamentos amorosos: para alguns, até robôs poderão fazer as vezes de parceirosEm um mundo futurístico e tecnológico onde humanos convivem diariamente com robôs, Monica (Frances O;Connor) e Martin Swinton (Jake Thomas) estão prestes a perder seu único filho. Para tentar amenizar a dor, os dois resolvem participar de um projeto para testar um novo tipo de Meca, robô com um sistema avançado capaz de simular sentimentos humanos como amor, afeto e carinho. Porém, David Swinton (Haley Joel Osment), como foi chamado o androide, acaba abandonado na floresta quando o filho de Monica e Martin se recupera. Ele começa, então, uma jornada em busca do amor da mãe que nunca teve.

O Homem Bicentenário (1999, classificação indicativa: livre)
Baseado em um conto dos escritores Isaac Asimov e Robert Silverberg, o filme se passa em 2005. Na trama, a família norte americana Martin resolve adquirir um robô para ajudar nas tarefas de casa. O novo ;utensílio doméstico; chama-se Andrew (Robin Williams), e ganha, aos poucos, características humanas. A cada dia, Andrew levanta mais dúvidas sobre a existência humana e faz questionamentos à respeito da origem e dos significados dos sentimentos. Após 200 anos de existência, Andrew tem, enfim, a chance de tornar-se humano.

Wall-E (2008, classificação indicativa: livre)
No Dia dos Namorados, estudiosos revelam qual o futuro dos relacionamentos amorosos: para alguns, até robôs poderão fazer as vezes de parceirosGraças à poluição e aos gases tóxicos produzidos pelos avanços tecnológicos, a humanidade se vê obrigada a deixar a Terra e passa a viver em uma nave adaptada. Para tornar o planeta novamente habitável, são construídos robôs para limpar e arrumar os estragos. Wall-E (abreviação de Waste Allocation Load Lifter Earth-Class, ou, em português, Localizador e Coletor de Lixo Classe Terrestre) é um desses robôs, e passa seus dias entulhando e empilhando lixo. Sua rotina muda quando, misteriosamente, Eve ; um robô muito mais moderno e sofisticado ; aterrisa na Terra. Juntos, os dois vivem um amor intergalático e emocionante.

Eu, robô (2004, classificação indicativa: 10 anos)
No Dia dos Namorados, estudiosos revelam qual o futuro dos relacionamentos amorosos: para alguns, até robôs poderão fazer as vezes de parceirosA aventura se passa em 2035, onde a convivência com robôs já é algo totalmente intrínseco à sociedade. Todos os robôs têm a chamada Lei dos Robóticos, uma espécie de código de ética que os impede de fazer qualquer mal aos seres humanos. Contudo, a morte de um renomado cientista da U. S. Robotics Corporation dá origem a uma investigação para apurar a possibilidade dos robôs estarem começando a descumprir a Lei ; e serem os responsáveis pelo assassinato. A partir daí, o detetive Del Spooner (Will Smith) e a psicóloga de robótica Dra. Susan Calvin (Bridget Moynahan) passam a investigar Sonny, robô acusado de ter cometido o crime.

I;m here ; A love story in an about an absolut world (2010, classificação indicativa: 18 anos)
Em apenas 31 minutos, o filme do diretor Spike Jonze apresenta o relacionamento entre dois robôs. Feito em parceria com a marca de vodka Absolut, o curta foi exibido pela primeira vez no Festival de Sundance de 2010, que revelou cineastas famosos como os irmãos Joel e Ethan Coen (Bravura Indômita e Onde os fracos não têm vez), Quentin Tarantino (Pulp Fiction e Bastardos Inglórios). Na história, a estranha família com cabeças de computador vivem em Los Angeles (Estados Unidos). O filme está na internet, disponível na íntegra e pode ser visto no site oficial: www.imheremovie.com.

Para ler
A Cama na Varanda
Autora: Regina Navarro Lins
Editora: BestSeller
1; edição: 2007
R$ 44,90
No livro, a autora analisa a história sexual humana. Passando pela valorização da mulher na Antiguidade ela trata também do surgimento do patriarcalismo e das novas normas sociais ; tudo para tentar responder a uma pergunta que incomoda os relacionamentos amorosos até hoje: o que é melhor, estabilidade ou liberdade?

O futuro do amor
Autor: Adjiedj Bakas
Editora: Girafa
1; Edição: 2011
R$ 49,90
Com opiniões polêmicas e futurísticas, Bakas investiga os relacionamentos do século XXI. O autor mostra sua visão sobre o futuro do amor através de sua observação da ampliação e a virtualização do mercado do amor, das novas formas de coabitação e de outras manifestações de afeto. O conceito de família, a ânsia por experimentar coisas novas e a a tecnologização do amor e do corpo perfeito também são alguns temas abordados no livro.

Diferentes Formas de Amar ; Tudo o que não ensinaram às mulheres sobre relacionamento a dois
Autora: Susana Balán
Editora: BestSeller
1; edição: 2009
R$ 19,90
Quais as são peculiaridades que o século 21 e a consolidação da igualdade entre os sexos trouxeram à dinâmica amorosa entre homens e mulheres? Em Diferentes Formas de Amar ; Tudo o que não ensinaram às mulheres sobre relacionamento a dois, Susana Balán defende a necessidade de criar uma sintonia com o(a) parceiro(a), a fim de evitar possíveis mal-entendidos e garantir um relacionamento feliz e saudável.

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