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É isso aí, campeão

Cães podem se tornar ótimos parceiros de corridas e caminhadas, mas treiná-los para exercícios de alta performance exige precauções

postado em 16/06/2011 16:25

Gláucia Chaves // Especial para o Correio

Três vezes por semana, Marcelo de Mendonça Teixeira, 35 anos, e Malbec saem para dar uma voltinha. Programa nada incomum entre donos e cachorros, mas as caminhadas feitas pelo assessor parlamentar e seu labrador amarelo não são tão breves quanto as que costumamos ver por aí. A dupla participa de competições de rua desde 2006. De lá para cá, os dois já percorreram os trajetos das corridas Mar e Terra, Campos de Jordão (ambas em São Paulo) e Volta à Ilha, em Florianópolis, sem contar as provas realizadas em Brasília. Os percursos têm cerca de 10 quilômetros cada, percorridos bravamente por Marcelo e Malbec.

Malbec tem seis anos e treina desde que deixou de ser um filhotinho. Marcelo entrou na vida de atleta apenas um ano antes do cão. Ambos trabalham duro para ganhar condicionamento físico. ;Ele passou por um período de adestramento para se acostumar a correr. Depois, eu comecei a conduzir o treino por conta própria;, detalha o dono. Os dois começaram com pequenas distâncias, corridinhas de dois ou três quilômetros. Conforme o preparo foi melhorando, ambos partiram para empreitadas mais desafiadoras. Hoje, o exercício virou tradição nas manhãs de terça-feira, quinta-feira e sábado. ;Corremos 10 quilômetros nos dias de semana e 21, no sábado;, completa. ;É quase uma meia-maratona.;

Por onde passa, Marcelo e Malbec fazem um sucesso só. A tietagem é tanta que o cão só fica livre para correr sozinho, sem a limitação da coleira presa ao calção do dono, no meio da competição. ;No começo e no fim da corrida, todos que estão assistindo querem tirar foto, fazer carinho nele;, conta Marcelo. ;Tem gente que nem me conhece, mas sabe o nome dele;, brinca.

Orgulho de Marcelo, o labrador Malbec se tornou uma celebridade nas provas de rua em BrasíliaQuando ainda era um anônimo, Malbec participava das provas graças a um expediente inusitado: como cada competidor deve apresentar o número do CPF no ato da inscrição, Marcelo usava o CPF da própria mãe para alistar o mascote. Uma mentirinha inocente, só para que o público se acostumasse com o maratonista peludo. ;Parei de fazer isso porque ficou caro pagar duas inscrições. Mas, quando ele ia, colocava número de identificação e tudo;, diverte-se o dono.

Manter o alto desempenho não é fácil: além de ir regularmente ao veterinário, Malbec toma pílulas de cálcio diariamente. ;É uma maneira de fortalecer as juntas dele;, explica o assessor parlamentar. Se você já está com o tênis e a coleira em mãos, prestes a ganhar as ruas com seu animal de estimação, cuidado para não se empolgar. Segundo o personal trainer Luciano Lunkes, cães sedentários precisam de tempo para se adaptar a uma rotina de treinos. O ideal, segundo o educador físico, é acostumar o pet desde pequeno. ;Quanto antes ele pegar o ritmo, melhor. É preciso descobrir quem é o mais sedentário: o dono ou o cachorro;.

Verificar a saúde do animal é essencial se você quer uma companhia para correr. Segundo a médica veterinária Amanda Garcia de Santana, a primeira providência que o dono deve tomar é agendar um exame de sangue completo para o cão, além de um eletrocardiograma. Se tudo estiver sob controle, os cuidados com o animal durante a corrida são, basicamente, os mesmos de um ser humano. ;O animal precisa ser hidratado de 40 em 40 minutos;, ensina. Depois do exercício, complementar a alimentação do pet com as chamadas rações superpremium é o mais indicado para garantir a reposição de energia. Com mais fontes de proteína animal na composição, esse tipo de ração é de fácil digestão. ;Oferecer água de coco e até mesmo bebidas isotônicas sem corante após a corrida ajuda a repor os sais minerais e a reidratar o animal;, completa Amanda.

Trocar o asfalto por passeios na grama também ajuda o cão a não passar calor. A adestradora de cães Daniela Azevedo explica que os cachorros não suam pela pele, mas pela língua e pelos coxins, as ;almofadinhas; das patas. Se o chão estiver muito quente, o animal não consegue dispersar o calor produzido pelo exercício ; e corre o risco de desenvolver uma hipertermia, condição que aumenta de maneira incomum a temperatura corporal e pode levar o bichinho à morte em minutos. ;Quando o animal sente os sintomas, o quadro já está avançado;, alerta. ;Ele cai no chão, como se estivesse cansado, com a respiração acelerada. Pode haver também vômitos e convulsões.; Se isso acontecer com o seu pet, não hesite: providencie água, hidrate os coxins e leve-o ao veterinário o mais rápido possível.

Com os devidos cuidados, Daniela Azevedo diz que exercitar-se ao lado de companhia canina tem suas vantagens. Uma delas é driblar a preguiça. ;Em duas semanas, o animal já está adaptado à rotina de exercícios;, completa. ;Se o dono não for mais, ele vai sentir falta e cobrar;. Para o cão, os benefícios são ainda maiores. Os diferentes cheiros e cenários fazem com que ele tenha novos estímulos mentais, fundamentais para sua higiene psicológica. ;Hoje em dia, os animais ficam presos, convivendo com as mesmas pessoas;, justifica a adestradora. ;Isso pode gerar problemas comportamentais, como medo, estresse e falta de sociabilidade.;

Tempo frio não justifica o sedentarismo, diz Daniela. Ela lembra que existem academias para animais como alternativas para a corrida na rua. Até mesmo uma esteira dentro de casa pode ser usada para colocar o bicho em movimento. ;Os cães vão acumulando energia tóxica nos músculos. Eles precisam colocar isso para fora de alguma maneira;, resume. Além de melhorar a saúde física e mental do mascote, Daniela destaca outra vantagem dos exercícios em dupla que não tem preço: o vínculo afetivo entre dono e animal se estreita, aumentando a qualidade de vida de ambos.

Ficou com vontade de se exercitar com seu cão? Veja algumas dicas para um passeio saudável:
- Evite correr com coleiras muito pesadas, feitas de ferro ou enforcadeiras. O animal ficará com os movimentos limitados ; e pode acabar se atrapalhando ou atrapalhando você.
- Bicicleta e cachorro não combinam. O esforço que o animal precisará fazer para te acompanhar pode ser maior que o que ele aguenta, o que fará com que ele se canse mais rápido.
- Uma boa dica antes de encarar as pistas de corrida é estipular metas. Comece com pequenas distâncias e vá aumentando gradualmente, até que o cão tenha condicionamento físico para correr percursos maiores.
- Lembre-se de não forçar o animal a correr. O bicho precisa associar a atividade com diversão, para que os exercícios não se tornem um momento penoso para ambos.
- Leve o cachorro para um checape geral antes de iniciar qualquer atividade física. É preciso saber se o animal tem algum problema de saúde que o limite, como doenças cardiovasculares, displasia coxofemural ou anemia.
- Faça algumas paradas para hidratar seu amigo. Além de água, água de coco e bebidas isotônicas (desde que sem corante ou sabor) são boas opções para repor os sais minerais perdidos na transpiração
- Não coloque sapatinhos no cachorro. Como a transpiração deles também é feita pelos coxins, o calçado pode dificultar o processo.
- Escolha horários em que o sol está ameno ; antes das 10h e após às 17h. O asfalto quente pode queimar os coxins do animal, causando hipertermia.

Agradecimentos: Pet Shop Duducão; Acãodemia de Brasília

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