Com um pé no mundo e outro em Brasília. Assim são os personagens desta série. Pedimos licença para entrar, tomar um cafezinho e conhecer a casa de brilhantes fazedores de música, arte, teatro, cinema e literatura da cidade. Nesta edição, conhecemos um pedacinho do lar dos músicos Fernanda e Pil, da banda Lucy and The Popsonics, e do artista plástico Henrique Gougon, autor de mosaicos espalhados pelos quatro cantos da capital.
Do minimalismo ao pop
Ele traça linhas, enquanto ela as preenche com cores. Assim, o casal de músicos Fernanda e Pil Popsonic (Lucy and The Popsonics) decora, a dois, o apartamento de quatro quartos na Asa Norte. Admiradores de referências emblemáticas do design, até mesmo porque a formação do guitarrista Pil é nessa área, o amplo lar é uma sortida colagem. De pop art a Bauhaus. A sala, confessa Fernanda, é o ambiente favorito da dupla. ;Aqui, sentamos para compor, trabalhar, receber os amigos, fazer festas;, conta. Enquanto o marido adota referências do design escandinavo, ela gosta de peças coloridas e se orgulha de dar um toque feminino, seja em flores ou em cores fortes que espalha pelas paredes, prateleiras e mesa da casa.
O sofá com listras multicores foi escolhido a dedo. Assim como a pintura da artista plástica Michele Cunha, que Fernanda comprou recentemente. Cartazes de filmes, de shows, bibelôs sobre os móveis e até um discoball ; para ser acionado quando a trilha sonora pedir ; compõem o ambiente. São aquisições de lojas de arte, de departamento e de viagens, como a pequena churrasqueira verde que trouxeram na bagagem de mão da França. O adesivo de um gatinho brincando com novelos de lã ; homenagem do casal aos bichanos Napoleão e Bj;rk ; foi comprado numa loja de 1,99. ;São achados baratinhos ou peças que valem a pena comprar mesmo que sejam mais caras. Mas também decoramos nossa casa com criações nossas;, destaca Fernanda.
Esse é o caso do mural de fotos do casal presas em móbiles na parede da entrada da casa e ao lado da estante de livros. Os dois também fizeram moldes colantes das mãos para colorir a porta de vidro da varanda. Outro adesivo criado pelo casal ; ;In pop we trust; ; nada mais é que uma clara declaração de amor à pop art. Perceptível também na icônica lata de sopa que Andy Warhol pintou. A lata de Fernanda, no entanto, recebe lápis e canetas e fica apoiada na estante da sala, lado a lado com os livros de arte.
O lavabo é outro cantinho querido. Frequentado por amigos, o espaço recebe quadro, velas e um clima intimista para deixar qualquer um bem à vontade. Mas a visita termina por aí. Deixemos o quarto e o estúdio dos músicos para uma próxima vez. Até porque Fernanda e Pil acreditam no constante processo de transformação do apartamento e, até o momento, a sala é o espaço de que mais se orgulham. Eles se permitem decorar e inventar tranquilamente cada cantinho do apartamento. Tudo com rock e bom humor.
Arte por toda parte
Sem cerimônia, todos os moradores de Brasília puderam conhecer a casa de Henrique Gougon há pouco mais de seis anos. Na época, o artista plástico fazia parte de um projeto da Secretaria de Cultura chamado Atelier aberto. A placa que convidava os transeuntes continua lá, mas por esquecimento. Agora, Gougon só abre as portas da casa na Asa Sul para familiares e amigos queridos. Também pudera. Do jardim ao lavabo, obras de arte dão as caras e colorem sofás e paredes brancas, móveis históricos (herança materna) e artesanato. Tudo preservado com esmero.
Admirador de gravuras, xilogravuras, mosaicos e agora, mais do que em outros anos, de esculturas ; seu mais novo trabalho ;, Gougon mescla o contemporâneo ao clássico, rústico e artesanal. No jardim, foi ele mesmo quem meteu a mão na terra e distribuiu mosaicos e esculturas. ;Essa disposição ficou bacana porque quem passa pelos arredores vê, através do portão, um pouco da minha produção e de amigos;, diz, referindo-se à escultura de Darlan Rosa, logo na entrada.
Na sala de estar, peças de Farnese de Andrade, Darel Valença, Evandro Salles, Heitor dos Prazeres, Carlos Scliar (muitos) e móveis de madeira. A mesa da sala de jantar, assinada por Maurício Azeredo, é o orgulho de Gougon. ;Podemos desmontá-la com um sopro;, mostra, fazendo alusão à concepção do móvel. Outras peças de destaque reverenciam a arte popular do Vale do Jequitinhonha ou de Tiradentes (MG). Mas é a paixão de Gougon por Frida Kahlo que cresce aos olhos de quem visita a casa. Retratos da pintora mexicana abraçam diversos cantos, como sedutores mosaicos em paredes brancas. ;São mais ou menos 14. Nenhum deles dou ou vendo;, avisa.
A escultura de um beija-flor de madeira, presente que deu à mulher assim que se conheceram, ilumina e contrasta com a escadaria de metal. No andar de cima, um quarto de hóspedes, um banheiro com ares de casa de praia (com direito a cavalos-marinhos) e um mezanino com referências orientais, que funciona como espaço de meditação. Assim se fez: colchão sem estrado, almofadas jogadas para compor o ambiente com a luminária japonesa e o lenço de seda esticado para acomodar-se numa moldura de bambu.
Essa mistura de ares carioca, mineiro, brasiliense e até oriental descreve a casa do artista. Cada espaço, uma história que ele gosta de contar em detalhes. Modesto, confirma: a casa está em constante processo de arrumação. Após a visita da Revista, Gougon fecha a porta e transparece a certeza: da próxima vez, veremos outra arte em construção.