As 28 pedras do jogo de dominó são a grande paixão do gerente de contas André Nunes e do técnico arquivista Cícero Chagas. Ambos, jovens com 30 anos e cerca de duas décadas de dedicação ao jogo. A história dos dois é bem parecida. André, aos 11 anos, se interessou pelo dominó vendo o pai jogar. Antes mesmo de entender as regras, jogava pelas cores das peças. Hoje, seu filho de 5 anos também já sabe como o jogo funciona. "Passa de geração para geração", afirma. Cícero começou um pouco mais cedo. Aos 7 anos, acompanhava o irmão mais velho, que sempre jogava, e ficava observando seus movimentos.
Os dois participam do que chamam de rede social presencialdo dominó. Sempre vão para casa uns dos outros para jogar. Às vezes, são chamados para três ou quatro reuniões no mesmo dia, e é difícil decidir para onde ir. Porém, fora do ciclo de amizades relacionado ao jogo, nem todos entendem tamanho amor. "Alguns acham que é coisa de velho, outros ficam interessados no assunto", conta André. Tal estranhamento não é à toa. O gerente de contas já deixou de ir a um casamento para jogar dominó. Cícero não fica atrás: "Pra jogar, a gente desliga o celular e deixa a mulher sozinha em casa".
André conta que nesse círculo, até pouco tempo, os mais velhos eram maioria, mas agora a prática está bem disseminada entre os jovens. "A gente respeita e aprende muito com os mais antigos. Tem sempre a troca de experiências e as homenagens quando algum deles se vai."
Quando começa a partida e cada competidores está com as sete peças na mão, o único barulho são das pedras sendo colocadas na mesa. Nesse jogo silencioso, os jargões ficam para depois que alguém "bate".
- Pato ou marreco é a gíria que designa uma pessoa que joga mal.
- Gato poderia ser algo bom, mas, na verdade, é aquele que perdeu sem fazer pontuação.
- Cuíca ou gato de ré é a expressão para quem vence de virada.
- Batida lá e lô é vencer o jogo usando uma peça que tenha os mesmos números das duas pedras das extremidades.
A avó do estudante é a bisavó dos irmãos Daniel Araújo, 10, e Lucas Araújo, 9, e do primo Pedro Fernandino da Silva, 7 anos. As crianças começaram a jogar sozinhos há um ano. A professora Rachel Araújo, 33 anos, mãe de Daniel e Lucas, conta que eles já jogavam sentados nos colos dos pais. "Agora, só precisa juntar quatro e lá vão eles jogar canastra", conta.
Assim como os primos, Guilherme começou do mesmo jeito, aos 10 anos. Ele observava os pais, que chamavam amigos para jogar em casa. Como já tinha gosto por baralho, começou a jogar tranca. Mas não é comum um jovem de 17 anos ter esse tipo de hobby. "Na escola, acham que é jogo de velho, e eu até acho normal eles pensarem assim, já que só gente mais velha geralmente joga. Mas não me importo, eu acho legal", confessa. Além da canastra, Guilherme gosta e joga xadrez, truco e ludo, tudo que parece saído de um baú antigo.
Nada de influência familiar. O estudante Vítor Castelões Gama, 22 anos, conheceu o jogo mahjong com um colega da faculdade em que estuda. Há dois anos, esse amigo levou o tabuleiro, apresentou o jogo e o ensinou a jogar. Uma vez por mês, Vítor se reúne com três amigos de sua idade para jogar.
O mahjong tem origem incerta e só veio para o Ocidente no início do século 20, chegando primeiro aos Estados Unidos. Em 1920, um americano patenteou e fez simplificações nas regras. Devido à popularização do mahjong e às diferenças entre as regras aplicadas, em 1924 foi formado um comitê para a padronização das normas.
O jogo tem várias versões. É jogado por jovens, seja na internet, seja no tabuleiro. O passatempo para o computador, mais conhecido como mahjong solitaire, é a reprodução do jogo com regras norte-americanas. Porém, Vítor prefere o tradicional, de tabuleiro e que tem origem chinesa. "Ele é mais difícil e tem outros objetivos que não simplesmente juntar os pares. É como se fosse um jogo de buraco", explica.
Agradecimento: Terno de Branco