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O fantástico mundo da Barbie

A Revista visitou o Centro de Design da Mattel, empresa que fabrica a boneca mais popular do mundo, e descobriu como ela é pensada e produzida

postado em 14/07/2011 18:29

Sibele Negromonte

A Revista visitou o Centro de Design da Mattel, empresa que fabrica a boneca mais popular do mundo, e descobriu como ela é pensada e produzida

Los Angeles ; Ela hoje é uma jovem senhora. Ao longo de 52 anos já foi médica, dentista, arquiteta, jornalista, engenheira; experimentou mais de 125 profissões. Teve cabelos louros, pretos, ruivos, lisos, encaracolados. Vestiu-se de princesa, de biquíni, de roupa de gala e inspirou muita fashionista. Casou-se e, depois de um longo relacionamento, separou-se. Recentemente, voltou a se apaixonar pelo grande amor de sua vida, o Ken, dois anos mais jovem. E durante mais de meio século mexeu com o imaginário de milhares de pequenas ; e muitas grandinhas ; ao redor do mundo.

Foi superfácil perceber que estamos nos referindo à Barbie, a boneca mais popular do planeta. O difícil é imaginar o longo caminho trilhado para que ela chegue até as mãos das crianças. A Revista visitou o Centro de Design da Mattel, fabricante da Barbie e de tantos outros brinquedos ; como Hot Wheels, Polly Pocket, Fisher-Price, Max Steel, Little Mommy ;, que mexem com o imaginário da garotada há quase 70 anos. Lá, vimos de perto cada detalhe da criação de uma Barbie. E haja planejamento, estudo e trabalho pesado. Para quem nunca parou para pensar nisso, basta dizer que, do momento da idealização até a sua chegada às prateleiras das lojas, são gastos de nove a 12 meses.

;A equipe necessária para administrar o universo da Barbie é quase do tamanho da que administraria um pequeno país;, compara a vice-presidente mundial das marcas de meninas da Mattel, Stephanie Cotta. De fato, pelo menos 100 pessoas são responsáveis pelo processo criativo da boneca no Centro de Design, em Los Angeles ; isso sem contar as outras milhares envolvidas em sua produção nas fábricas da Mattel no sudeste asiático e México. Stephanie explica que, antes de se desenvolver um novo modelo, três aspectos precisam ser levados em consideração: a relevância cultural, aspiracional e fashion da boneca. Eles formam o DNA da Barbie, idealizado por sua criadora, Ruth Handler.

Para Stephanie, a boneca ajuda as garotas a perceberem que elas podem ser o que quiserem. Não é à toa que a Barbie já teve mais de 125 profissões. ;Ao longos desses 52 anos, ela tem sido uma pioneira. Nós mandamos a Barbie para a Lua antes de Armstrong chegar lá;, diverte-se. ;Ela é apenas uma boneca, mas para uma criança, representa tudo.; Prepare-se para fazer um tour por esse fantástico mundo da Barbie.

A Revista visitou o Centro de Design da Mattel, empresa que fabrica a boneca mais popular do mundo, e descobriu como ela é pensada e produzida


O make perfeito
Ao entrarmos na ala onde é criada a Barbie, no Centro de Design, logo damos de cara com várias cabeças de boneca: carecas e sem maquiagem. Mas elas ficarão assim por pouco tempo. Uma equipe de sete designers gráficos são responsáveis por pensar apenas no make-up que a boneca terá. Nas paredes, fotos de celebridades, it-girls, top models e quem mais dita a moda nas ruas e nas passarelas servem de inspiração. O trabalho é minucioso. Usando uma lente de aumento para facilitar o trabalho, a designer vai pintando cada parte do rosto: cílios, olhos, boca, bochecha; Depois de um longo processo, é criada, então, uma espécie de carimbo com a maquiagem que vai compor o rosto daquela linha da Barbie. As indústrias, então, o usarão para produzir a boneca em larga escala. Vale lembrar que, todos os anos, cerca de 90% dos modelos são renovados. Ou seja, são lançadas centenas de Barbies. Cada uma com o seu próprio make-up.

Loura, morena ou ruiva?
A maquiagem está perfeita? Agora é hora de cuidar do cabelo. A primeira coisa a fazer, como explica a nossa cicerone, Cassandra Kroskrity, diretora de design 3D da Mattel, é definir a cor das madeixas, se elas terão ou não mechas, se serão lisas, cacheadas ou onduladas e como será o corte. Para pensar isso tudo, estão à frente sete hair designers e dois coloristas. A inspiração? Mais uma vez as celebridades. Para que tudo fique perfeito, o ;couro cabeludo; da boneca é pintado no mesmo tom que será o cabelo. Os fios são uma mistura de acrílico e plástico ; a mesma base daquelas sacolinhas usadas para embalar alimentos na cozinha.

Tudo manual
Definido com será o cabelo, é chegado o momento de implatá-lo ; ou melhor, costurá-lo. Uma linha no rosto delimita onde os fios devem começar. Diante de máquinas industriais, hábeis costureiras vão cozindo os fios em uma espécie de caracol. Em seguida, a cabeça é colocada em um suporte e a vasta cabeleira, penteada. Dessa vez não tem jeito. Até mesmo nas fábricas, todo o processo é feito manualmente e dura, em média, de três a quatro minutos.

Prontas para a passarela
Maquiagem e penteado perfeitos exigem roupas à altura. E uma equipe de estilistas está lá para criá-las. Como fariam para montar qualquer coleção para humanos, eles vão atrás de referências, fazem estudo de tecido, de cores e se esmeram na criação dos croquis. São várias as linhas de Barbie lançadas todos os anos: princesa, fashionista, profissional, esportista; e, é claro, a exclusivíssima para colecionadores. Essa é feita pensando no público adulto mesmo. Um luxo só! Desde 1959, 1 bilhão de roupas foram produzidas para a Barbie e seus amigos. Cerca de 70 estilistas famosos já criaram um vestido para ela.

Castelo moderno
Um dos itens da Barbie de maior sucesso entre as meninas é a sua casa. Também pudera, o cuidado com que é pensada ; não só a estrutura como toda a mobília ; não é muito diferente da execução dos projetos de imóveis de verdade. Uma equipe trabalha só na elaboração das plantas ; um misto de cálculos e design. A casa ao lado, por exemplo, foi inspirada em uma típica mansão da badalada Malibu, praia da Califórnia. Tem elevador, telhado que se abre (para Barbie poder ver as estrelas ao lado do Ken), quarto, cozinha, sala; Detalhes que impressionam.

Pequenos e exigentes
Brincar é assunto muito sério. Além de divertir, o brinquedo, quando adequado à idade certa, tem a capacidade de ajudar no desenvolvimento físico, social e cognitivo da criança. Não é à toa que a Mattel mantém uma equipe que desenvolve pesquisas constantes ao redor do mundo. Sua principal função é observar como meninos e meninas se comportam para que, diante dos resultados, a empresa possa desenvolver brinquedos que atendam exatamente os desejos dos pequenos. Nos estudos, são levados em consideração a faixa etária, o gênero e o aspecto cultural. ;Queremos que os brinquedos ofereçam certos benefícios às crianças;, garante o vice-presidente mundial de pesquisa com consumidores da Mattel, Michael Shore.

De acordo com ele, brincar ajuda, por exemplo, a criança a expressar suas emoções, a entender a sequência das coisas. ;Por meio da brincadeira, elas falam sobre suas fantasias. O brinquedo ajuda a expandir o vocabulário, a estimular a imaginação e a criatividade, a aguçar os sentidos, a ensiná-las a esperar por sua vez, a partilhar. Ensina também a ser paciente e a adotar papéis diferentes.; Pesquisa realizada nos Estados Unidos mostra que as mães sabem bem disso: 95% delas consideram que brincar com brinquedos é importante para o desenvolvimento da criança. ;Um terço das mães americanas gostariam de que os filhos tivessem mais tempo para brincar com os brinquedo;, completa Shore.

Para o executivo da Mattel, entender como as crianças se desenvolvem ajuda a escolher que temas usar nos brinquedos. Um exemplo prático disso foi o lançamento recente da linha de bonecas Monster High. De acordo com Shore, as observações mostraram que toda garota, na faixa de 7 ou 8 anos, passa por uma fase em que se sente fora da sociedade, como se não pertencesse a ela. ;A garota monstro surgiu por causa disso. Ela foge ao padrão da sociedade. Mas, apesar de serem monstros, elas são atraentes, têm um estilo que, sabemos, as meninas gostam.;

As diferenças de gênero também norteiam todos os estudos. Shore lembra, por exemplo, que, quando mais jovens, as meninas tendem a ser mais espertas e rápidas que os meninos. Elas falam, leem e pensam mais rápido. Por outro lado, entre os garotos, é normal haver uma divisão de interesses: existe um grupo que gosta mais de carros e aquele que curte bonecos, super-heróis. Na maneira de brincar, eles e elas também diferem ; e muito. Os meninos, explica Shore, costumam ficar mais centrados nos conflitos. Querem que o mocinho acabe com o bandido para se tornarem heróis. Já as garotas tendem a ser mais cooperativas, gostam de cuidar. Elas tentam convencer o bandido a deixar de ser mal e virar o mocinho.
Essas e muitas outras conclusões foram chegadas depois de 18 anos de pesquisa. Anualmente, a Mattel ouve pelo menos 100 mil garotos ao redor do mundo, inclusive no Brasil. ;Já coletamos informações de mais ou menos 2 milhões de crianças;, calcula Shore, que é Phd em psicologia infantil. Para chegar até elas, são feitas as chamadas pesquisas de playground (em que mães e crianças são ouvidas e observadas em parquinhos) e as via internet (há uma rede de mães colaboradoras da Mattel). A mais constante e forte delas é a realizada no Centro da Imaginação, na sede da Mattel, em Los Angeles.

Todos os dias, meninos e meninas são recrutados em escolas e na comunidade próxima ao prédio da Mattel para brincar. As salas do Centro da Imaginação são repletas de brinquedos que ainda vão chegar ao mercado e simulam quartos infantis ; tem o dele e o dela. Os recrutas passam, em média, 30 minutos ;testando; os brinquedos. Através de um espelho, são observados por pedagogos e psicólogos. No final, a garotada é convidada a dar a sua impressão sobre o que viram ; e brincaram. Esse trabalho ajuda os especialistas a fazerem os ajustes necessários no brinquedo que será comercializado ; e dará subsídios para a criação dos futuros. ; Para nós, o maior desafio é oferecer às crianças exatamente o que elas querem.;



O perfil do pequeno consumidor
Pesquisas realizadas pela equipe de Michael Shore dividem o desenvolvimento das crianças por faixa etária e como elas se comportam diante das brincadeiras. A partir dessas características, criam os brinquedos. Em média, 70% das linhas de brinquedo da Mattel são renovadas anualmente.

Desenvolvimento físico
De 3 a 5 anos ; Nessa fase, as crianças começam a desenvolver suas habilidade relacionadas à coordenação motora fina. São boas em atirar coisas, em corridas, têm domínio sobre a coordenação motora grosseira e começam a controlar a ida ao banheiro.
;Como são muito pequenas, temos que nos certificar que os brinquedos serão adequados para a fase que elas estão atravessando;, explica Shore.

De 5 a 7 anos ; A coordenação motora melhora.
;Elas já podem começar a trabalhar com peças pequenas, andar de bicicleta com rodinhas e até skates;, enumera o executivo da Mattel.

De 7 a 10 anos ; Elas são como pequenos atletas.
Podem quase tudo.

Desenvolvimento social
De 3 a 5 anos ; O mundo delas é a casa, o quarto e, talvez, o ambiente imediatamente à sua volta. A família é tudo para elas.
As brincadeiras são estereotipadas em função do gênero. Meninas, por exemplo, tendem a ficar mais ligadas a coisas muito femininas. ;Existe um grande debate se isso é social ou se elas nascem assim. Não temos as respostas. Para nós, o que importa é que o brinquedo deve atender as preferências e necessidades das crianças.;

De 5 a 7 anos ; À medida que envelhecem, o ambiente social e o mundo se expandem. Agora, não há apenas a casa, mas a escola e os seus diversos ambientes. Elas são levadas a shoppings, viagens e o mundo se abre.
O tema dos brinquedos também precisa se expandir para elas manterem o interesse.

De 7 a 10 anos ; O mundo se expande ainda mais e elas passam a se ver como indivíduos. Começam a entender o que as tonam diferentes dos amigos.
;Os brinquedos podem ser usados para expressar essa nova identidade. Eles são projetados para atender as necessidades em evolução;, justifica Michael Shore.

Desenvolvimento cognitivo
De 3 a 5 anos ; Elas acreditam que o mundo é um lugar mágico. ;Por isso o sucesso da Pixar, dos bonecos que ganham vida;, explica Shore.
Elas brincam em um mundo de fantasia. ;É desconexo, mas muito divertido de assistir;, completa o vice-presidente da Mattel.

De 5 a 7 anos ; Elas começam a entender a conexão entre as coisas. Estão aprendendo a ler e a entender causa e efeito. Adoram transformação.
Elas adoram brinquedos que desafiem suas habilidades espaciais. As brincadeiras ganham mais regras e começam a se transformar em uma história. Tornam-se mais linear.

De 7 a 10 anos ; Elas se tornam mais lógicas.
As brincadeiras passam a ser centradas em objetivos. Os jogos adquirem grande importância e elas se tornam mais organizadas. ;É o momento em que, nas brincadeiras, começa a ter vencedores e perdedores. E eles têm que seguir as regras.;

A jornalista viajou a convite da Mattel


Você sabia?


A Revista visitou o Centro de Design da Mattel, empresa que fabrica a boneca mais popular do mundo, e descobriu como ela é pensada e produzida

A primeira Barbie foi vendida em 1959 por US$ 3. Desde então, ela já teve mais de 125 carreiras.

O Ken é dois anos e dois dias mais novo do que a Barbie. Em 2004, depois de um longo casamento, eles se separaram. A relação estava desgastada e Barbie queria trilhar novos caminhos, investir na carreira. Recentemente, eles se reencontraram no set de filmagem da animação Toy Story 3, da Pixar. Ken voltou a cortejá-la e desde o Valentine;s Day, em 14 de fevereiro deste ano, eles voltaram a namorar. ;Uma coisa interessante que aprendemos ao ouvir as garotas é que elas gostam de encenar esse tipo de história romântica. Ken e Barbie formam um casal poderoso. Posso dizer que eles estão felizes.; As vendas do Ken também cresceram bastante.

A Barbie tem quatro websites e está presente em três mídias sociais: blog, Facebook e Twitter. O site http://br.barbie.com/ é o infantil mais acessado do Brasil. Só no Facebook, ela tem 2,5 milhões de amigos.

Em 2002, a Barbie deixou sua marca na Calçada da Fama, em Hollywood, ao lado de celebridades.

300 mil foi quantidade de bonecas Barbie vendidas em 1959, ano de seu lançamento. US$ 27.450 é o valor estimado de uma Barbie original de 1959 nova.

90% das meninas nos Estados Unidos, na idade de 3 a 10 anos têm pelo menos uma boneca Barbie.

Se colocadas lado a lado, as bonecas Barbie e os membros da família vendidos desde 1959 dariam voltas ao mundo mais de sete vezes.

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