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Qual o seu desejo?

Saiba como se tornar um voluntário para ajudar crianças doentes a realizar seus sonhos

postado em 15/07/2011 16:33

Gláucia Chaves // Especial para o Correio

Gabriel, com um policial militar de Samambaia: sonho duplamente realizado

;Estou tão nervoso que parece que meu sangue está fazendo bolinha, fervendo!” Eufórico, Gabriel Eduardo Euripes Coutinho quase não consegue se conter: por conta dessa reportagem, ele está prestes a repetir o sonho de viver um dia como policial. A data que pisou pela primeira vez em um batalhão da polícia ; 29 de junho de 2009 ; ficou marcada para sempre. Ocorreu em São Paulo, onde o garoto estava em tratamento, e foi organizada pela organizada pela Make-A-Wish Brasil, instituição afiliada a Make-A-Wish Foundation International, que tem como propósito realizar sonhos de crianças com vidas ameaçadas por doenças graves e crônicas. A convite do Correio, Gabriel repetiu a experiência. Conheceu o batalhão da Polícia Militar, em Samambaia, onde mora. Assim como na primeira vez, o garoto subiu nas motos, andou de carona na viatura e até visitou o BOPE.

Não fosse pela extensa lista de problemas de saúde que parecem persegui-lo desde o dia em que veio ao mundo, o garoto, que foi o primeiro brasiliense agraciado pela instituição, não seria diferente das outras crianças da mesma idade. Alegre, comunicativo e cheio de energia, ele já se submeteu a 15 cirurgias em apenas oito anos de vida. Ironicamente, foram os problemas de saúde que o colocaram frente a frente com policiais de verdade, seus heróis desde que aprendeu a falar.
Gabriel nasceu com malformação no fígado. Quando completou um ano e três meses de idade, precisou de um transplante e recebeu 30% do órgão da tia. A medicação que passou a tomar após a cirurgia comprometeu seu sistema imunológico. Com a imunidade abaixo do normal, ele desenvolveu Linfoma Não-Hodgkin ; o que, segundo definição do Instituto Nacional de Câncer, é uma forma da doença que se origina nos linfonodos (gânglios) do sistema linfático, principal aliado no combate a infecções e doenças. Sem a proteção natural do corpo, o menino foi parar no hospital diversas vezes, acometido por toda a sorte de infecções. Hoje, ele precisa usar dreno constantemente, devido a uma estenose do fígado (ou estreitamento das vias biliares). A limitação não o impede de brincar ou estudar, mas exige observação constante da mãe. ;Um dia, uma das crianças da rua esbarrou nele, que caiu em cima do dreno, de barriga;, relembra Francisca Coutinho de Almeida, mãe de Gabriel. ;Ele ficou em coma por dois meses, poderia ter morrido ali mesmo.;

O acompanhamento de praticamente todas essas complicações (e as que vieram em seguida) é feito na instituição Casa Hope, voltada para o tratamento de crianças com câncer, em São Paulo. Lá, enfermeiros e médicos se comoveram com a história de Gabriel. Procuraram, então, a Make-A-Wish Brasil. A iniciativa brasileira começou em 2008, e, desde então, conta com a ajuda de mais de 300 voluntários e empresas dispostas a patrocinar os desejos dos pequenos. Leda Marian Tannus Fonseca, diretora executiva da Make-A-Wish Brasil, explica que há vários tipos de colaboradores. ;Existem os patrocinadores, que entram com a parte financeira dos desejos, fazem doações ou nos ajudam a arrecadar fundos para o projeto, aqueles que doam serviços ou produtos e os que doam o próprio tempo, no caso dos voluntários;, detalha.

Os pedidos mais comuns envolvem computadores, viagens e conhecer celebridades, divididos em ;desejo ir;, ;desejo ser;, ;desejo ter; e ;desejo conhecer;. Leda conta que a ideia de fazer o trabalho veio importada dos Estados Unidos pelo irmão, que conheceu a iniciativa e rapidamente a convenceu a levar o projeto adiante. ;Assim que ele me contou sobre a fundação, passei a fazer o levantamento das crianças que poderiam participar, os custos envolvidos e a legislação que precisaríamos seguir;, completa. Nesses três anos, ela estima uma média de 15 sonhos realizados por mês. Na conta, entram ainda mais de 60 pedidos em andamento e 100 na fila de espera. A meta é zerar a lista em três ou quatro meses. Não há uma seleção propriamente dita, mas critérios a serem considerados, como ter menos de 18 anos e ser acometido por qualquer doença que coloque a vida em risco. ;Quem atesta se o paciente é ou não elegível é o médico, não os voluntários;, destaca a diretora. A própria criança ou os responsáveis podem entrar em contato com a fundação, que irá analisar o estado de saúde dela junto aos médicos que a acompanham.

Policial para sempre
Apenas casos mais graves recebem permissão para furar a fila, por assim dizer. São os chamados ;rush wishes; ; ou ;desejos urgentes; em português. Ao longo do processo de descoberta do desejo e planejamento das atividades, a equipe da Make-A-Wish fica em constante contato com os médicos que cuidam da criança, para se manterem informados sobre o andamento do quadro médico do paciente. Se for constatado que o estado de saúde do pequeno está chegando a um estágio perigoso, o desejo é realizado o mais rápido possível. ;Temos equipes preparadas para atuar rapidamente, mas tentamos não atrasar nenhum pedido. Os voluntários passam a trabalhar paralelamente a outros desejos;, explica Lena Tannus. Ela calcula que cerca de 10% de todos os desejos realizados foram de casos assim.
No caso de Gabriel, não foi preciso tanta pressa. Os voluntários tiveram tempo suficiente para organizar sua visita ao 3; Batalhão da Policia Militar Metropolitana de São Paulo. ;Eles nos buscaram na Casa Hope de viatura;, relembra a mãe, Francisca Almeida. Duas motos e duas viaturas levaram o menino para um passeio na cidade. Com sirenes e auto-falante liberados, Gabriel ensaiou algumas ordens ; ;É a polícia, com licença;, ;Não bebam, não fumem, é a polícia; ; e recebeu toda a pompa que tinha direito. ;Os policiais fizeram como se ele estivesse se formando. Colocaram até uma placa escrita ;tenente Gabriel; na farda que fizeram para ele;, conta a mãe.

Desde o fatídico dia, Gabriel nunca mais foi o mesmo. Ao receber a reportagem, o menino trouxe consigo todas as lembranças do dia que não precisa de provas físicas para nunca mais ser apagado da memória. Vestido com a farda feita especialmente para ele, empunhava o quadro emoldurado com a foto que tirou quando que teve seu desejo realizado. ;Agora sou um policial de verdade;, diz, orgulhoso, a todos que conhece. Em São Paulo ; onde passa a maior parte do tempo, por conta dos tratamentos e cirurgias ; estão as outras relíquias, como a medalha de honra ao mérito, o certificado de policial e um anel, que ganhou do batalhão.

Hoje, Gabriel e a mãe vivem em uma parte da casa que os avós do garoto reservaram para eles, em Samambaia. Por conta do sempre delicado estado de saúde do filho, Francisca não pode trabalhar: a qualquer momento, o menino pode precisar de atendimento médico. Porém, mesmo apegado à família, agitado e falante, Gabriel tem seus momentos de reclusão. ;Ele já perdeu vários amiguinhos que também tinham doenças crônicas;, conta. ;Isso o atinge muito. Uma vez ele me perguntou quando será a vez dele.; Sempre que está triste, Francisca conta que o uniforme em miniatura funciona como remédio. ;Ele usa medicamentos para dormir e para depressão. Ao todo, são de 12 a 15 comprimidos diários, fora os curativos;, conta. ;Quando ele tem crises, coloca a roupa e finge que ainda está naquele dia.;

Gênios da lâmpada


Voluntária desde fevereiro de 2009, Carolina Rodrigues Enge, 29 anos, faz parte da equipe responsável por lidar diretamente com as crianças durante os desejos. A professora, que dá aulas para alunos de nove a dez anos, já esteve envolvida em mais de 20 desejos. ;Nessa época, a fundação ainda estava no começo. Então, dependíamos de conhecidos para conseguir o contato de celebridades, por exemplo;, conta. Logo no primeiro desejo ela precisou da ajuda desses colegas bem informados: o sonho da criança era conhecer a seleção brasileira de futebol. ;Montamos um esquema para simular que ele foi convocado para o time;, relembra. Após entrar em contato com os jogadores, equipe de voluntários levou o pequeno para o aeroporto, onde os atletas o esperavam. ;No dia seguinte, as pessoas foram pedir autógrafo, como se ele fosse mesmo um jogador de futebol;.

Porém, a emoção de ver um sonho realizado não fica só por conta da criança agraciada. Além de providenciar todos os detalhes para que o pedido saia exatamente como os pequenos desejam, Carolina reconhece que o envolvimento emocional é inevitável. ;Já ajudei a realizar o desejo de uma menina com um tumor na faringe que foi adoecendo bastante;, diz. ;O sonho dela era lançar um CD, mas a evolução da doença foi interferindo na gravação;. Já quase no fim da vida, a menina não só conseguiu reunir forças para entrar em estúdio como para cantar no show de estreia do álbum. O concerto aconteceu na igreja que a garota costumava frequentar. ;Acompanhei o processo todo, foi muito difícil. Mas a gente acaba lidando com o lado mais bonito, que é tirá-los um pouco dessa realidade da doença;.

Dependendo da enfermidade, contudo, o desejo pode não ser viável. Se a equipe médica achar que a criança está muito fragilizada pelos tratamentos a que é submetida, por exemplo, pode ser inviável levá-la a uma viagem ou passeio. Por isso, para garantir que ela tenha algum pedido realizado (ainda que não seja o principal), os voluntários fazem uma lista com três possíveis pedidos, com opções que preservem a mobilidade do pequeno. Todos os que participam da realização e organização das atividades recebem uma pasta. Nela, estão os dados da criança, a entrevista feita para descobrir o que ela realmente quer, o planejamento para conseguir as doações e os custos que a empreitada terá. Após o término do desejo, o voluntário cola uma pequena estrela dourada na pasta e passa para a próxima. ;Nos encontramos uma vez por semana para conversar sobre o andamento dos desejos;, completa Carolina.

Desejo ser; voluntário
Além de ajudar financeiramente, você também pode colocar a mão na massa. Se a ideia de se tornar voluntário da Make-A-Wish te agrada, veja as opções e escolha a que mais combina com você:

Desejos: Para os que querem trabalhar diretamente na realização do desejo. Aqui os voluntários são responsáveis por entrar em contato com ela e com a família, para delinear e planejar os rumos do pedido. Não é preciso estar presente no escritório da fundação, mas comprometimento. Saber trabalhar em equipe é fundamental.

Captação: Nessa área, os voluntários ficam por conta da parte financeira dos pedidos. São eles que irão buscar recursos financeiros e doações de produtos para viabilizar os desejos. As doações vem de parcerias, patrocínios e contatos com pessoas físicas e jurídicas.

Administração: Aqui, a tarefa dos voluntários é ajudar em questões administrativas internas. É desejável ter algum tipo de experiência em áreas que envolvam administração, mas não é um pré-requisito. É a única opção que demanda tempo e presença no escritório, mas os horários são de acordo com a disponibilidade do voluntário.

Fonte: Site oficial Make-A-Wish Brasil - http://www.makeawishbrasil.com.br

Desejo ajudar
Ficou com vontade de ajudar o Gabriel a se recuperar? Veja como entrar em contato:

Francisca Coutinho de Almeida
Telefones para contato: 3359-2371 ou (11) 9640-4308

Doações:

Caixa Econômica Federal
Agência 4167
Conta poupança: 5617-2

Banco de Brasília
Agência: 053
Conta poupança: 053044325-2

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