O movimento parece não ter mais volta. A parceria de importantes estilistas com as gigantes lojas de departamento ou com as grifes nacionais parece ser a solução para quem sonha em ter uma peça assinada por um grande nome da moda. O casamento de talento e glamour com grande produção e preços mais baixos é a oportunidade de levar para casa, a um valor bem mais razoável, um objeto que vale pelo criador.
Muitos já garantiram a peça fashion em outras campanhas. E vem mais por aí. Para o próximo verão, tem óculos assinado por Ronaldo Fraga e Isabela Capeto; Melissa desenhada pelo mesmo estilista e por mais dois profissionais das passarelas internacionais; além das surpresas, ainda não anunciadas, da Riachuelo, que garantiu: vai ter, até o fim do ano, nome de gente importante nas araras da loja de departamento.
;A profissão de estilista exige não só o talento de criar produtos inovadores, ricos esteticamente e possíveis para a reprodução industrial. Exige conhecimento das áreas de vendas, de administração e financeira. Por outro lado, as grandes empresas têm a tendência de facilitar a produção, copiando produtos de sucesso, com pouca inovação, mas ousadia estética. A associação das duas forças possibilita design de qualidade a preço acessível com ampla distribuição. É quase a realização de um sonho!”, avalia a Mariana Rocha, estilista, professora de estilismo da Faculdade Santa Marcelina (FASM), mestre em Artes Visuais pela FASM e consultora de moda.
Aliás, a Riachuelo é uma das pioneiras da ideia no Brasil. Em 1970, a rede convidou o estilista baiano Ney Galvão para desenhar algumas peças para a loja. Na época, o público não entendeu muito bem como alguém do badalado meio da elite poderia fazer roupas para um público que só consumia em lojas voltadas para a classe C e D. A mentalidade mudou. A informação sobre moda se expandiu, o bolso do trabalhador ficou mais recheado e o público que, antes não tinha acesso ao glamour, hoje o conhece e o deseja fortemente. A diferença é que querem continuar pagando pouco, ou pelo menos o que podem, por isso.
;Nossa ideia é trabalhar com os nomes incríveis e levar esse produto ao nosso público, cada vez mais entendido no assunto;, diz Marcella Martins de Carvalho, gerente de marketing da Riachuelo. Nos dias de lançamento grifado, filas se formam diante da vitrine das loja. Foi assim com a Cris Barros. Eram muitas mulheres fashion querendo comprar a coleção assinada pela estilista, em abril desse ano. Depois, foi a vez de a loja colocar nas araras minicoleções de lingerie criadas por Thaís Gusmão e mais 30 peças de Pedro Lourenço, o elogiado estilista brasileiro que brilha mais nas passarelas internacionais do que no próprio país.
Essa correria toda para garantir as melhores peças agrada não apenas o público fiel da rede como atrai quem nunca pisou por lá. ;Essas pessoas acabam descobrindo que temos peças muito legais e de qualidade;, comenta a gerente de marketing. Tamanho sucesso, que, em breve, eles anunciam novas parcerias. Nos bastidores do mundo da moda, falou-se que a chique Huis Clos faria a próxima coleção para o fast fashion. A Riachuelo, no entanto, ainda não confirmou o nome.
A seus pés
Para o próximo verão, a Melissa também apresenta novos nomes de peso. O estilista tailandês Jason Wu, que ficou famoso depois que a primeira dama americana, Michelle Obama, desfilou com um de seus modelitos no baile da posse de Barack Obama, acaba de vir ao Brasil lançar os dois modelos de sapatos de plástico criados para a marca brasileira. Ele fez uma sapatilha e uma peep toe com um laço e a logo do estilista. Um luxo que pode ser adquirido por pouco mais de R$ 100, montante que nem pagaria os aviamentos de um vestido assinado pelo moço.
Outro vip fashion que exibe seu talento em objeto de desejo acessível é o estilista inglês Gareth Pugh, considerado uma das revelações da moda londrina. Ele esteve no Rio de Janeiro em maio desse ano para apresentar os dois modelos de melissas desenvolvidos por ele. Um deles, inclusive, foi colorido com estampa exclusiva. O namoro entre Melissa e Pugh começou no lançamento da coleção de verão 2006 do estilista. Na ocasião, Gareth viu uns pares da Melissa Scarfun Boots Alexandre Herchcovitch num editorial da Dazed & Confused e ficou encantado. O resultado: 12 pares estiveram no desfile de Gareth naquela mesma estação. Depois dessa estreia com o pé direito, a parceria seria inevitável, confirma a equipe de marketing da marca.
Mas a Melissa tem tradição de trazer nomes importantes do mundo fashion e deixá-los, literalmente, aos pés dos mortais cheios de glamour. O primeiro convidado internacional a criar para a marca foi Jean Paul Gaultier, ainda na década de 1980. Depois dele, ainda teve o designer egípcio Karim Rashid e a estilista inglesa Vivienne Westwood. Além deles, brasileiros badalados como Adriana Barra, Isabela Capeto e Glória Coelho que também deixaram os modelos de roupa de lado para criarem a moda que veste os pés.
Para a próxima coleção, o estilista daqui escolhido para calçar os fashionistas foi o mineiro Ronaldo Fraga. Irreverente como só ele, a sapatilha que assinou não podia ser diferente. Ele estampou um modelo básico com dedos, como se o pé estivesse de fora. ;Essa possibilidade de desenvolver outros produtos aumenta nosso espaço de manobra. Para quem cria é uma mágica;, diz Ronaldo. Sem falar que o preço cai e o estilista pode atender a um público que não poderia comprar uma peça na loja. ;Isso te dá a possibilidade de desenvolver um produto com distribuição democrática e qualidade;, afirma. Afinal, enquanto um vestido do mineiro pode custar um bocado, a Melissa que ele desenhou sai por pagáveis R$ 99.
Tá na cara
E o que Ronaldo chama de ;espaço de manobra; realmente está expandido. O estilista também desenhou, inicialmente, três modelos de óculos para a Chilli Beans, que estarão nas lojas na próxima estação. Apaixonado pelo acessório, ele próprio tem um acervo de quase 300 óculos em casa. Para ele, foi uma brincadeira compartilhar o gosto pessoal com tantas pessoas.
;A pesquisa para o desenvolvimento dos óculos veio do meu próprio acervo, pois coleciono óculos e armações de várias décadas, dos anos 1920 aos 1970;, explica o estilista. Um dos exemplares que será vendido na coleção de primavera-verão tem um poema escrito na lente. Bem a cara do criador. Claro que quem usa os óculos não verá as letras. Elas são visíveis apenas do lado de fora.
Outra convidada a criar além dos moldes das roupas e a aceitar o desafio de pensar em armações com estilo foi a estilista Isabela Capeto, conhecida pelos modelos elaborados, românticos e artesanais que coloca na passarela. Para a Chilli Beans, ela apostou em novidades como óculos de frente removível e as aplicações de rebite na armação. As peças também chega às prateleiras nos próximos meses e já são objetos de cobiça entre os fashionistas.
Para o dono da marca, Caito Maia, levar para os acessórios o DNA da moda é mais do que tornar acessível um objeto grifado. Ele diz que a escolha dos estilistas é antes de mais nada uma admiração pessoal e do trabalho dos nomes escolhidos, como é o caso de Alexandre Herchcovitch, de quem é amigo pessoal. ;Alê;, como Caito se refere ao estilista, foi o primeiro a fazer óculos para a Chilli Beans. Volta e meia tem modelo novo nas prateleiras da loja com a essência do seu criador. ;Damos total liberdade ao profissional criar o que ele quiser. Queremos que as peças tenham a cara deles;, diz o empresário. E se depender dele pode preparar a coleção fashion de lentes. Muitos nomes da moda ainda vão emprestar seu talento e criatividade para a marca.