Rafael Campos
Cada vez que Sabrina Sato é colocada em uma lista das mulheres mais bem vestidas do Brasil, o brasiliense Yan Acioli não esconde o sorrisinho de orgulho. Responsável, desde 2005, pelos looks que a bela usa, seja no Pânico na TV ou em eventos, ele hoje é um ícone entre os produtores de moda do Brasil. Por trás do sucesso, um árduo trabalho, seja para celebridades ou campanhas de grandes marcas. ;Piro quando vejo uma campanha que fiz;, afirma.
Na sua lista de clientes, estão também a musa do axé Cláudia Leitte e o craque Kaká. Para quem quer conhecer o seu trabalho e saber como é conviver com moda e celebridades, segue o papo que tivemos com ele. Um papo que vai ser prolongado na próxima edição do Bazar da Moda ; Revista do Correio. Às 15h de 17 de setembro, ele estará no Pontão do Lago Sul, na sala de workshops. Ele falará sobre as possibilidades de trabalho de um produtor de moda, sobre algumas campanhas que assina e dará algumas dicas especialíssimas. A palestra será gratuita e as inscrições serão feitas no local. Chegue cedo e garanta sua vaga.
Nem todo mundo pode ter um personal stylist. Quais as dicas que um profissional pode dar para quem tem de se virar sozinha com o guarda-roupa no dia a dia?
Acho que existem pessoas que se preocupam com moda e aquelas que não se ligam nisso. Para as duas, o mais importante é respeitar o estilo, porque ninguém veste alguma coisa sem se preocupar. Mesmo que não siga moda alguma, você quer passar alguma sensação, seja de que você está apaixonado ou enfurecido. Você se expressa por meio do seu corpo e, da mesma forma, com a sua roupa. O ponto de partida é seu estilo e, dele, o que você tem de mais bacana. Trabalho com pessoas muito bem resolvidas e adoro roupas sensuais. Mas a pessoa tem que respeitar o próprio estilo.
Como você constrói a relação com seus clientes? Eles dão total liberdade para você escolher como eles irão se vestir?
Preciso ter intimidade com o cliente, porque não posso impor um estilo e porque preciso traduzir o que eles querem. Preciso ser amigo e gostar da pessoa: se for para trabalhar com alguém que não tenho intimidade, não faço. A Cláudia Leitte, por exemplo, tem muita vontade própria. Sou responsável por 100% do figurino dela, mas como ela mora em Salvador, às vezes usa metade do que envio. Estou com eles para facilitar, não para ensinar nada. O que mais me encanta nas pessoas com quem trabalho é a personalidade forte: posso chegar com uma roupa de ouro; se eles não gostam, não usam. O equilíbrio está em interpretar o que eles querem e saber o que gostam. E mais importante: estar dentro do que eu acho que é moda.
A Sabrina Sato se tornou um ícone fashion depois de passar pelas suas mãos. Como você conseguiu conciliar o estilo mulherão ao fashionista para transformá-la no que ela é hoje?
Cheguei em São Paulo em abril de 2005 e, em maio, já comecei a trabalhar com ela. Tivemos empatia à primeira vista. A Sabrina estava querendo mudar a imagem dela, começando em um programa de TV. Tudo o que conheciam eram sua voz e o imagem do BBB. Todo o desapego que não tenho com as minhas roupas, tenho com as do cliente, de botar o guarda-roupa abaixo. Sabia que ela tinha de ser sexy, isso não foi um sacrifício porque ela naturalmente é. A preocupação era de, com os quadros do programa, ela não cair para o barraco. Então fui usando minhas referências, sabendo que ela queria conversar com outros públicos. Mas não são só as roupas. Elas são importantes, comercialmente falando, mas a Sabrina virou esse ícone porque a personalidade dela é mais forte que o que ela usa.
E no caso da Cláudia Leitte? Como funciona o processo de escolha do figurino que irá para o palco, já que ele tem de ser pensado de forma a ser belo, prático e durável para suportar os shows?
O que escolho para a Cláudia parece bem menos com roupa normal. 90% é para ser usado no palco, no carnaval. Como ela viaja muito para o exterior, é mais independente em inventar moda. Quando estou com ela, sou 100% responsável pelo que ela veste. Quando não, ela escolhe. A intenção é que ninguém fique dependente de mim. Para o palco, carnaval, tem que ser uma roupa que dure, seja confortável, porque, além das oito horas de trio elétrico, pode ser sol, pode ser chuva. Então, ela tem que ser resistente. Em cada turnê, tenho que criar algo novo, diferente do que já foi feito. Eu dou o tema e ela aprova ou não. Daí procuramos um estilista, porque eu não desenho, mas imagino tudo: cabelo, maquiagem, unha. Fazemos algumas restrições, como tomara-que-caia, apresento o tecido; o processo é finalizado e, em cada show, temos três daquela mesma roupa.
Quais as maiores diferenças entre vestir uma celebridade e vestir uma mulher anônima? Em que aspectos cada uma delas tem de ousar mais?
Para as celebridades, eu sou um facilitador de tempo, porque levo o que elas querem. Com anônima, também deixo mais fácil. Celebridades geram mais mídia, mas todos querem facilidades, sem virar dependência. É uma questão de praticidade. Hoje eu tenho mais paciência para escolher roupas para celebridades do que para mim. Repito a mesma calça toda semana. As celebridades se sobressaem à roupa, a atitude é mais.
Quanto você acha que existe do glamour do mundo da moda na sua profissão? E o quanto há de trabalho árduo, que não fica visível quando as belas aparecem nas fotos das revistas?
O glamour é grande. Não vou dizer que não tem porque eu piro quando vejo uma campanha que fiz. A Sabrina emplaca na lista das mais bem vestidas há quatro anos. O glamour, para mim, é o reconhecimento. A gente vira amigo dos principais estilistas. Mas, quando a gente trabalha com isso, vai às festas, está adorando, porém, fica preocupado se a cliente está confortável. Mas tem muito trabalho árduo, fazer barra, ajuste, se preocupar se ninguém está usando algo igual. Acho que 80% é trabalho árduo.
Você contou que sair de Brasília foi uma decisão de alguém que não sabia o que fazer da vida. Como foi esse caminho?
Eu saí porque não queria ser só publicitário. Na metade do curso já estava cansado. No último semestre, comecei a gostar de produzir comerciais, filmes, fotografia. Sempre gostei de moda, mas sempre soube que não sou estilista. Tentei aproveitar, na moda, o que eu sei de publicidade, porque minha visão é mercadológica: penso na pessoa como imagem. Se eu fosse só preocupado com o vestido, não seria feliz como sou. A preocupação é a imagem que ela vai passar. Em Brasília, não tinha para onde correr. Se fosse para alguma agência, iria trabalhar com conta do governo. Não queria ir para Nova York de cara, então fui para São Paulo. Muito disposto a trabalhar e tive sorte.
O que falta para Brasília se tornar um bom mercado de trabalho para os profissionais da moda, em especial para os que atuam na sua área?
Muito mudou em seis anos, só parar e ver as lojas. Há seis anos, se eu quisesse uma roupa importada, tinha que ir na Daslu. A melhor coisa que tinha em Brasília era a Cleuza (da Magrella). Quando eu mudei para São Paulo, vi que ela é respeitada por todo mundo. Hoje você tem Gucci, Louis Vuitton, tudo. E Brasília vai melhorar bem mais, a tendência é essa. A cidade tem uma característica muito bairrista, como São Paulo e Rio de Janeiro. São Paulo representa a moda urbana. No Rio de Janeiro, é a praia quem dita a moda. E em Brasília, a alta sociedade. Em uma festa em Brasília, as pessoas vão muito mais produzidas que em São Paulo. A cidade representa a moda do high society.
Quem é a celebridade que você mais quer vestir? Por quê?
A Beyoncé e a Jennifer Lopez, vou vestir as duas. Vai ser um divisor de águas, porque elas são referência para mim. Elas transitam muito bem com a sensualidade, são gostosas, latinas, bonitas, cantam, dançam, parecidas com o que eu entendo de moda, que é atitude. São mulheres que eu admiro.