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Entrevista//Carlinhos de Jesus

postado em 29/07/2011 16:03

Alexandre Pires, Renato Aragão, Cristiane Torloni e Elba Ramalho devem a ele alguma parte de sua desenvoltura, seja no palco, seja em cena. Ele coreografou, durante 10 anos, a comissão de frente da Estação Primeira de Mangueira, uma das escolas de samba mais tradicionais do carnaval carioca. Mantém no Rio uma das escolas de dança que leva o seu nome, e tem ainda no currículo a vice-presidência da Andanças, Associação Nacional de Dança de Salão. Atualmente, é um dos jurados do quadro de maior audiência da TV Globo, a Dança dos Famosos, no Domingão do Faustão, no qual famosos pouco íntimos da dança colocam à prova seu talento ; ou a falta dele. Impossível dissociar a evolução da dança brasileira de Carlinhos, assim como não se dissocia a dança do Brasil, segundo ele próprio. Por telefone, ele falou com a Revista.



Por muito tempo a dança de salão foi considerada ;coisa de velho;. O que é a dança hoje?
Uma atividade que existe há 200 anos nunca deixou de fazer parte do cotidiano do brasileiro. Mas é natural que ela esteja sujeita também a modismos. Então, aparece mais se um determinado ritmo vira moda na Europa ou se está em alguma novela, mas existe sempre um local onde ela é dançada. Nos salões, nos bailes de formatura. Ao longo dos anos, houve uma diluição de alguns ritmos, o surgimento de novos, mas o conteúdo geral continua evidente.

Dançar é para todo mundo ou ter ginga é fundamental?
Olha, eu te juro, mudo de nome se você não aprender a dançar forró, por exemplo. É claro que cada um tem um objetivo. Se você pretende se tornar um profissional da dança, a preparação é diferente, exige mais dedicação e até algum talento. Mas dançar por dançar, todo mundo pode aprender. O tango, por exemplo, é mais difícil, mas não é impossível para ninguém. Eu não acredito que o ser humano que se move, que anda, escova os dentes, corre, senta e levanta não consiga dançar. Dança é movimento, como qualquer uma dessas coisas. Esse papo de ;eu não tenho ritmo; não cola. Quem caminha, tem ritmo, porque você imprime uma velocidade média, certo? Se você quer correr, acelera. Se está sem pressa, vai devagar. Isso é, de alguma forma, dança.

Os ritmos de salão sofrem mudanças e influências com o tempo?
É, mas eu não aplaudo isso. Porque dança é cultura e cultura não é mutante. Você pode criar coisas novas, mas sem descaracterizar. Por exemplo, hoje, muitos passos do samba vieram do tango. Você não criou nada, isso é pura cópia. O samba não pode se descaracterizar ao ponto que daqui a pouco você só vai saber que é samba pela música. É como o cara que diz que vai fazer uma coreografia de um ritmo, mas 90% da coreografia é invenção dele e 10% são passos originais do ritmo. Se você faz um bolinho de bacalhau e coloca 90% de batata e 10% de bacalhau, não dá para dizer que isso ainda é um bolinho de bacalhau, dá? Essa mutação toda não deixa contribuição para nossa cultura, sabe? É desinteressada por parte de quem faz. Eu saio para ver um show de samba aqui no Brasil e fico desgostoso. O tango é tango na Argentina ou em qualquer lugar.

Como é julgar na Dança dos Famosos gente que está iniciando na dança?
Julgar requer critérios, e essa é a dificuldade. Como eles são iniciantes, a gente leva muito em conta a coisa da superação. Até porque você tem pessoas de 60 anos competindo com jovens de 20, o que numa situação normal não aconteceria, porque você separaria por categorias. Então, a gente concilia a criatividade e a desenvoltura da dança com a superação de cada um. Julgar é difícil porque é uma coisa abstrata. Como você vai dar um valor qualitativo à arte? É difícil mesmo.

Quais os maiores benefícios da dança de salão?
A dança de salão tem essa coisa da autoestima muito forte. Porque libera o hormônio da libido, tem a coisa da hidratação da pele, você se olha mais no espelho, começa a prestar mais atenção, usa uma roupa que lhe cai melhor, emagrece porque queima calorias, trabalha equilíbrio, respiração. Além disso aproxima corpos, tem essa coisa da sensualidade, que é muito gostosa. E é um ótimo instrumento para prevenir doenças circulatórias, respiratórias e articulares.

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