Durante três anos, a psicóloga Maria Ester Stival sofreu com crises graves de asma. Respirar era difícil, pois a falta de ar persistia por 24 horas, todos os dias, de segunda a segunda. Percorreu vários médicos, consumiu caixas e caixas de medicamentos antialérgicos e corticoides, tomou vacinas. E nada. O chiado no peito, a tosse e a falta de ar continuavam. ;Tinha medo de deitar e de comer, pois os surtos pioravam;, conta. Em novembro, ao procurar mais um alergista, o especialista apostou em outro diagnóstico e sugeriu que ela procurasse um gastroenterologista. Assim, ela o fez e descobriu a sua real doença: Maria Ester sofre de refluxo gastroesofágico.
O gastroenterologista Flávio Ejima, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endoscopia, explica que o refluxo apresenta outros sintomas, além dos clássicos azia e queimação. ;Há casos relatados de paciente que chega ao hospital como infartado, com fortes dores no peito e falta de ar. Os testes cardíacos dão normal e descobre-se que a pessoa está em uma crise aguda de refluxo;, diz o médico.
O distúrbio ocorre quando o conteúdo ácido reflui ; ou volta para o esôfago. Esse material refluído contém, normalmente, grande quantidade de ácido clorídrico, que é produzido pelo estômago. O ácido, em contato com a mucosa do esôfago, provoca a azia. Em alguns casos, a substância se espalha e sobe até a garganta e o nariz. ;Pessoas com tosse seca constante, sinusite e rinite crônicas e pneumonia, que não melhoram com a medicação tradicional, precisam de um diagnóstico diferenciado. Elas podem ter um quadro de refluxo;, aconselha Ejima, do Hospital Santa Helena. Além do histórico do paciente, o médico conta com dois exames para dar o veredicto: a endoscopia e a Phmetria, que mede o grau de acidez do ácido estomacal.
Descoberta a doença, o tratamento inclui o uso de remédios, a correção do hábito alimentar, a perda de peso e o não consumo de álcool, tabaco e drogas anti-inflamatórias rotineiramente. A terapia medicamentosa é realizada com fármacos denominados Inibidores da Bomba de Prótons. ;Porém, o tratamento é diferenciado dos casos comuns. O paciente assintomático necessita de alta dosagem de medicamentos e por uso prolongado, com controle médico periódico;, afirma o gastroenterologista Rodrigo Aires de Castro, do Hospital Anchieta.
Muito além da azia
A liberação de ácidos pelo intestino pode afetar várias órgãos e provocar os seguintes sintomas:
Pulmões ; Tosse, sibilo, falta de ar, chiado no peito.
Laringe ; Rouquidão, pigarro, alterações na voz, sensação de nó na garganta, fechamento da glote e engasgos.
Faringe/boca ; Rouquidão matinal, sede, boca amarga, boca seca, mau hálito.
Nariz ; Congestão nasal, prurido, coriza, espirros.
Seios da face ; Sinusite bacteriana, cefaleia.
Ouvido ; Dores.
Dentes ; Perda do esmalte dentário.
Coração ; Dores no peito (sensação de infarto), arritmias.
Psicológico ; Anorexia devido ao medo de engasgar com o alimento
Para aliviar os sintomas
- Evite as refeições muito abundantes, ricas em gorduras, e os alimentos ácidos (sumo de laranja, de tomate, legumes crus, bebidas gasosas, álcool, café, chá, chocolate, menta).
- Não se deite logo depois de fazer as refeições. Espere pelo menos duas horas.
- Use roupa folgada, que não aperte o abdome.
- Durma com mais travesseiros para elevar a cabeça ou levante a cabeceira da cama. Há um travesseiro especial, em forma triangular, para quem sofre do distúrbio.
- Evite os medicamentos que favorecem o refluxo (certos sedativos, antidepressivos tricíc1icos, anticolinérgicos).
- Emagreça. O excesso de peso favorece o refluxo.