Revista

Ô de casa!

Visitamos o lar de mais dois artistas de Brasília. De ascendência nordestina, Francisco Galeno e Catarina Accioly não negam as origens quando o assunto é decorar a moradia

postado em 12/08/2011 18:01

Depois de sentarmos para tomar um café e conhecer a casa do artista plástico Gougon e da cantora Fernanda Popsonic, da banda Lucy & The popsonics, outros dois artistas da cidade receberam a Revista para um dedo de prosa. Dessa vez, o sotaque dos anfitriões mistura Nordeste com Centro-Oeste. Batemos na porta do artista plástico Francisco Galeno, em Brazlândia, e da cineasta, atriz e produtora Catarina Accioly, na Asa Norte.

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A 50 quilômetros das asas do avião, Francisco Galeno desenhou uma casa. Do esboço feito pelo artista plástico e calculado por um arquiteto, surgiu o espaço onde Galeno reside e trabalha há 15 anos. Feita de madeira ; pela qual pagou com obras de arte ;, alvenaria e tijolo, a casa de dois andares e 300m; abraça a história desse piauiense que adotou Brasília em 1966. Dentro dela, pode-se sentir a aridez do cerrado e a maresia do Delta do Parnaíba (PI), onde estão as raízes do dono da casa.

Começamos pelo segundo andar: o ateliê. ;Me sinto mais em casa aqui;. Espalhadas pelo chão, mulheres de barro, quadros recentes e do começo da carreira, esculturas do mestre Quinca e do conterrâneo mestre Zezinho. As lamparinas vieram na mala da última viagem e foram bem acomodadas nas estantes e prateleiras feitas com restos do material que o primo Nonato usou na construção do segundo lar do artista. Num canto empoeirado, um aparelho de som com fita K7 parece ter engasgado o tempo. ;Nem funciona mais;Na minha rotina, hoje, basta o silêncio e as cores, que falam comigo quando trabalho.; E não é que o amplo espaço parece mesmo conversar com o artista? Ora quer colheres de pau, carrancas e carreteis como suporte para esculturas, ora pede por asas de anjo em madeira, saveiros e bilros de fazer renda. ;Aqui, tudo se transforma;, revela, como um mágico.
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O artista não parece fazer questão de colocar cada coisa em um devido lugar. Durante a semana, a cadeira de rabo de macaco (xodó de Galeno) passeia pelos quatro cantos do ateliê. Adquirida numa loja de antiguidades, repassada numa separação de bens e novamente conquistada por tamanho apreço de Galeno pelo móvel, hoje ela toma sol perto da janela. No mesmo local, o artista ainda pinta com cavalete. ;Me considero um romântico.;

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No térreo, quartos, cozinha, sala. É lá que ele recebe amigos e descansa. Na sala de estar, um aparador de madeira abriga um bar colorido por garrafas de vidro, em harmonia com as esculturas de Quinca que até parecem anfitriões a servir um aperitivo. Outro espaço que chama a atenção parece rir das camisas no varal. São pregadores de roupa multicores presos em fios paralelos numa peça de madeira: obra do artista. Chapéu para a brincadeira do boi, tela de jogo de futebol de dedo pendurado como quadro;O artista deve mesmo brincar de fazer arte. Ao fim da visita, no terraço da casa, pés de buriti e de outros frutos do cerrado acenam.


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Na entrada do apartamento de Catarina Accioly pedimos a bênção. São santos, orixás, bonecas africanas, espelhos e outras peças que protegem o lar onde a atriz mora há três anos. Enquanto ela acende velas para receber visitas, referências de diversas culturas e crenças parecem nos saudar. Ao fundo da sala, cactus e outras plantas, que faz questão de cuidar, conversam com a atriz. ;Minha onda é cuidar de planta. Tanto que, quando viajo, me preocupo com quem vai aguá-las.; Os amigos têm a chave do apartamento. São eles que zelam pelas plantas até Catarina voltar. Aliás, os amigos já fazem parte da casa. ;Até porque minha casa é o local onde nos encontramos para bater um papo, tomar um vinho...; Também é em casa que a atriz trabalha, cria e escuta antigos discos infantis na vitrola. ;Tudo serve como inspiração.;

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Da origem pernambucana, ela coleciona lembranças por toda parte. Homem da meia-noite, carrancas, peças de Francisco Brennand, xilogravuras de J. Borges (todas com dedicatória do artista), caboclo de lança e móveis que herdou dos avós. Peças que faz questão de apontar com orgulho. ;Não havia como não gostar dessa coisa de casa: minha mãe adora decoração! Meu avô construiu o primeiro prédio com elevador em Boa Viagem, no Recife;, diz, a neta coruja. É do avô o tabuleiro de xadrez que repousa na mesa de centro. Volta e meia, ele é visitado por formigas gigantes compradas em Belo Horizonte. Também obra do avô, o sofá no quarto de visitas convida os amigos para se espreguiçar. No mesmo quarto, uma rede, ;que todo bom pernambucano faz questão de manter em casa;.

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Tapete da Colômbia, mantas do Peru, espelho do México;Como um garimpeiro, a atriz vai atrás de itens decorativos que a encantam, pelo mundo e pelo Brasil, onde já atravessou do Oiapoque ao Chuí. ;Dizem que minha casa é cheia de ;coisinhas;... Mas é difícil não trazer lembranças das pessoas e dos locais por onde viajei.; A atriz também reaproveita peças que compõem a história da família. Como a mesa de uma máquina de costura Singer que usa como aparador. Ao lado, também na sala de estar, uma parede verde salta aos olhos. Como um cenário multicor, a casa de Catarina faz o contraponto entre o vintage e o contemporâneo. Entre o que foi e o que virá;da próxima viagem.

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