postado em 19/08/2011 19:58
Zuleika de Souza (texto e fotos)Deitado em um colchão inflável, em sua casa improvisada, a bordo de um navio ancorado na frente da destruída Dili, capital do Timor Leste, Francisco Osler idealizava a casa que queria construir no terreno recém-comprado no Lago Norte. Ele sonhava com uma casa contemporânea, que dialogasse com sua cidade modernista, Brasília.
Tico, como é conhecido pelos amigos brasilienses, é oficial de assuntos civis da ONU e especializado em missões de Paz. Uma paz que faz parte de sua personalidade e que ele aprendeu a exercitar em anos de trabalho em países arrasados por guerras. Dormir em locais inimagináveis por vários meses faz parte do seu cotidiano. Em Moçambique, dormia em palhoças; em Angola, morou em um prédio todo metralhado, sem portas nem janelas. No Sudão, viveu em um contêiner e muitas vezes recebia a vista das temidas mambas negras (serpentes). Hoje, Francisco mora pela terceira vez em Porto Príncipe, no Haiti. Lá, a casa é boa e confortável, mas, depois do terremoto que arruinou a cidade, precisou dormir durante vários dias na varanda, enquanto a terra insistia em tremer.
Enquanto trabalhou no Timor Leste, nos raros momentos em que conseguia navegar na internet, se encantou pelas formas retas e limpas dos projetos do consagrado arquiteto paulista Márcio Kogan. Quando veio ao Brasil de férias, conseguiu contratá-lo e, aos poucos, foi construindo sua casa dos sonhos, enquanto tentava implementar a paz nos países por onde passou. Depois de 10 anos, a casa está pronta e ficou maravilhosa! E ela chama muita atenção. A caixa de vidro e seu dono já viraram até matéria no jornal americano The New York Times e em vários blogs e sites de decoração pelo planeta. Tico continua navegando pela rede atrás de objetos de designers, que ele expõe lado a lado a peças de artesanato e móveis comprados nos países onde viveu e trabalhou.
As lembranças das missões estão em cada objeto. E ele tem muito do que lembrar! Quando serviu na cidade Pemba, em Moçambique recebeu um pedido nada pacificador: matar um leão (literalmente)! A tribo que ali vive tem o felino como um animal sagrado. Acreditam que, depois da morte, a alma do homem reencarna no corpo de leões. O predador em questão estava comendo os animais de criação e os aldeões não podiam matar um leão que poderia muito bem ser um dos seus antepassados. Acharam, então, que não seria um crime se um oficial da ONU matasse o leão. A esse pedido Francisco não pôde atender!
Quando vem ao Brasil, Tico adora receber amigos para almoços e jantares em sua casa no Lago Norte. Livre dos leões e das mambas negras, dorme em paz numa cama confortável com vista para o seu lindo jardim habitado por inofensivos calangos!