Dizem que o animal é o espelho do dono. Mulheres normalmente adotam gatos ou cachorros pequenos e delicados ; a quantidade de moças passeando com poodles ou carregando yorkshires é infinitamente maior do que homens levando seus pinchers ou gatos para passear, por exemplo. O senso comum é que o pet deve se encaixar no estilo de vida do dono. Por isso, são parecidos ; alguns até fisicamente.
Mas segundo o veterinário Marcos Silva, esse estereótipo vem caindo por terra. ;Talvez pelo fato de que as pessoas agora pesquisam sobre as raças, pode ser que a sociedade esteja aceitando melhor as diferenças. Mas o que vejo é que vem diminuindo muito essa ideia de que o animal deve parecer com o dono;, afirma. A veterinária Juliana Marra concorda que os animais estão cada vez mais diferentes fisicamente dos donos, mas, acredita, por uma razão diferente. ;Acho que as pessoas vêm escolhendo seus animais pela moda. Algumas raças são mais conhecidas ou populares, e o dono param de prestar atenção se o animal se parece com ele para adotar um pet que seja conhecido.; Uma coisa é certa, mesmo sendo aparentemente incompatíveis, a personalidade do dono influencia, e muito, o desenvolvimento do animal. Aquele que geralmente é agitado, se for criado com uma pessoa tranquila, tende a se acalmar e vice-versa.
Ana Luiza Noronha, 18 anos, é um exemplo desse novo perfil. Quando se pensa em cães grandes, a imagem que vem à cabeça é de um dono forte para lidar com o tamanho e a força do animal. Mas a estudante mede apenas 1,55m e adotou uma cadela da raça labrador, conhecida por ser de grande porte. Hanna tem apenas seis meses, mas, quando fica em pé, já quase atinge os ombros da dona e, em breve, crescerá mais ; a média de peso da raça é de 25 kg.
A estudante conta que sempre gostou de cachorros grandes e, apesar de morar em um apartamento, resolveu adotar um labrador consciente do tamanho que o cão pode chegar. ;Hanna é novinha, mas é mais forte que eu. Como ela tem muita energia, tenho que levá-la para passear com frequência;, conta Ana Luiza. E são nesses passeios que a cena mais engraçada ocorre: a cadela quer correr e sai puxando Ana Luiza por aí. ;Eu não consigo carregá-la no colo, então tenho que criar força para discipliná-la, com a esperança de que ela aprenda que não pode me arrastar.;
O caso de Lut Cerqueira, 43 anos, é exatamente o contrário. O arquiteto mede 1,78m, tem a cabeça raspada e o corpo cheio de tatuagens e piercings. Logo se imagina que o seu animal de estimação seja um réptil ou um cão grande. Mas Godofredo, 3 anos, é um pug de 40cm. ;É bem estranho, é um cachorro de patricinha. No estilo, somos totalmente diferentes;, diverte-se. Apesar de serem fisicamente opostos, Lut conta que o cão e ele são muito parecidos. ;Chega a ser bizarro.; Os dois dormem bastante, têm uma rotina rigorosa de horários, são tranquilos, adoram televisão, são possessivos com suas coisas e extremamente autossuficientes.
;Quando resolvi adotar um cãozinho, pesquisei bastante uma raça que se adaptasse à vida em apartamento. Já tive um dálmata e garanto que não funciona. O pug é um dos mais indicados por ter sua própria rotina e ser disciplinado. Acertei na escolha;, explica. O arquiteto nunca ouviu piadinhas na rua e conta que todas as aproximações até hoje foram positivas. ;As pessoas gostam muito da raça e querem saber mais sobre ela. Mas sei que é diferente, eu mesmo me sinto estranho passeando na rua com um cãozinho de madame.;
Agradecimentos: Clínica Veterinária Dogs, Pet Shop Cachorrão, Lex Pet House e Happy Dog Pet Shop e Clínica Veterinária