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Respire aliviado!

Tosses diárias e dificuldade para respirar podem ser sinais de um mal grave. A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é a quinta causadora de mortes no Brasil, mas, quando diagnosticada precocemente, pode ser tratada

postado em 07/10/2011 16:24

Tosses diárias e dificuldade para respirar podem ser sinais de um mal grave. A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é a quinta causadora de mortes no Brasil, mas, quando diagnosticada precocemente, pode ser tratadaAmsterdã ; A população mundial vive melhor. E envelhece. Com esse passar dos anos, adquire um distúrbio bem barulhento, cujo principal sintoma é a tosse. A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é, atualmente, considerada a sexta causa de mortalidade no mundo e a quinta no país. Por enquanto. Daqui a oito anos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), deverá subir para a terceira causa de óbitos no planeta: só perderá para o câncer e para os problemas cardíacos.

Esse mal de nome extenso e complicado afeta 4% da população brasileira, portadoras de moléstias como enfisema, bronquite e asma, entre outros distúrbios respiratórios. Em 90% dos casos, são fumantes ou ex-fumantes. A exposição constante às substâncias nocivas encontradas na fumaça do cigarro provoca a inflamação crônica nas vias respiratórias e nos pulmões. Em consequência, há o aumento na produção de secreção, o catarro fica mais espesso e pegajoso. O paciente sente dificuldades para respirar, se cansa ao fazer qualquer esforço e tosse bastante.

;Por isso, é chamada de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, pois há uma obstrução das vias aéreas. Geralmente, é chamada de enfisema, mas essa é uma das enfermidades classificada como DPOC;, explica o pneumologista Roberto Stirbulov, presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). Segundo ele, a doença pode ter outras complicações: fibrose, perda de elasticidade pulmonar e danos nos alvéolos. ;A DPOC não leva ao câncer. Porém, nos casos mais graves, deixa a pessoa sem condições de respirar, tornando-a dependente de um aparelho respirador;, afirma o médico, residente em São Paulo e que fez o curso na Universidade de Brasília.

O aposentado José de Oliveira, 68 anos, ainda não chegou a esse estágio. Procurou ajuda antes. No ano passado, ele não conseguia caminhar pelas ruas do P Norte, onde mora. ;A dificuldade para respirar é antiga. Sempre tratei como asma;, conta Oliveira, que trabalhava com lanternagem de automóveis. As crises de falta de ar ficaram cada vez mais fortes e constante e ele recebeu o diagnóstico de enfisema pulmonar. ;O forte cheiro da tinta afetou os meus pulmões. Fumei, mas parei há quase 40 anos.;

Segundo Stirbulov, José representa muito bem o quadro da doença no país. Uma pesquisa realizada pelo SBPT revelou que mais da metade dos pacientes desconhecem seus sintomas da DPOC. Eles sentem, geralmente, falta de ar e tossem todos os dias. Só que muitos relacionam a tosse com o fumo e não procuram ajuda médica, quando já podem estar com o distúrbio. ;A pessoa percebe que atividades como subir uma escada ou realizar trabalhos domésticos ficam cada vez mais difíceis;, exemplifica Stirbulov.

Segundo o médico, parar de fumar é a primeiro passo para reduzir os danos. ;O processo inflamatório da DPOC corre solto, como se fosse um carro a 100km/h. Se o paciente para de fumar, a doença continua avançando, porém sua velocidade passa a 30km/h. Com o tratamento adequado, desacelera ainda mais;, compara. Segundo Stirbulov, a principal preocupação dos pneumologista no momento é com o envelhecimento dos cinquentões, pessoas que fumaram excessivamente nas décadas de 1980 e 1990, quando não existiam campanhas de combate ao tabaco. ;Parte dessas pessoas não fumam mais, mas os danos na capacidade respiratória ficaram registrados. Com o envelhecimento, eles surgirão.;, garante o presidente da SBPT.

Os tratamentos disponíveis hoje passam por cessação do tabagismo, reabilitação pulmonar, medicamentos e, quando indicados, oxigenoterapia e cirurgia. ;Entre os medicamentos, estão os broncodilatadores (que tratam os sintomas, como a falta de ar) e os corticoides inalatórios;, explica o pneumologista Cezar Fritscher, professor da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

Porém, as exacerbações ; ou crises ; são o principal temor dos pacientes com DPOC, uma vez que levam a maior frequência de internações, progressão acelerada da doença e aumento do risco de morte. ;Elas são caracterizadas por períodos de piora dos sintomas, como tosse, falta de ar e alterações no catarro. Evitar as exacerbações é o ponto chave no tratamento da DPOC;, afirma o pneumologista Fernando Martinez, professor de medicina interna na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. ;A substância roflumilaste diminui essas crises e garante melhor qualidade de vida aos portadores da doença;, afirma o médico norte-americano, ao apresentar um painel sobre o tema no Congresso da Sociedade Europeia de Doenças Respiratórias, realizado em Amsterdã, na Holanda, no fim do mês passado.

O distúrbio de José de Oliveira não atingiu estágio tão avançado e, por enquanto, ele usa apenas medicamentos broncodilatores em inalações diárias para evitar crises da doença. E ,três vezes por semana, comparece ao Ambulatório de Fisioterapia Respiratória do Hospital Universitário de Brasília, o único em uma instituição pública existente no Distrito Federal. Ele faz exercícios aeróbios e de musculação para melhorar o trabalho dos pulmões. ;Hoje, respiro bem melhor. Pena que não posso trabalhar, pois o cheiro da tinta me faz mal;, diz o aposentado.

DIAGNÓSTICO PRECISO
O médico realiza um exame simples, chamado espirometria ou teste do sopro, para avaliar as condições de funcionamento dos pulmões. Para fechar o diagnóstico da doença, a pessoa precisa apresentar pelo menos três dos cincos sintomas abaixo:
- Ter mais de 40 anos
- Ser fumante ou ex-fumante
- Tossir diariamente
- Apresentar secreção pulmonar (escarro) todos os dias
- Cansar normalmente quando anda ou sobe escadas

* A repórter viajou a convite do laboratório Nycomed

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