A dor nas costas é a doença crônica mais comum entre os brasileiros. E também a menos tratada, apesar de ser percebida precocemente. O problema afeta 36% da população, e apenas 68% dos atingidos buscam tratamento. A conclusão é de uma pesquisa da Fundação Nacional Oswaldo Cruz (Fiocruz), depois de ouvir 12.423 pessoas residentes em todas as regiões brasileiras. O problema também está presente nas estatísticas da Organização Mundial da Saúde (OMS), que estima que 80% da população mundial sofrerá ao menos um episódio de dor nas costas na vida. As causas dessas dores são várias e incluem tumores, cistos, lesões nos nervos, nas vértebras, nos discos, má postura e fraqueza dos músculos da região.
Dois especialistas do Distrito Federal trazem boas notícias para uma parcela das pessoas que reclamam de dores na coluna. O neurocirurgião Marcos Masini desenvolveu e já aplicou em 70 pessoas uma técnica denominada epiduroscopia, um método endoscópio, percutâneo, minimamente invasivo, que permite ao médico, em um único procedimento, investigar, diagnosticar e tratar as causas da dor lombar crônica. ;É uma alternativa à cirurgia nos casos de inflamações e compressões nos nervos da coluna.;
Marcos Masini explica que a epiduroscopia é feita com anestesia local e leve sedação, permitindo um rápido retorno do paciente a suas atividades profissionais. O procedimento usa uma fibra ótica flexível, de 0,9mm, associada a um cateter ; que serve de guia. A microcâmera permite a visualização, a cores e em tempo real, podendo ser gravada para comparação O cateter é introduzido na região sacral, na altura da cintura, por onde são ministrados medicamentos, em baixa dosagem, aplicados diretamente no foco da dor. ;Com esse método, é possível tratar os problemas mais frequentes, como a dor associada a pequenas hérnias de disco, sem expor o paciente aos riscos de uma cirurgia de grande porte e sem danificar a estrutura vertebral;, diz Masini. Ele garante que a intervenção traz alívio imediato ao paciente.
Já o osteopata Edmilson Farias Rocha, também acostumado a lidar com as dores de coluna, criou uma cama de alongamento mecânico. ;É indicada apenas para quem precisa aumentar o espaço entre os discos da coluna vertebral. Esse encurtamento causa a perda da força nas pernas, no caso da lombar, e nas pernas e nas mãos se for na região cervical;, explica Rocha. Ele argumenta ainda que a técnica não serve para tratar todo e qualquer incômodo de coluna. ;Criei o método há um ano e até agora só o apliquei em quatro pacientes. Ele é muito específico;, alerta.
O médico cita como exemplo o caso da aposentada Dálvia Gaieski Greve, 58 anos, sua paciente há três meses. Ela chegou à clínica dele reclamando de dores na região lombar e os exames comprovaram degeneração na área da 5; a da 7; vértebras. ;Eu mal conseguia ficar sentada. Dirigir era um tormento. Os pés ficavam dormentes;, conta a ex-funcionária da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). Para aliviar as dores dela, Rocha aplica movimento da osteopatia, uma técnica para recuperação de músculos, tendões, ossos e articulações. ;Retornei de uma viagem à Alemanha. Fiquei 12 horas dentro de um avião, sentada na classe econômica, na ida e na volta, e não senti nenhum incômodo;, diz Dálvia.
Exercitar-se é preciso
Se as técnicas desenvolvidas pelos médico Edmilson Farias Rocha e Marcos Masini afastam a pessoa de uma cirurgia, quem realmente necessita de uma operação na coluna? ;Somente 5% das pessoas com distúrbios na coluna vertebral precisam se submeter a um tratamento cirúrgico;, garante o neurocirurgião Márcio Vinhal de Carvalho, da Sociedade Brasileira de Coluna. Segundo ele, geralmente são pessoas que tiveram um ou mais discos desgastados por uma hérnia e necessitam de reconstrução. E nada de parafusos. Isso é coisa do passado. Hoje, os médicos usam um espaçador de material reabsorvível pelo organismo, possibilitando a fusão biológica entre os ossos.
E o que deve fazer uma pessoa que sente dores nas costas e não se enquadra no grupo que necessita de cirurgia e terapias como a epiduroscopia? A fisioterapeuta Nara Beatriz Matos diz que o primeiro passo é cuidar da postura. ;Quem sofre de dor nas costas não se senta nem se levanta corretamente, não dorme em colchão adequado ao seu peso, levanta objetos do chão dobrando a coluna e não os joelhos, estica-se todo para colocar os objetos em prateleiras ou em armários e executa tarefas diárias em má posição;, afirma Nara. Para evitar e aliviar as dores, um conselho fundamental: atividade física e movimentação. Nas crises, o recomendável são sessões de fisioterapia. Para combatê-las, há várias opções, desde RPG até osteopastia, quiropraxia e acupuntura.
O oficial de justiça Júlio César Fontela Queiroz, 46 anos, tentou todas, mas só conseguiu eliminar o incômodo provocado por uma hérnia de disco na coluna lombar com a técnica deep running. ;O primeiro surto surgiu em 2000 e eu sentia muita dor. De tanto me queixar, amigos me aconselharam a fazer esse tipo de atividade;, conta. Júlio César começou a prática em 2008 e hoje joga futebol pelo menos duas vezes por semana. ;Antes, não conseguia fazer nenhum tipo de exercício;, diz.
Deep running é um programa de exercícios praticados em piscinas, preferencialmente profundas, na qual o colete sustenta o usuário, de forma que ele flutue, mesmo estando em repouso. ;É uma prática essencialmente de condicionamento físico, por exigir intenso trabalho cardiorrespiratório. Não é nada semelhante à hidroterapia, que é um exercício de reabilitação;, esclarece Marco Antônio Mota, profissional de educação física especializada na técnica. O aluno não pisa no fundo da piscina: ele é sustentado pelo colete. Por isso, os movimentos são de baixo impacto, não comprometendo as articulações, como as vértebras da coluna. ;Os médicos descobriram os benefícios da prática e encaminham os pacientes. Como eles necessitam de atividades físicas para fortalecimento muscular e perda de peso, a técnica se tornou uma das alternativas para evitar as crises de dores nas costas;, afirma Mota.
FAÇA A COISA CERTA
Pequenas atitudes no rotina diária podem contribuir para prevenir o surgimento de dores e distúrbios na coluna vertebral e até aliviar os já instalados.
Ao se abaixar
Normalmente, as pessoas se curvam para abaixar. Porém, ao realizar esse movimento, as costas podem sofrer uma lesão. A melhor posição para se abaixar com maior conforto é aquela em que se flexionam ou se apoiam os joelhos no chão.
Ao pegar peso no chão
Ao abaixar para pegar peso, nunca sobrecarregue as costas curvando-a, pois o risco de lesionar a coluna é maior. Por isso, é preciso flexionar os joelhos para dividir com as pernas o peso do corpo e da carga.
Ao usar o computador
Mantenha a cadeira próxima à mesa para que as costas fiquem retas e totalmente apoiadas no encosto. Preste atenção à altura da cadeira para que a mesa fique a uma altura em que o cotovelo forme um ângulo próximo a 90; e os ombros fiquem relaxados. Os pés devem estar apoiados no chão ou em um apoio apropriado, para que a perna forme um ângulo também próximo a 90;.
Postura no trabalho
- Evite girar ou inclinar o tronco ou o pescoço ao trabalhar. Itens de uso frequente devem ser posicionados diretamente à sua frente em um anteparo para cópias.
- Os pulsos devem ficar em posição neutra ou reta ao digitar ou ao usar algum dispositivo de apontamento ou calculadora. Movimente seus braços sobre o teclado e os apoios para os pulsos enquanto digita. Evite permanecer com os cotovelos sobre a mesa ou os apoios. Isso evita que os pulsos sejam forçados a assumir posições para cima, para baixo e para os lados.
- Faça pausas frequentes durante o dia. Elas podem ser breves e incluir alongamento para melhorar os resultados. Se possível, dê um ou dois minutos de pausa a cada 15 ou 20 minutos, e cinco minutos a cada hora. A cada duas ou três horas, levante-se, dê uma volta e faça uma atividade alternativa.
- Exercícios aeróbicos ajudam a manter a forma física, aumentar a resistência cardiovascular e diminuir a tensão dos usuários de computadores.
Ao subir escadas
Mantenha-se ereto e coloque o peso do corpo na perna de trás, evitando curvar muito as costas. Sempre que possível, use o corrimão.
Ao dormir
- Prefira sempre colchão firme e, de preferência, confortável.
- É importante escolher um travesseiro adequado à altura do seu pescoço, que nem fique muito alto ou muito baixo. Isso é essencial para a saúde da sua coluna.
De lado: nessa posição, o travesseiro deve ser mais alto e acompanhar o contorno dos ombros. Coloque um travesseiro entre as pernas, evitando que o joelho da perna de cima acabe indo parar no colchão, desalinhando a bacia.
De barriga para cima: nessa posição, escolha um travesseiro baixo. Quem dorme com o abdome para cima deve apoiar os joelhos sobre uma almofada para não forçar a lombar.
De barriga para baixo: Evite essa posição para não forçar a curvatura lombar, mas, caso essa seja a posição que você dorme, coloque um apoio sob o abdome para proteger a coluna lombar.
Ao usar a pia ou passar a roupa
As duas atividade exigem que o corpo fique ereto, mas não rígido. Posicione um dos pés um pouco à frente do outro e flexione levemente a outra perna para garantir um descanso para as costas. A altura da pia ou da mesa de passar deve ser suficiente para o corpo não ficar curvado ou com os braços muito levantados.
Ao varrer a casa
Não curve as costas, se mantenha ereto e, sempre que necessário, flexione levemente os joelhos. Uma mão sempre deve estar segurando a extremidade do cabo e a outra vai à altura um pouco acima da cintura. Invista em uma vassoura com um cabo que tenha altura acima do seu ombro.
Ao carregar sacolas
Para carregar pesos em volumes diferentes, divida-os em duas partes, carregando um em cada mão. Dessa forma, você manterá sua coluna balanceada.
Fonte: fisioterapeuta Nara Beatriz Matos
Sem comprometer a vaidade
A popular corcunda, ou escoliose, afeta cerca de 300 milhões de pessoas em todo o mundo. Ela é descrita pelos especialistas como um desvio da coluna vertebral, para a esquerda ou para a direita, resultando em um formato em ;S; ou em ;C;, sem condições de ser camuflado por roupas. Para pôr a coluna no local, a alternativa é o uso de coletes ortopédicos. Um item nada fashion no guarda-roupa de qualquer pessoa.
A carioca Júlia Barroso, 30 anos, é uma portadora desse tipo de deformidade. Na quinta-feira, ela lança o livro A menina da coluna torta, narrando a vida de uma adolescente que tem a doença. O livro traz uma série de depoimentos de adolescentes que sofrem com o distúrbio, depoimentos de médicos especialistas, fisioterapeutas que lidam com pacientes com escoliose e traz até dicas de moda para as meninas que precisam usar o colete de Milwaukee. ;A escoliose é um tema tabu, complicado, mexe com a autoestima. Com tratamento, é possível viver bem e corrigir parcialmente o desvio;, conta Júlia, que fez uma cirurgia corretiva aos 19 anos. ;O tratamento é só uma fase e, felizmente, passa rápido. Um problema de coluna é algo complicado, sim. Não só mexe com a estrutura física como com a vaidade também. Mas não é o fim do mundo. Eu sempre dou o meu exemplo e mostro a esses adolescentes que no fim tudo acaba bem;, garante a escritora.