Carolina Samorano / Especial para o Correio
Pintar-se em frente a um espelho não é um privilégio da nossa geração. Os primeiros indícios do uso da maquiagem datam do Egito Antigo, 3 mil anos antes de Cristo, com o uso do kohl, pigmento preto usado para contornar os olhos e escurecer os cílios, mais ou menos um antepassado de nossas sombras, lápis, delineadores e máscaras para cílios. Além disso, a essa altura, ainda não era um item exclusivo das egípcias: homens e mulheres partilhavam a mesma mania. Cinco mil anos passados, ampliamos a cartela de cores dos delineadores ; o suficiente para que nossa coleção nunca esteja completa ;, criamos disfarces para imperfeições da pele, tinturas para os lábios, saúde artificial para as bochechas, truques de luz e sombra capazes de apagar marcas do tempo. E, principalmente, tornamos a maquiagem um bom negócio.
Pelo menos aqui no Brasil, o período é de bonança. Segundo números da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), o mercado de maquiagem no Brasil movimentou em 2009 US$ 2,17 bilhões, um crescimento de 9,7% em relação ao ano anterior e um total de 5,1% de participação no mercado mundial, atrás apenas dos Estados Unidos e do Japão. Só a Contém 1g viu os negócios saltarem 300% em três anos, entre 2006 a 2009. Natura, O Boticário, Hypermarcas (fabricante dos esmaltes Risqué, líder no setor, Monange, Biocolor, Bozzano, Cenoura & Bronze e Lucretin) e Niely apareceram recentemente no ranking das 100 maiores empresas de cosméticos do mundo divulgado pelo portal de tendências WWD.
"O que tem acontecido no mercado de maquiagem não deixa de ser fruto do que vem acontecendo na economia brasileira", observa Luís Bueno, diretor regional na Natura, 14; posição no ranking. "Quem antes consumia, em maquiagem, apenas os itens básicos, como um batom, passa também a consumir produtos mais sofisticados para os olhos e para o rosto", continua. Como reflexo, as marcas passaram a rebuscar seus lançamentos, divididos em duas coleções anuais, verão e inverno. No mesmo contexto, marcas internacionais começaram a pipocar na rede, em blogs especializados, e logo cresceram os olhos para o mercado tupiniquim ; no último ano várias marcas fizeram seus lançamentos por aqui. E mais está por vir.
Chegou chegando 
Quando, em julho do ano passado, a Sephora ;gigante de cosméticos francesa e praticamente ponto turístico de makemaníacas em cada cidade em que se aviste suas paredes listradas ; anunciou a compra da brasileira Sacks, uma nova era no mercado de maquiagem brasileira foi iniciada. Blogueiras comemoravam em posts exaltados a cada novidade e, quando o selo da marca se uniu ao da brasileira no site e a especulação se fez oficial, uma barreira foi derrubada: a das encomendas a conhecidos com viagem marcada para algum dos 13 países em que a loja está presente ; só nos Estados Unidos são 275 unidades, com mais de 20 marcas nas prateleiras.
No Brasil, por enquanto, as novidades dos dois selos que já chegaram por aqui ; a marca própria da loja, Sephora Collection, e a Benefit ;são vendidos somente online, mas a primeira loja física deve abrir as portas ainda no primeiro semestre de 2012, no JK Mall, em São Paulo. Nos dois anos seguintes, os planos são de inaugurar outras 15 lojas no eixo Rio-São Paulo e, até 2020, serão 50 lojas espalhadas pelo país abastecendo nécessaires.
A Benefit é queridinha de conhecedoras de maquiagem há bastante tempo. De nomes engraçadinhos e embalagens com charme vintage, a grande sacada da empresa é o que eles chamam de "soluções imediatas", produtos que disfarçam imperfeições e conferem um up no visual de maneira rápida e nada óbvia a olho nu. "Tudo o que desenvolvemos é para mulheres práticas, que querem estar bonitas rapidamente de maneira divertida", resume Chloé Renard, diretora da marca no Brasil. "Queremos que as mulheres se divirtam fazendo sua maquiagem", continua. A marca também deve inaugurar boutiques próprias em breve.
Já a Sephora Collection preza pela variedade de acabamentos e cores a preços mais competitivos ; vão de R$ 19 a R$ 109. Por enquanto, 250 produtos estão à venda, mas a expectativa é que no ano que vem a linha completa esteja disponível, incluindo acessórios (pincéis, pinças e curvadores) e produtos de cuidado com a pele. Até a inauguração da loja física, devem se juntar à Sephora Collection e Benefit outras marcas de sucesso lá fora, como NARS, Make Up Forever e Bare Minerals.
Em junho, a grega Korres também chegou para se juntar às novidade gringas em terras brasileiras por meio de uma parceria com a Johnson & Johnson. Junto à linha tradicional de tratamento à base de ingredientes naturais para cabelos, corpo e rosto, a marca trouxe, em outubro, a linha de maquiagem inspirada na natureza. Os produtos são desenvolvidos com emulsões naturais, óleos vegetais, ceras, extratos de ervas e vitaminas. O batom de longa duração da marca, por exemplo, leva extrato de goiaba, que é rico em vitamina C e tem ação antioxidante.
(Colaborou Olívia Meireles)
Para provar
BENEFIT
1. Porefessional: Primer que minimiza a aparência de poros. É o best-seller da marca (R$ 117).
2. Benetint: Tinta líquida para ser usada como blush ou para escurecer lábios (R$ 128).
3. They;re Real: Máscara lançamento que alonga e dá volume aos cílios (R$ 78).
SEPHORA COLLECTION
1. Perfecting Cover Foundation: Base líquida de alta cobertura (R$ 92).
2. Batom Lip Attitude Glamour: Batom hidratante com cobertura transparente (R$ 53).
3. Colorful Palette: Paleta com cinco cores de sombra pensadas para dois tipos de look ; natural ou marcante. A colorida, Miami Vibes, tem tudo a ver com o verão (R$ 92).
KORRES
1. Gloss Labial Cereja: Brilho intenso e alta cobertura de cor (R$ 28).
2. Batom Longa Duração Goiaba Nude Mel: A combinação de emolientes forma uma película protetora que potencializa a aderência da cor nos lábios e a cor nude é coringa (R$ 30).
3. Blush Amido de Milho Pêssego: O tom combina com todas as peles e as partículas de amido de milho conferem textura macia e aplicação uniforme para a carinha de saúde perfeita (R$ 60).
Novidade oriental a caminho
Se já bate uma preguiça de lavar o rosto e passar o protetor solar pela manhã, imagine perder uns bons 30 minutos de sono para dedicar-se a uma rotina de beauté matinal de 11 produtos, sem contar com a maquiagem. Essa é a média de itens para o rosto que consta na lista das mulheres asiáticas, segundo um levantamento da norte-americana de cosméticos Neutrogena. A maioria inclui sabonete, hidratante, tratamento antiidade, para a área dos olhos, clareadores, filtros solares. No Brasil, a média fica em dois. Isto posto, não é de se espantar que uma novidade que tem sido figura fácil em blogs e entre gurus de beleza do YouTube venha justamente das bandas de lá.
O BB Cream (Blemish Balm Cream, ou algo como "bálsamo para imperfeições") foi originalmente desenvolvido como um tratamento pós-peeling com fatores altos de proteção solar, hidratante, anti-idade, dessensibilizantes, vitaminas e aminoácidos e uma série de outros agentes que, descobriu-se, podem ser úteis mesmo para peles que não passaram pelo procedimento dermatológico. "Dá para sentir a diferença na textura da pele logo de cara", conta a blogueira Cláudia Mello, do Dazzleblog, dona de um pequeno acervo de BB Creams das mais variadas marcas.
Ele é usado geralmente antes da base, como uma espécie de primer, ou sozinho, para uma cobertura leve. "O único problema é que, como ele é feito para a pele oriental, é muito difícil achar um tom que combine exatamente com o da nossa pele", observa a expert na novidade.
As marcas mais conhecidas do produto são Hanskin, Skin79 e Missha, todas encontradas apenas na internet. Mas, de olho no sucesso da invenção coreana, algumas marcas ocidentais tem tratado de recuperar o tempo perdido. A M.A.C. lançou uma versão do produto na Ásia e nos Estados Unidos recentemente e promete desembarcar a novidade por aqui em janeiro. Ainda assim, o Beauty Balm da marca, como eles chamaram o lançamento, não tem a extensa lista de tratamentos dos originais asiáticos. É uma espécie de primer com cor e proteção solar. Clinique, Lancôme e Dior também distribuíram suas versões, ainda não disponíveis no Brasil.
Com a palavra as blogueiras
Tão logo descobriu-se que, de posse de um cartão de crédito internacional, ninguém precisava passar por um duty free para rechear a nécessaire com as novidades de make das marcas internacionais mais queridinhas, pipocaram na rede blogs de beleza dando seus vereditos sobre toda sorte de produtos. Alguns chegam a alcançar números no contador de visitas suficientes para que, a qualquer avaliação positiva sobre um lançamento, ele desapareça das lojas.
Parte importante do sucesso dessas meninas que vivem de testar novidades e ensinar combinações de cores nas maquiagem é justamente porque, ali as opiniões são sinceras, em teses, e as fotos mais reais. Pelo menos foi assim que os acessos de Jessica Bueno, 24 anos, começaram a subir. "Eu tinha mania de tirar foto de tudo o que comprava e postar em um fórum de discussões. Aí as meninas começaram a cobrar e pedir mais", conta. "Mas o legal de blog é isso. As fotos de divulgação das marcas não mostram a cor real do produto, nem como ele fica na pele de verdade", completa.
Quatro anos depois do primeiro post e incontáveis gavetas de maquiagem em um quarto próprio no apartamento, Jessica já faz parte da lista de blogs que recebem tratamento VIP das marcas. Recentemente, a maioria delas começou a apostar na influência dessas "especialistas comuns" junto aos consumidores para aumentar suas vendas. "Eu recebo o produto para testar. O que gosto entra para o blog. O resto, mando de volta e nem menciono. Só falo do que compraria", afirma.
De olho nas milhares de leitoras dos blogs brasileiras, a Tracta, linha de maquiagem da Pharmaervas, convidou recentemente 12 delas para criar cores de batom que tivessem a ver com sua personalidade e que levariam seu nome. Uma delas, nude, leva o nome da maquiadora Fê Guedes, que assina o "É Linda". "Eu sabia que queria nude desde sempre porque perguntei para minhas leitoras que cor de batom elas tinham vontade de ter a um preço acessível". A linha está à venda apenas pela internet e cada batom custa, em média, R$ 15.
