Veterinários e pessoas que lidam com pets são boas fontes de histórias divertidas. Afinal, recebem todos os dias donos de animais dos mais variados jeitos. E assim como os pais de crianças mais zelosos e preocupados, os donos de bichinhos têm desejos, manias e mimos que podem parecer estranhos a quem vê de fora. Mas não aos profissionais do mundo pet, que lidam com os casos mais bizarros, curiosos e inusitados todos os dias.
Para a veterinária Márcia Scharth, 55 anos, os animais estão cada vez mais parecidos com os humanos. ;Inclusive, alguns donos dão nome e sobrenome ao pet e reclamam se o chamamos de animal;, conta. Segundo ela, os proprietários passaram a tratar o bicho como um filho e investem em tudo o que uma criança teria acesso ; roupinhas, perfume, sapatos, carrinhos, brinquedos e, contra recomendação veterinária, até sorvete e sanduíches. ;Os animais estão tão humanizados que alguns até assimilam a doença do dono. Já atendi um caso de um cãozinho que teve um tumor cerebral dois meses depois que seu dono foi diagnosticado. Casos de diabetes em proprietários e animais também são muito comuns, mesmo com alimentação diferenciada;, explica Márcia.
O adestrador e fotógrafo Lucas von Glehn Duty, 25 anos, também convive com cães, donos e manias. Ele explica que o tipo de dono mais comum é aquele que trata o animal como bicho de pelúcia ; ignora os exercícios que devem fazer para adestrar o pet e o enche de mimos. ;Esse tipo de dono se esquece da natureza do animal e o trata como se fosse uma pessoa. Acho que é um jeito de suprir a falta de crianças em volta. Mas isso não faz nada bem para o pet. Ele pode se achar semelhante aos donos e esquecer o seu lugar na casa;, explica o adestrador. Como Lucas também é fotógrafo, às vezes, é contratado para fazer uma sessão de fotos dos pets. Ele afirma que, normalmente, são aquelas pessoas que acreditam que o cão seja um animal de pelúcia que fecham o pacote.
A relação dos animais com os pet shops também é curiosa. A veterinária conta que um de seus pacientes mora perto da clínica e, toda vez que sai para passear, vai puxando o dono até a loja e não sossega enquanto não encontra o funcionário que dá banho nele semanalmente. ;Ele chega, faz uma festa e só depois pode continuar o passeio;, conta Márcia. Outro cãozinho já sabe o que deve fazer assim que entra no pet shop. Desce as escadas sozinho, abre a porta da casinha, entra e aguarda pacientemente sua hora.
Márcia Scharth já atendeu muitos casos de animais que engoliram o que não deviam. Meias, vitaminas, remédios para insônia e pregadores de roupa estão na lista de objetos bizarros que estavam dando sopa e foram rapidamente devorados. ;Uma das situações mais tensas foi quando um gato engoliu uma linha de costura. Tivemos que puxar com muito cuidado, pois estava no intestino e, esticada, poderia cortar partes do órgão;, lembra.
Um caso interessante que Lucas já atendeu foi o de uma pessoa muito insegura. Com a proximidade do fim do ano, ela ficou deprimida e não queria por nada largar o pet do colo. ;Imagina no ano-novo, com aquele tanto de fogos de artifício estourando e o cachorro, assustado com a barulheira, não podia correr nem se esconder?;, indaga. O adestrador conta que, nessa situação, preso, a tendência é que o pet fique ainda mais traumatizado com os fogos, já que vai associar a proteção do dono ao perigo.
A veterinária Letícia Figueiredo, 36 anos, já passou por poucas e boas na clínica veterinária onde trabalha. ;O que tem de gente que aparece aqui com um pombo, passarinho ou gato machucado que encontrou na rua e acha que nós temos que cuidar de graça...;, conta. Ao explicar que deve ser paga uma consulta, os bons samaritanos ficam indignados e se recusam a gastar dinheiro com um animal que não é deles.
A história mais interessante que Letícia se lembra é de quando chegou um cão totalmente elétrico ao consultório. ;Parecia que tinham ligado o bichinho na tomada, estava muito doido;, lembra a veterinária. A dica para o diagnóstico do cão foi simples: a dona encontrou seu pote de remédios para emagrecer no chão, aberto. O pet estava hipertérmico ; estado pior do que uma febre ; e a equipe veterinária teve que colocá-lo dentro de um tanque, debaixo de água fria, para abaixar a temperatura. ;Ele estava enlouquecido. Não dava mais tempo de fazer uma lavagem no estômago e o cachorro teve que ficar em observação para que fossem excluídos problemas cardíacos decorrentes do remédio;, explica Letícia. Mesmo com a correria, tudo acabou bem.
Letícia Figueiredo já atendeu um cão que, misteriosamente, se acidentava com frequência. Os donos, preocupados, levavam o pet para a clínica. ;Ele chegava aqui esfolado, com umas feridas fundas, parecia que tinham enfiado pregos compridos nele;, conta. Quando a veterinária foi investigar o motivo das feridas, descobriu que o cão de grande porte morava perto do lago e próximo a uma reserva florestal. E lá, perto da casa, morava uma capivara. Ou seja, tentando estabelecer território, os dois brigavam e o cachorro acabava levando a pior.
Nas férias, Letícia costumava hospedar cães em sua casa. Até que um dia, durante a madrugada, recebeu um telefonema do dono de um casal de cockers. ;Achei que tinha acontecido alguma coisa séria, mas o proprietário estava com saudade dos pets e queria falar com eles pelo telefone.; A veterinária teve que colocar o fone perto dos animais enquanto o dono conversava com eles.
Até festa de 18 anos já foi organizada na clínica de Letícia. Um poodle atingiu a maioridade e a veterinária, com a ajuda dos donos, resolveu organizar uma festa de aniversário. Alugaram mesas, encheram balões e não faltaram comidas gostosas para os donos e os cães. ;Cada mesa tinha um potinho com chocolate e biscoito para cães, eles também eram parte da festa;, explica Letícia. Além dos amigos dos donos, foram convidados todos os pets mais idosos para fazer parte das comemorações.
Mesmo com as situações tensas, a vida de quem lida com animais todos os dias é gratificante. Não faltam emoções, adrenalina, risadas e histórias para contar.
Agradecimentos:
A Bela e a Fera
CriaPet